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Publicado em: 20/04/2005
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Pesquisa: mais de 200 idiomas coexistem no Brasil

Paul Jürgensfoto: Vinicius Zepeda

No único país da América Latina em que o idioma predominante é o português, coexistem 180 línguas indígenas, além de cerca de outras 30 línguas de imigrantes provenientes da Europa, Ásia, Oriente Médio e até de outros países do continente americano. Os dados, do censo demográfico de 2000, mostram que somos uma nação ‘plurilíngue’. Para a maioria dos estudiosos do assunto, toda manifestação lingüística deve ser tratada como patrimônio cultural. Esta também é a opinião da pesquisadora Mônica Maria Guimarães Savedra, doutora em Lingüística pela UFRJ e que há mais de 15 anos vem se dedicando ao estudo do tema. Segundo ela, as iniciativas no âmbito de governo visando o reconhecimento da questão ainda são tímidas.

“Somos um país plurilíngüe, mas em alguns casos de contato lingüístico, como por exemplo em situações originadas no contexto da imigração e de nossas fronteiras, ignoramos esta condição e agimos como se fôssemos monolíngües”, diz a professora da PUC-Rio, que coordena um grupo de pesquisa sobre o assunto com alunos de graduação e de pós-graduação do Departamento de Letras naquela universidade. Em 2004, contemplada com auxílio do programa Primeiros Projetos, da FAPERJ, Savedra intensificou suas pesquisas sobre o ‘plurilinguismo’ nacional com o projeto Política Lingüística no Brasil e no Mercosul: O Ensino de Primeiras e Segundas Línguas em Bloco Regional - assunto da quarta reportagem da série semanal de difusão científica do Boletim da FAPERJ.

A pesquisa de Savedra tem por objetivo buscar subsídios para a formulação e a implementação de uma política lingüística no país que contemple o grande número de línguas autóctones e alóctones e as línguas de fronteira que coexistem em todo o território nacional. “É essencial a identificação dessas comunidades de contato, uma vez  que acreditamos ser  fundamental trabalhar para a preservação dessas manifestações lingüísticas, que são parte da cultura brasileira”, diz Savedra,

Embora ressalve que é preciso uma ação mais ampla por parte do governo no que toca à questão, a pesquisadora cita como exemplos positivos de intervenções atuais a intenção do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) de desenvolver projetos interdisciplinares envolvendo historiadores, antropólogos e lingüistas para discutir sobre o tema. Ela menciona ainda algumas reuniões de trabalho promovidas recentemente por parlamentares em conjunto com especialistas da área acadêmica para debater a problemática nacional da educação bilíngüe indígena - sugerida pela primeira vez de forma oficial no texto da atual Lei de Diretrizes e bases da Educação, promulgada em 20 de dezembro de 1996.
 
De enfoque sociolingüístico, o trabalho de Savedra dá continuidade ao estudo desenvolvido em sua tese de doutorado,  onde estabeleceu a diferença entre bilingüismo (condição de usuários de duas línguas) e bilingualidade (diferentes estágios de domínio lingüístico no uso destas línguas). A professora estudou distintas situações de bilingüismo com base nos diversos estágios de ‘bilingualidade’ definidos pelo uso das línguas nos seguintes ambientes comunicativos: familiar, social, escolar e profissional.

Segundo a pesquisadora, essa aquisição pode se dar de diversas formas. Alguns exemplos são as populações que vivem nas proximidades das fronteiras; a convivência com imigrantes; o contato lingüístico estabelecido por comunidades religiosas, como no caso de comunidades menonitas identificadas mais precisamente no sul do país, nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul e com estrangeiros imigrantes que chegam ao país na esteira do processo de industrialização que requer de mão-de-obra especializada, entre outros.

Em agosto, a pesquisadora embarca para a Áustria, onde será coordenadora de sessão sobre Educação Bilíngüe em Congresso Internacional de Professores de Alemão. Sua presença no congresso é um desdobramento do trabalho de colaboração que a universidade alemã de Duisburg-Essen vem fazendo com o grupo de Savedra na PUC-Rio. O interesse da universidade na pesquisa repousa no fato de que Savedra e sua equipe estão fazendo uma análise documental dos instrumentos legais sobre a política lingüística vigente em todos os países do Mercosul, enquanto a universidade alemã trata dos instrumentos legais dos países que compõem a União Européia.

O bilingüismo na região de fronteira

No início do mês de abril, uma dissertação de mestrado defendida no âmbito de seu grupo de pesquisa da PUC-Rio enfocou o contato lingüístico estabelecido na única região de fronteira francófona do país: Amapá e Guiana francesa. “Com os dados obtidos com este trabalho, irei ao Amapá em breve com o propósito de realizar uma nova pesquisa de campo, desta vez com delimitação de foco nas línguas utilizadas nos ambientes profissionais oficiais das duas cidades da fronteira: Macapá e Saint George”, diz.

Como informação relevante para a situação lingüística de contato da região, a pesquisadora  relata que o governo francês atravessou a fronteira da Guiana francesa com o Brasil para garantir o ensino do idioma francês nas escolas públicas do lado brasileiro. “Este fato é prova inquestionável da atenção que o assunto merece  no estabelecimento de políticas lingüísticas para o nosso país”, defende Mônica. Mas as pesquisas de campo na região de fronteira se referem a apenas um dos três tipos distintos de comunidades lingüísticas investigados sob a supervisão da pesquisa pelo grupo da PUC-Rio. Os outros são as comunidades de línguas alóctones (de imigrantes) e os contextos escolares de ensino de línguas estrangeiras.

No que toca a pesquisa de línguas alóctones, dois contextos distintos de imigração estão sendo considerados: o de Resende (RJ) e Curitiba (PR), onde escolas de língua francesa foram instaladas após a abertura de fábricas da Peugeot-Citröen; e o de Blumenau (SC), cidade de imigração alemã, que numa ação conjunta entre a prefeitura local, o estado de Santa Catarina e o Ipol (Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Lingüística) instituiu, através do projeto ‘A língua de nossos avós’, o ensino do alemão em escolas públicas da  região.

Segundo a pesquisadora, sendo membro do Mercosul, é essencial para o Brasil a formulação e implementação de políticas lingüísticas no âmbito das iniciativas empreendidas por este bloco regional. Embora Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai tenham manifestado logo cedo uma preocupação com o assunto ao criar o GTPL (Grupo de Trabalho em Política Lingüística) dentro do Grupo de Trabalho do Mercosul Educacional, o trabalho pouco avançou. “Desde 2000 que seus integrantes não se reúnem”, lamenta Savedra.

Língua global x língua glocal

Um dos temas incontornáveis para quem se debruça sobre questões lingüísticas nos dias de hoje é o processo de globalização, que vem suscitando debates sobre o uso de diferentes idiomas na troca de informações entre as várias regiões do globo. Nesse processo, o inglês, como ‘língua franca’ já estabelecida antes mesmo do início da disseminação da internet, mantém sua presença dominante sobre as demais línguas. “Esse avanço vem sendo tema de estudos desenvolvidos numa perspectiva interdisciplinar, ou seja, utilizando dados obtidos por pesquisas em antropologia, história e lingüística. Estes estudos enfocam o uso da língua inglesa influenciado, ‘contaminado’, por características sócio-culturais da comunidade onde ele, o idioma, é utilizado. Com o crescimento deste fenômeno, o inglês até então estudado como língua global, passou a ser considerado um idioma ‘glocal’”, explica Savedra. O termo ‘glocal’– que sugere uma mistura de global e local – está cada vez mais presente em estudos e pesquisas da área. Como exemplos de situações lingüísticas ‘glocais’, a pesquisadora cita o‘spanglish’, o ‘denglish’ e o ‘franglais’ – todas referentes ao uso do inglês por comunidades onde o inglês não é a língua materna. Um exemplo mais familiar desse conceito é o ‘portunhol’, no qual os brasileiros falam o espanhol com as características lingüísticas e culturais do português. “Quem sabe isto venha a estabelecer o pidgin (língua que resulta do contato entre grupos de idiomas diferentes) do século XXI?”, se pergunta Mônica.

O auxílio da FAPERJ, segundo a pesquisadora, permitiu consolidar o grupo de pesquisa que ela dirige, composto atualmente por uma doutoranda, quatro mestrandas e três alunos de graduação com bolsas de iniciação científica, que se dedicam com afinco ao tema. O trabalho de Mônica Savedra está inserido na linha de pesquisa intitulada Interfaces lingüísticas e culturais: tradução, ensino e bilinguismo do programa de pós-graduação em Letras da PUC-Rio, vinculado ao projeto Línguas em contato: bilingüismo e bilingualidade, que é coordenado pelo professor Jürgen Heye.

“Este grupo já produziu três teses de mestrado sobre o assunto e uma qualificação de doutorado”, diz com satisfação Savedra, lembrando que desde 2004  a pesquisa está  cadastrada nos grupos de pesquisa do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. “Com a chegada dos recursos, podemos, finalmente, equipar o laboratório com computador de mesa, impressora, computador portátil, câmeras fotográfica e de vídeo, além de dispor de verbas para visitar os locais escolhidos para a pesquisa de campo”, diz Savedra. A pesquisadora espera que os resultados do estudo abram caminho e chancelem sua candidatura ao próximo edital Cientistas do Nosso Estado, da FAPERJ - programa que apóia um seleto grupo de pesquisadores seniores nas áreas científica e tecnológica no estado do Rio.
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