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Publicado em: 09/12/2005
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O povo na TV: de espectador a ator nas cerimônias

Marina Lemle

Sambódromo lotadoO que seria do Carnaval carioca sem o povo a colorir as arquibancadas do sambódromo? O que seria da festa do pentacampeonato sem a vibração dos milhões de brasileiros a louvar seus atletas em cortejos nas principais capitais? O que seria da memória de Tancredo Neves sem o séqüito de cidadãos enfileirados em seu velório, representando toda a comoção nacional? E será que o movimento “Diretas Já” teria tido sucesso sem sua repercussão em rede nacional?

 

A visão do público televisivo como um conjunto de meros espectadores passivos, manipulados por um poder midiático invisível, está distante da realidade, segundo a professora Marialva Barbosa, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF. Contemplada pelo edital Cientistas do Nosso Estado, Marialva lidera o projeto “As Cerimônias Festivas da Televisão, A Memória do Público e as Visissitudes do Tempo”, em que promove uma reflexão sobre a correlação entre a história da mídia e os gestos do público. A abordagem de Marialva mostra que não é só a mídia que faz a cabeça do público - o público também traça os caminhos da mídia.

 

Um exemplo da influência do poder do público sobre a mídia é a própria construção do sambódromo, projetado de forma que tanto o desfile quanto as arquibancadas ganhassem destaque nas transmissões. Outro exemplo, segundo Marialva, foi o enterro do presidente Tancredo Neves, onde o cortejo fúnebre, com as ruas lotadas e as pessoas amontoadas até sobre árvores para homenagear o líder político, tornou-se a parte mais importante da notícia. “Eventos assim mostram que o público também é ator”, explica a pesquisadora.

 

O projeto insere-se no trabalho do Grupo de Pesquisa Mídia, Memória e História, apoiado pelo CNPq, que conta com a participação de pesquisadores da UFF e da UFRJ. O grupo dedica-se à pesquisa das marcas históricas da mídia da cidade do Rio de Janeiro.

 

Cortejo a SennaDesde 2002, Marialva e sua equipe estudam as cerimônias da televisão brasileira, com foco em quatro eventos: a chegada do homem à lua, as chamadas “mortes midiáticas”, em especial as de Tancredo Neves e Ayrton Senna, acontecimentos esportivos, como a Copa do Mundo, e o Carnaval - estes dois últimos classificados como cerimônias festivas.

 

A pesquisa pretende analisar, ainda, a questão das cerimônias da televisão brasileira na relação memória e tempo. O espectro maior do estudo engloba os anos 1970/1980, procurando estabelecer um nexo para a história da televisão e da comunicação na cidade do Rio de Janeiro, construída nessas duas décadas a partir dos gestos do público diante das transmissões e as significações que produziram.

 

“O objetivo central é identificar os espectadores das cerimônias veiculadas pela televisão, os papéis que estas lhe sugerem e a forma como aceitam ou recusam esses papéis. Esses acontecimentos criam públicos vastos, heterogêneos, mas que ganham homogeneidade por participarem do mesmo ritual comemorativo. Através das reações do público, é possível devendar o seu rosto”, resume Marialva.

 

Diretas já - revista VejaA metodologia é científica: primeiro, descontextualiza-se a própria cerimônia, isolando-a da notícia e privilegiando-a em relação a ela. Assim, o noticiário perde parte de sua importância, restando somente a narrativa do evento. “Quando o Jornal Nacional relata, resumidamente, a conquista de um campeonato ou a festa do carnaval, a televisão já mostrou a cena durante seu ato celebratório. É como se existisse uma outra realidade governada pela interrupção do tempo, colocando todos os espectadores em igualdade de posição: são personagens daquele evento-cerimônia e entre eles existe um profundo sentimento de comunidade”, explica. A hipótese da pesquisa é que a constituição de acontecimentos midiáticos como cerimônias audiovisuais estabelece uma nova relação com o público, à medida em que ele passa a fazer parte do ritual televisivo.

 

De acordo com a professora, esse movimento teórico-conceitual existe há algumas décadas, mas no Brasil ainda não foi devidamente estudado. “As cerimônias criadas pela televisão brasileira são um capítulo inexplorado”, afirma.

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