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Publicado em: 15/12/2005
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Estudo da Coppe avalia programas educativos para o trânsito

Paul Jürgens

imagem do site Trânsito ComVidaA violência do trânsito no Brasil coloca o país no topo de estatísticas que vêm assumindo a dimensão de uma tragédia social. O tema tem sido debatido por especialistas e técnicos que defendem uma ação mais efetiva das autoridades a fim de reverter esse quadro. A professora Marilita Gnecco de Camargo Braga, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe (UFRJ), acredita que é preciso estimular uma profunda reflexão sobre o comportamento de todos os atores envolvidos nessa ‘guerra do trânsito’ nas grandes cidades para ajudar a formar um sentido de cidadania que contribua para mudar esse quadro. A pesquisa de Marilita, premiada no mês de novembro pela Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (ANPET), tem o apoio da FAPERJ através do programa Cientistas do Nosso Estado.


O estudo realizado na Coppe promete levar uma importante contribuição para o avanço dos estudos sobre um assunto que hoje preocupa autoridades no mundo todo. O estudo é centrado na criação de uma metodologia para avaliar o impacto na população infanto-juvenil dos programas de educação para o trânsito. “É preciso formar massa crítica em crianças e adolescentes que possam, mais tarde, pressionar as autoridades e exigir um tratamento mais humano e mais efetivo para a questão”, defende a professora, que é vice-diretora da Coppe.

Para a pesquisadora, a prática pedagógica adotada na educação para o trânsito, tanto nacionalmente como internacionalmente, pode ser agrupada em duas abordagens. A primeira trabalha com a idéia de redução do número e da gravidade dos acidentes por meio do ensino das regras de trânsito, abordando ainda aspectos como a adaptação à tecnologia do automóvel e o treinamento de habilidades que possam proteger os motoristas, pedestres e ciclistas do perigo nas vias. Já a segunda procura reduzir os riscos presentes nas vias, questionando a forma predominante de circulação de veículos, do uso de carros particulares e que, em última análise deve contribuir para uma mudança de normas sociais e estilos de vida da sociedade. “Defendemos que a segunda abordagem é a mais adequada, pois é preciso incluir práticas que incentivem a reflexão e o questionamento dos alunos com relação à opressão e à desigualdade que se manifestam também no trânsito, bem como uma formação ética”, diz Marilita.

A idéia de realizar o estudo surgiu a partir do tema da tese de Doutorado do atual Coordenador Regional de Regulamentação Viária da Secretaria Municipal Transportes do Rio de Janeiro, Eloir de Oliveira Faria. Importante colaborador de Marilita, Eloir havia entrevistado 400 crianças para reunir os dados sobre a percepção desse segmento com relação aos riscos presentes no trânsito, necessários à defesa de sua tese. De posse dessas informações, em 2001 os dois passaram a trabalhar no desenvolvimento de uma ferramenta educativa e de um instrumental que pudesse avaliar a eficácia de programas educativos para o trânsito.

Fundamentados na pesquisa com os estudantes e em algumas das idéias do pedagogo Paulo Freire, Marilita e Eloir acreditam que é preciso sensibilizar e estimular a solidariedade entre os diferentes atores para se criar as condições de mudança na atitude de todos os envolvidos no tráfego urbano principalmente. “O trânsito é um sistema social e não criticamos a idéia de mostrar os riscos para as crianças. É preciso, no entanto, trabalhar para desmistificar a idéia de ganhadores e perdedores nesse embate que assistimos diariamente pelas ruas”, diz Gnecco.

Marilita coordenou uma equipe responsável por elaborar uma ferramenta pedagógica, o Portal que ficou pronto no final de 2002, também com o apoio da FAPERJ. Em 2006, o portal terá uma aplicação prática nas escolas com o teste da metodologia de avaliação ora em desenvolvimento. No portal, além de contar com um banco de dados sobre o assunto, professores e alunos têm à sua disposição filmes e histórias em quadrinhos que simulam situações do dia-a-dia no trânsito. “São situações em que grupos de alunos assumem papéis diferentes, como o do pedestre, do motorista ou do ciclista, reagindo segundo situações que lhes são apresentadas”, explica Eloir.

A entrada em vigor do atual Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em janeiro de 1998, colaborou para diminuir a triste realidade das estatísticas brasileiras sobre os acidentes de trânsito. O número de pessoas residentes no Rio de Janeiro que morreu no trânsito caiu de 1.359 no ano anterior à implantação do CTB (1997) para 875 no ano de 1999. A partir de então, a quantidade de mortos no trânsito vem aumentando ano a ano, tendo alcançado 995 em 2002. “O afrouxamento da fiscalização nos últimos anos, a volta da cultura da impunidade, o questionamento do CTB pela justiça e anistias periódicas aos infratores podem ser relacionados como alguns dos motivos que vêm contribuindo para o aumento gradativo do número de casos novamente”, lamenta Eloir.

A publicação de artigos sobre o assunto por parte dos dois pesquisadores já começa a colher os louros do sucesso. No mês de novembro, o artigo Avaliar programas educativos para o trânsito não é medir a redução de acidentes ou de exposição ao risco de acidentes ficou entre os 10 estudos premiados de um total de 159 artigos apresentados no XIX Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (ANPET), realizado em Recife.

Sobre o apoio da FAPERJ à sua pesquisa, Marilita elogia a disposição da Fundação em fomentar estudos nessa área de pesquisa. “A instituição reconhece que este é um problema brasileiro que exige atenção e a necessidade de que tenhamos um instrumental capaz de influir positivamente para minimizar esse problema”, diz. “Os recursos disponibilizados pela Fundação permitiram, por exemplo, a contratação de técnicos em informática e pedagogos, recursos humanos indispensáveis para a elaboração do Portal e da metodologia de avaliação. Para Eloir, o apoio da FAPERJ veio num momento particularmente favorável: “Prefeituras de diversas regiões do país estão se preparando para instituir práticas pedagógicas, e a Coppe, com o apoio da Fundação, terá uma importante contribuição a dar nessa matéria”, completa Eloir.

Segundo o pesquisador, os municípios brasileiros só agora começam a se mobilizar para o cumprimento de uma importante cláusula do CTB: a obrigatoriedade da educação para o trânsito nas escolas públicas e particulares em todos os níveis, do pré-escolar ao 3 grau. Ao lembrar que tanto no país como no exterior ainda não há uma metodologia consolidada de avaliação sobre o impacto dos programas educativos voltados para o trânsito, Marilita afirma que o Rio de Janeiro pode sair na frente ao ganhar, ao término do projeto, uma importante ferramenta a partir da consolidação do trabalho que, ao lado de Eloir, vem realizando na Coppe. Os primeiros resultados, no entanto, só poderão ser sentidos dentro de mais alguns anos.

Com o ano de 2006 batendo à porta – quando terá início a aplicação efetiva da metodologia nas escolas – o Rio poderá, quem sabe, começar a sonhar com o dia em que o pedestre compreenderá que, como cidadão, possui os mesmos direitos que o motorista, e que este, ao ceder a passagem para um pedestre, não deve ficar zangado caso não ganhe um agradecimento como reconhecimento por sua atitude.
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