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Publicado em: 11/05/2006
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Biotecnologia: uma alternativa eficiente para obter mudas de flores

Vilma Homero

 

No que depender do microempresário João Paulo Aguilar, o estado do Rio de Janeiro será bem mais florido. E poderá também contar com boa oferta de mudas de fruteiras de clima temperado. Floricultor de Nova Friburgo, ele conseguiu trocar a importação de matrizes por uma alternativa bem mais conveniente e barata: a biotecnologia. Que lhe permitiu não só triplicar a produção de mudas, como ampliar a variedade de espécies. Além de cáspias, copos de leite coloridos e gérberas, ele também cultiva batata inglesa, morango, amora preta, framboesa e mirtilo. E começa até a planejar outra experiência inovadora: produzir batatas-semente por hidroponia.

 

Empresa abrigada na incubadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a Meristem de João Paulo usa as instalações do Instituto Politécnico do Estado do Rio de Janeiro (IPRJ) e conta com o apoio tecnológico do Laboratório de Micropropagação e Transformação de Plantas (LabMit), no campus regional da universidade, em Friburgo. Mas foi com o aporte de recursos do programa Rio Inovação, da FAPERJ, que ele conseguiu adquirir equipamento e assim ampliar a produção. Das quatro a cinco mil mudas que produzia em 2003, pôde passar, com o apoio da fundação, para cerca de 14 mil por mês, dependendo da demanda. Com diversas vantagens: pela biotecnologia, além de brotarem e crescerem mais rápido, as plantas são uniformes, mais resistentes a pragas e geneticamente idênticas à matriz.

 

Apesar da formação em Zootecnia, com especialização em cultivo de tecidos vegetais, desde o final da década de 1980, João Paulo se dedica à produção de flores com sua família. Seu terreno tem 136 hectares, ou o equivalente a um Aterro do Flamengo. “A diferença é que estamos em morro, e 85% são área de preservação ambiental”, explica. Com isso, sua área de produção, na verdade, são duas: uma com 3.600m2, e outras com 2.300m2, em dois sítios em Vargem Alta. É de lá que ele tira as mudas que atenderão seus clientes regulares. “Cada um deles compra uma média de seis a sete mil plantas”, explica. Isso, para João Paulo, significa que se até agora não teve retorno financeiro, conseguiu qualificação e retorno do material adquirido.

 

Houve outros benefícios. Há quatro meses, João Paulo certificou 130 matrizes de três espécies diferentes, o que quer dizer que suas plantas passaram por testes no Laboratório de Fitopatologia da UFRRJ, que lhes atestaram a qualidade diferenciada. “Isso também me abriu caminho para uma vasta ampliação de mercado e pode ser a marca de uma inversão de posições: de antigo importador, estou passando a exportador, uma vez que estamos negociando e temos planos para daqui a algum tempo vender mudas para países da América do Sul e Central”, conta. 

 

Essas 130 matrizes certificadas lhe garantem em um mês 450 novas mudas, já que cada uma delas, a cada 28 dias em média, fornece de quatro a cinco pequenos brotos que são cortados, ou repicados, para dar origem a outras plantas. E cada uma dessas novas mudas, por sua vez, reproduz mais brotos, numa multiplicação que, durante algum tempo, segue em progressão geométrica. Tudo isso significa 1.200 mudas de cada espécie em cerca de dois meses.

 

É produção maciça em espaço físico reduzidíssimo. No laboratório, bastam sete estantes, cada uma delas com sete prateleiras, para acomodar tudo. Porque cada prateleira abriga 54 tubos de ensaio, com cinco plantas em cada um deles. Cada planta, ou parte dela, passou pela devida assepsia e seus tecidos foram introduzidos em tubos de ensaio estéreis, com gel nutritivo e reguladores de crescimento, necessários ao estabelecimento, proliferação e desenvolvimento de brotos.

 

Dos tubos de ensaio, elas saem para ser repicadas. Ou seja, seus brotos, ou pequenos pedaços de tecido vegetal, são cortados e transferidos para vidros também estéreis com gel nutritivo e igualmente preparados com reguladores de crescimento e luz artificial controlada. É onde elas criam raízes e crescem isentas de pragas e prontas a serem aclimatadas (adaptação ao cultivo ex-vitro), colocadas em estufas para mais tarde saírem para o cultivo em campo.

 

A campo, as diferenças entre cultivo tradicional e de mudas micropropagadas se acentuam. Cada muda de gérbera, por exemplo, floresce e dá 32 hastes no primeiro ano, em vez das 20 a 22 habituais. A cáspia produz o triplo de maços em vez do que normalmente dá cada pé. Atualmente, das 1.000 a 1.500 caixas de gérbera que os consumidores do Rio adquirem por semana, 60 vêm dos sítios de João Paulo. “Com o auxílio da micropropagação, estou planejando chegar a 10% do consumo semanal do carioca em muito breve”, anima-se.

 

Tudo isso também significa uma expressiva redução de custos, principalmente por eliminar a importação de matrizes. “Além de pagarmos em dólar, entre US$ 1 e US$ 1,50 por planta, ainda tínhamos que contar com a concorrência dos grandes compradores, o que não só interferia no preço como na própria compra, já que eles sempre têm preferência”, explica.

 

Foi para mudar esse panorama que, anos atrás, o microempresário começou a buscar alternativas, como a biotecnologia vegetal e sua técnica de micropropagação, também chamada de cultivo in vitro ou clonagem vegetal. Depois de algumas tentativas frustradas, ele conseguiu, em 2000, o auxílio da Pesagro-Rio para dar início a suas experiências de micropropagar plantas ornamentais. “Cada planta é um experimento diferente, que exige procedimentos diferentes, em termos das substâncias utilizadas, dos tempos para cada etapa etc”, diz.

 

Com a saída de sua orientadora Ana Cristina Portugal da instituição, João Paulo terminou também procurando outros laboratórios. Em 2002, conseguiu que seu projeto fosse incluído na incubadora da Uerj, onde está até hoje. Em 2004, seu Produção de mudas de olerícolas e ornamentais pela técnica de cultura de tecidos foi aprovado pelo programa Rio Inovação I.

 

Ao adotar a micropropagação, outro aspecto foi considerado: o método permite um rígido controle de qualidade do produto final. Se, depois de algum tempo, as flores começam a baixar de produção, enfraquecer ou a ser menos resistentes a algum tipo de praga, basta cortar o mal pela raiz. Literalmente. “Tiramos um tufo, um broto do centro da planta o ápice ou meristema, que é uma parte que está em contínua multiplicação e de onde saem os brotos e levamos para o laboratório, onde começamos novamente todo o ciclo de propagação, como se se tratasse de uma nova planta”, explica João Paulo.

 

Isso também vale para seus clientes. Qualquer produtor que tenha adquirido mudas da Meristem e encontre problemas no cultivo pode recorrer à empresa para resolvê-los. “Para nós, esse retorno é importante. Se houver dificuldades, nós temos como buscar ajuda nos laboratórios. Sempre que conversamos com nossos clientes, levantamos esse e outros argumentos para levá-los a comprar de empresas do próprio estado em vez de importar. Nosso objetivo é não só o de ampliar a produção fluminense, mas também de atuar como parceiro na difusão da tecnologia desenvolvida aqui e com isso diminuir o espaço entre o setor acadêmico e a atual demanda do setor produtivo. Hoje, estamos introduzindo novas variedades e ajudando a desenvolver um cultivo empreendedor-cooperativista no Rio”, diz João Paulo.

 

A única espécie em que ele ainda não teve um resultado satisfatório foi com a micropropagação de batata inglesa. “Foi por falta de condições climáticas ideais e excesso de chuvas. Estamos refazendo as matrizes”, explica. Problema que pode ser resolvido de outra forma. Há pouco, João Paulo recebeu convite de um cliente, antigo plantador de alfaces hidropônicas, para compor uma parceria e tentar cultivar a batata pelo mesmo processo: hidroponia.

 

“Aproveitaríamos inicialmente parte das instalações que ele já tem disponíveis, uma estufa com 140m2, e as mudas que produzimos no laboratório.” Como uma batata-semente pode gerar vários tubérculos e o espaço da estufa tem capacidade para dar entre quatro e cinco toneladas de batatas-sementes/ ano para cultivo, pelas contas de João Paulo, o resultado será promissor.

 

“Dará para tirar mais ou menos 250 caixas/ano. É o produto em que precisamos concentrar nossos esforços, porque também é o que tem mercado certo. Atualmente, as batatas consumidas no Rio vêm de Minas, São Paulo e Paraná. Se conseguirmos produzir aqui batatas-semente de qualidade, poderemos oferecê-las a nossos agricultores que, em vez de importar de outros estados, poderão comprar produtos certificados”, explica o microempresário, que também é membro da Associação de Floricultores do Estado do Rio de Janeiro (Aflorj) desde 2002 um ano depois de sua fundação.

 

Quando sair a primeira produção certificada de batatas-semente hidropônicas do estado, no segundo semestre desse ano, João Paulo espera que sua própria experiência sirva como vitrine para futuros novos clientes.  Sua idéia é formar pequenos grupos produtores para abastecer parte do estado. “O Rio de Janeiro pode muito bem tornar-se auto-suficiente, ou ficar perto disso, na produção de flores e olerícolas. É tudo o que nós, pesquisadores e empresários do estado, desejamos: aliar tanto o conhecimento gerado na academia para a produção de bens e riquezas em nosso estado, quanto incorporar a ciência em nossa vida.”

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