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Publicado em: 09/06/2005
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A evolução paleoambiental no litoral do RJ

Paul Jürgens

Mais um aliado se soma à luta pela preservação das baías de Ilha Grande e Sepetiba, no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro. Um estudo conduzido pelo pesquisador Renato Campello Cordeiro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), investiga as variações climáticas, oceânicas e antrópicas (provocadas pelo homem) ocorridas ao longo dos últimos 200 anos na chamada Costa Verde. A pesquisa, que no futuro poderá ajudar a subsidiar políticas públicas para a região na área ambiental, tem o apoio da FAPERJ por meio do edital Primeiros Projetos.

“Na baía de Sepetiba já se constata há alguns anos uma deposição de metais associada à presença do homem na região”, diz Cordeiro, que é professor do Departamento de Geoquímica da UFF, onde obteve o título de doutor em 2000. Ele conta com colaboradores de peso, como o cientista belga Alphonse Kelecom, do Departamento de Biologia Marinha, e do indiano Sambasiva Rao Pachineelam, do mesmo departamento de Cordeiro. Em 2004, Pachineelam foi contemplado pela FAPERJ no edital Cientistas do Nosso Estado.

Antes de voltar suas atenções para a área sul do estado, Cordeiro já estudava as mudanças paleoclimáticas e paleoambientais de outra região geográfica brasileira: a Amazônia. Ali, seu foco principal eram os sistemas lacustres da maior floresta tropical do planeta. Nesses estudos, ele percorreu localidades como Carajás, no Pará, Morro dos Seis Lagos, no alto do Rio Negro, na Amazônia, e Alta Floresta, no Mato Grosso. A pesquisa na Amazônia foi o assunto abordado por Cordeiro nas dissertações de mestrado e doutorado do pesquisador – ambas defendidas na UFF. Ele continuou pesquisando o assunto em 2002, ao ser contemplado no Profix, o muito disputado Programa Especial de Estímulo à Fixação de Doutores do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), fundação vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Outro apoio importante para garantir o prosseguimento da pesquisa foi o apoio do Institut de Recherche Pour lê Développement (IRD), da França.

O primeiro contato de Cordeiro com pesquisas na região da Costa Verde ocorreu pouco após sua chegada ao Departamento de Geociências da UFF. “Ao entrar no departamento como professor-visitante, já havia um projeto departamental sobre os sistemas da Ilha Grande e Sepetiba com o apoio do Pronex [Programa de Apoio a Núcleos de Excelência do CNPq]”, conta Cordeiro.

Trabalho exige esforço físico e mergulhos para recolher sedimentos

Para obter a cronologia dos eventos ambientais na região sul do litoral do estado, o pesquisador e sua equipe embarcam, com freqüência, em balsa especialmente equipada para o trabalho no mar, projetada pelo coordenador do laboratório de eletromecânica Antonio Romannazzi. “Em algumas ocasiões, somos obrigados a descer a profundidades de até 10 metros para acompanhar o trabalho do equipamento que recolhe as colunas de sedimento”, conta. “Nem sempre essa é uma tarefa fácil, e, naturalmente, faz parte de uma série de atividades que envolvem riscos para os pesquisadores que são obrigados a fazer um pouco de tudo” completa.

Cordeiro defende a criação de instrumentos que garantam uma maior segurança aos cientistas que atuam em áreas e atividades de risco, como no mergulho. “Seria interessante que as instituições de pesquisa e de fomento criassem uma modalidade de seguro que cobrisse as eventuais perdas e danos, materiais e físicos, durante a execução dessas tarefas ditas de risco”, diz.

Um dos equipamentos utilizados nesse gênero de trabalho é o vibro-testemunhador. Em muitos casos, no entanto, o recolhimento dos ‘testemunhos’ é feito de forma manual, com a utilização de tubos de acrílico que são enterrados no leito marinho pelos pesquisadores.

Mas é com o auxílio dos chamados ‘testemunhos longos’ que Cordeiro e sua equipe conseguem observar de forma mais acurada as principais alterações paleoambientais ocorridas na região. “Nessas colunas de desenvolvimento longo, utilizamos a técnica da datação que emprega o carbono 14 e que nos permite avaliar mudanças em períodos de tempo acima de 200 anos”, explica. Cordeiro. “Já os ‘testemunhos curtos’, em que usamos datação com chumbo 210, referem-se aos últimos 50 anos”.

Baseada nessas sondagens de sedimentos, a reconstituição paleoambiental permitirá recriar o cenário paleoclimático, paleoceanografico e paleoecológico da região, buscando identificar a variabilidade dos processos ambientais em relação as suas componentes naturais e antrópicas. No início do próximo semestre, uma das orientandas na pós-graduação do Departamento de Geociências da UFF, Tatiana Santos Cunha, irá defender tese de mestrado sobre o assunto.

Com mais de 20 artigos publicados, Cordeiro, graduado em Biologia, acredita que a pesquisa no país tem dado passos importantes nos últimos anos. “A pesquisa nacional evoluiu muito de uns tempos para cá e a FAPERJ tem acompanhado e percebido esses avanços”, comenta. O pesquisador carioca, contudo, defende o estreitamento da relação entre pesquisadores e instituições de fomento à pesquisa. “É preciso o apoio à pesquisa de forma a garantir mais autonomia ao pesquisador sobre a forma como empregar recursos disponibilizados”, diz. Quando o assunto é o aparelhamento das instituições e a infra-estrutura à disposição dos cientistas, Cordeiro mantém uma opinião positiva: “Estamos bem aparelhados no departamento, onde dispomos dos recursos necessários para fazer o trabalho. Nossa maior dificuldade hoje é o espaço físico para guardar o material utilizado na rotina de pesquisa”, diz.

As pesquisas de Cordeiro e sua equipe devem colaborar para a preservação desse que é um dos mais exuberantes e bem-preservados sistemas marinhos do litoral brasileiro. “Nosso trabalho poderá ajudar a subsidiar ações de gestão e monitoramento dos ambientes que ora estudamos, viabilizando uma exploração racional e economicamente viável dessas áreas, propícias para atividades como a pesca e o turismo”, defende. Numa época em que a exploração dos recursos ambientais do país parece avançar de forma desordenada em muitas regiões, a iniciativa da equipe de Cordeiro merece o apoio incondicional da população fluminense. A restinga da Marambaia, a histórica Paraty, a Ilha Grande e outras jóias da região agradecem.

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