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Publicado em: 09/06/2005
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Crocodilo pré-histórico é apresentado na UFRJ

Mario Nicoll

 

Em 1990, o estudante da 6 série Clésio Felício, então com 13 anos, não imaginava que o dente serrilhado que acabara de encontrar por acaso numa estrada em obras seria a chave para desvendar importantes aspectos da vida pré-histórica no interior paulista. O achado possibilitou uma ampla pesquisa apoiada pela FAPERJ, cujos resultados foram anunciados na quarta-feira, dia 8 de junho, por pesquisadores da UFRJ.

 

O dente pertenceu ao Baurusuchus salgadoensis, uma espécie de crocodilomorfo até então desconhecida e que viveu há 90 milhões de anos onde hoje é o município de General Salgado, localizado na Bacia Bauru, noroeste paulista. A escavação paleontológica levou à descoberta do maior jazigo fossilífero já encontrado no Brasil: onze esqueletos em excelente estado de preservação, que impressionaram a comunidade científica brasileira e atraíram a atenção da imprensa.

 

O B. salgadoensis foi a estrela dos principais telejornais no dia 8. Esteve presente na TV Globo, Globonews, Rede TV, Band, SBT e Record. Agências internacionais como Reuters, AP, APTV e France Press enviaram imagens e texto para diversos países. No dia 9, os mais importantes jornais brasileiros dedicaram amplo espaço ao assunto, que foi registrado pelo Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, Extra, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo, entre outros.

 

“O material é uma preciosidade. Encontramos algumas raridades como pedras estomacais em alguns dos exemplares. Essas pedras facilitavam a digestão”, explicou o paleontólogo Ismar de Souza Carvalho, do Departamento de Geologia da UFRJ, que assinou a pesquisa com Antônio Celso de Arruda Campos, do Museu de Paleontologia de Monte Alto (SP), e com o biólogo Pedro Henrique Nobre, também da UFRJ.

 

A qualidade e a quantidade de fósseis dão aos cientistas condições de estudos variados como uma descrição do animal muito próxima da realidade; informações sobre seus hábitos; ambiente; rotas de migração e o reconhecimento de catástrofes ecológicas ocorridas no período cretáceo.

 


A anatomia de um predador

A pesquisa revelou que o Baurusuchus salgadoensis chegava a medir três metros e pesar 400 quilos. Sua anatomia é típica de um predador. “O crânio estreito e alto e as mandíbulas com dentes bastante afiados são as pistas de que era um animal carnívoro”, disse Pedro Henrique. 

 

As patas compridas, os olhos no alto da cabeça e as narinas frontais indicam que se tratava de um animal terrestre, que, diferentemente dos crocodilos atuais, percorria grandes distâncias. Segundo o biólogo, há indícios de que B. Salgadoensis caçava em bandos.

 

Para proteger os olhos da radiação, a nova espécie apresenta uma protuberância sobre as órbitas oculares. Essa característica e a estrutura nasal diferenciam o B. salgadoensis dos demais Baurusuchus.

 

Assembléia de morte

Inicialmente, os fósseis sugeriram aos cientistas algumas indagações, cujas respostas contribuem para o conhecimento das modificações ecológicas que ocorreram na Terra primitiva. Qual a causa da mortandade em larga escala? Como e por que esqueletos completos se preservaram tão bem?  As respostas estão nas condições climáticas da São Paulo pré-histórica: o oeste do estado era ocupado por amplos rios e lagos temporários. O clima, muito mais quente que o atual, era seco e o ambiente árido.

 

De acordo com os estudos, durante a seca, os B. Salgadoensis se agrupavam em pequenas lagoas para esperar a próxima chuva – hábito comum aos crocodilos de hoje. Quando a lagoa secava, os animais se enterravam na lama para manter a umidade do corpo. Caso as chuvas não voltassem, eles acabavam morrendo desidratados.

 

A chegada das chuvas depois de um longo período de seca era uma grande catástrofe que provocava alagamentos gigantescos e rápidos. “A chegada de novas chuvas torrenciais trazia detritos e materiais, que acabaram possibilitando a fossilização da assembléia de morte quase intacta”,  explicou Ismar.

                                      

 

Jangada de pedra

A importância paleogeográfica do B. Salgadoensis fez com que o estudo fosse escolhido para a reportagem de capa da revista Gondwana Research, publicação internacional voltada para pesquisas relacionadas ao antigo continente Gondwana. O achado ajuda a entender as rotas migratórias de animais e a posição dos oceanos e continentes na época. Há 90 milhões de anos, América do Sul, África, Índia, Antártica e Austrália estavam juntas numa grande massa de terra – o antigo continente Gondwana, que começava a se romper e a se separar.

 

Animais semelhantes ao B. salgadoensis foram encontrados no Paquistão. Para alcançar regiões da Ásia,  eles teriam viajado junto com uma porção de terra que se deslocou da América do Sul em direção ao que hoje é a Índia. “Isso me faz lembrar o escritor português José Saramago. Eles teriam de dispersado numa jangada de pedra”, disse Ismar numa referência ao romance Jangada de Pedra, de 1986.

  

É um bezerro?

O fato de paleontólogos de instituições fluminenses serem freqüentemente procurados para coordenar o estudo de eventuais descobertas de fósseis nas diversas regiões do Brasil coloca o Rio de Janeiro como referência na área da paleontologia brasileira. Os fósseis do B. salgadoensis só chegaram às mãos da equipe de Ismar porque, há 15 anos, o estudante que coletou o primeiro dente procurou imediatamente seu professor de Ciências, João Tadeu Arruda, para saber do que se tratava.

 

Os dois foram até o local para pesquisar e não havia mais nada. Foi então que o aluno disse ao professor que tinha visto ossos do outro lado da cerca. “Atravessamos a cerca e dei com novos restos. O aluno me disse: ‘Acho que são ossos de um bezerrinho’. Respondi: ‘Não são não, meu filho. São fósseis’”, relatou emocionado o professor Tadeu, que saiu em busca de pesquisadores que o ajudassem a revelar o segredo daqueles ossos.

 

Há sete anos, Tadeu Arruda chegou ao Museu de Paleontologia de Monte Alto, que também fica na Bacia Bauru. “Quando vimos do que se tratava, convidamos imediatamente a equipe do professor Ismar para coordenar o trabalho”, disse o diretor do museu, Antônio Celso de Arruda Campos.

 

O estudo teve apoio da FAPERJ, Instituto Virtual de Paleontologia, CNPq, UFRJ, Prefeitura Municipal de Monte Alto e Museu de Paleontologia de Monte Alto.

 

Galeria de imagens do Baurusuchus salgadoensis

 

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