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Publicado em: 04/08/2005
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Rede informal de pesquisa impulsiona estudo de sambaquis

Paul Jürgens


Na mais povoada região do território brasileiro, a faixa litorânea, alguns sítios de grande importância arqueológica passam despercebidos da maioria da população. Testemunhos de uma cultura anterior à chegada dos europeus na América, sambaquis – elevações constituídas de uma mistura de conchas, instrumentos de pedras lascadas e polidas, ossos, esqueletos humanos, restos de fogueiras etc – atraem, no entanto, cada vez mais a atenção de arqueólogos, interessados em desvendar os mistérios que cercam a construção desses marcos. Entre esses especialistas está a pesquisadora Maria Dulce Barcellos Gaspar de Oliveira, um dos 300 cientistas fluminenses de renome contemplado pelo programa Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ.

Professora do Museu Nacional/UFRJ, Gaspar de Oliveira vem pesquisando as origens dos sambaquis desde a década de 70. Hoje, o país conta com uma rede de pesquisa – organizada de modo informal – voltada para o tema. “A partir de meados da década de 90 que essa rede vem se estruturando, com uma troca de informações inovadoras nesse campo”, diz Gaspar de Oliveira. O círculo de entidades que vêm colaborando para a rede inclui, além do Museu Nacional, a USP, as universidades federais da Bahia e do Tocantis e ainda a Universidade do Arizona, nos Estados Unidos – instituição na qual Gaspar de Oliveira fez o seu pós-doutorado.

No Brasil, alguns sambaquis podem alcançar até 20 metros de altura por 400 de comprimento, e os locais que apresentam maior interesse para os estudiosos são a Região dos Lagos, no Estado do Rio de Janeiro; o litoral Sul de Santa Catarina e a região norte da Bahia.

Um dos objetivos da pesquisa de Gaspar de Oliveira é tentar caracterizar o modo de vida dos sambaquieiros nessas regiões. “Estamos investigando se as regras sociais que orientavam a construção dos sambaquis eram as mesmas nessas três regiões”, adianta. No Museu Nacional/UFRJ, o grupo de pesquisa de Gaspar de Oliveira conta com dois doutorandos, um mestre e sete estagiários. “É essencial o trabalho de equipe dada a abundância de materiais arqueológicos, a extensão e complexidades desses dos sítios”, conta. 

Até a década de 90 do século passado, os sambaquis eram pouco conhecidos fora do Brasil. “Nos últimos anos, eles vêm despertando um crescente interesse a partir da comprovação de que alguns deles foram construídos a partir da repetição de um ritual funerário”, explica a pesquisadora. “Tudo indica que o que movia os sambaqueiros na construção dessas elevações era a obsessão por seus mortos”, diz Gaspar de Oliveira.


Estudo de sambaquis ganhou novos horizontes no final do século passado
Na segunda metade do século 20, a arqueologia brasileira foi marcada pelos princípios propostos pela pesquisadora americana Betty Meggers, pioneira da arqueologia amazônica. Os estudos sobre os sambaquis, de caráter descritivo, tinham como referência o determinismo ambiental, que buscava entender as mudanças observadas no registro arqueológico a partir de alterações ocorridas no ambiente, especialmente as variações do nível do mar. A tese vigente era de que povos indígenas viveriam sobre os sambaquis e os sítios arqueológicos eram o resultado do acúmulo de lixo. Só recentemente ganhou força a tese de que pelo menos alguns desses marcos presentes em nosso litoral são o resultado de rituais de povos que procuravam homenagear seus mortos.

“Até o anos 50 e 60 do século passado, era comum a utilização de material retirado de sambaquis na construção de casas e na pavimentação de estradas”, conta a pesquisadora. Como um expressivo número de sambaquis se encontra em áreas valorizadas, próximas ao litoral e, portanto, de interesse turístico, os arqueólogos vêm tendo um desafio a mais para garantir a preservação desses locais. “Não queremos trabalhar contra o desenvolvimento do país, seu progresso. Mas não podemos admitir que esses testemunhos sejam removidos para dar lugar a casas, ruas ou o que for”, diz Gaspar de Oliveira. “Está claro que há diversas maneiras de tratar esses vestígios arqueológicos, por exemplo, incorporando-os à nova paisagem que se forma à sua volta”, argumenta.

Gaspar de Oliveira, uma das 34 selecionadas na área de Ciência Humanas e Sociais Aplicadas do programa Cientista do Nosso Estado de 2002, afirma que o apoio da FAPERJ é fundamental para garantir o avanço da pesquisa. “Esse programa não impõe um planejamento prévio de destinação dos recursos pelo pesquisador”, explica. “Ele atende ao dinamismo que a pesquisa de sambaquis exige, com a eventual contratação de serviços, como um levantamento topográfico de uma determinada região”, constata. Ela conta que parte dos recursos são empregados, regularmente, na limpeza de microscópios e lupas.

No início do mês de setembro, em Campo Grande (MS), a pesquisadora participará da 13 Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, no qual fará um balanço do andamento das pesquisas. Em 2006, ela desembarca em Lisboa para apresentar o trabalho em congresso naquele país. Paralelamente, Gaspar de Oliveira está reunindo toda a sua experiência em arqueologia no livro A Aventura  Arqueológica, que deve ser publicado pela editora Jorge Zahar em data a ser definida.
 
A formação de novos pesquisadores na área da arqueologia ganha, a partir de 2006, um novo programa criado para capacitar os interessados no assunto. Em março do ano que vem, o Museu Nacional inaugura a primeira pós-graduação em Arqueologia no estado. Até o momento, apenas os estado de São Paulo e Pernambuco dispõem de instituições dotadas de especialização em nível de pós-graduação nessa área de pesquisa. Assim, até o início da próxima década, uma nova geração de pesquisadores promete dar à arqueologia nacional uma visibilidade internacional. Até lá, parte dos mistérios que cercam a construção dos sambaquis deverá estar esclarecida com a ajuda da rede de pesquisa que Gaspar de Oliveira ajudou a construir nos últimos anos.

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