Fotos de Vinicius Zepeda
Ilustração de Ariel Milani Martine
Mario Nicoll
Com apoio da FAPERJ, pesquisadores anunciaram nesta quarta-feira, 16 de fevereiro, uma das mais importantes descobertas na pesquisa recente na área da paleontologia brasileira. Trata-se do fóssil de um crocodilomorfo do período Cretáceo brasileiro, extinto há cerca de 70 milhões de anos - parente distante dos crocodilos e jacarés atuais. Uberabasuchus terrificus foi encontrado nas imediações do bairro de Peirópolis, em Uberaba, Minas Gerais, em setembro de 2000, com cerca de 70% de seu esqueleto preservado.
O fóssil foi achado pela equipe do paleontólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro, do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price, que convidou dois paleontólogos do Rio de Janeiro para desenvolverem os estudos em conjunto: Ismar de Souza Carvalho e Leonardo Avilla, ambos do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ismar de Souza Carvalho foi duas vezes contemplado pelo Programa Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ.
“Meu parâmetro foi buscar os melhores parceiros. Ismar é referência para a paleontologia brasileira, um dos maiores conhecedores dos crocodilomorfos do período Cretáceo. O Avilla é o maior especialista que conheço em análise filogenética”, elogiou Luiz Carlos.
Os pesquisadores estimam que o animal tenha atingido 2,5 metros de comprimento e 300 quilos de peso. Suas características dentárias indicam que era carnívoro. “Ele tem os dentes pontiagudos na frente, feitos para matar a presa; e arredondados atrás, ideais para quebrar e triturar ossos”, explicou Leonardo.
Os longos membros locomotores sugerem que animal era ágil e capaz de se deslocar com facilidade por longas distâncias em terra firme, o que é confirmado pela localização das narinas. “As narinas frontais são indícios de que esse animal não era aquático. Os crocodilos aquáticos têm as narinas em cima”, comparou Souza Carvalho, coordenador da pesquisa.
Devido a essas características, presume-se que o animal tenha sido um dos maiores predadores do período Cretáceo, razão pela qual o fóssil foi batizado cientificamente como Uberabasuchus terrificus – o terrível crocodilo de Uberaba. O animal é membro da família Peirosauridae, que faz de um grupo mais abrangente: os crocodilomorfos.
Acredita-se que o animal tenha sido sepultado repentinamente por uma avalanche, o que teria permitido o alto grau de preservação. “Esse achado, nos possibilitou reorganizar a fauna de crocodilos do Gondwana. Estamos propondo uma divisão inédita, com 12 novos grupos de crocodilomorfos”, anima-se Leonardo Avilla.
As massas terrestres do Gondwana
Os Peirosauridae – nome em homenagem ao bairro de Peirópolis – são também encontrados na Patagônia, Argentina e na Ilha de Madagascar, sudeste da África. Os estudos evolutivos corroboram a idéia de que, em um passado distante, a América do Sul e Madagascar tinham ligação terrestre pela Antártica. “A migração desses animais se daria pela Antártica, que há 70 milhões de anos possuía climas mais amenos, com florestas sub-tropicais exuberantes”, defende Ismar.
Estas inferências sobre a configuração das massas terrestres que compunham o antigo continente Gondwana durante o período Cretáceo fizeram com que os pesquisadores publicassem os primeiros estudos na revista científica japonesa Gondwana Research em dezembro de 2004.
Os estudos tiveram o apoio da FAPERJ, FAPEMIG, Prefeitura Municipal de Uberaba, CNPq, empresa Expansion Transmission, UFRJ, Fundação Municipal de Ensino Superior de Uberaba e Companhia Telefônica Brasil Central (CTBC).
O anúncio da descoberta
A importância do achado despertou interesse na comunidade científica. “Fico muito feliz de ver meus alunos me superarem. Esse estudo é um marco para a paleontologia brasileira”, disse Antonieta Rodrigues, coordenadora do Instituto Virtual de Paleontologia/FAPERJ no evento de apresentação do fóssil à imprensa.
Não só cientistas se mobilizaram pelo achado. O fóssil do crânio – trazido de Uberaba especialmente para o anúncio da descoberta – e duas reconstituições do animal foram incessantemente fotografados e filmados pelos principais veículos de comunicação do país.
Grandes jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil, O Dia e Extra – de São Paulo – Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo – e de Minas Gerais – O Estado de Minas – dedicaram espaços privilegiados ao Uberabasuchus. Também foram veiculadas matérias na Rede Brasil, TV Globo, Band, TV Record e Globonews. A descoberta ainda ganhou espaço nas rádios Eldorado e CBN e em agências internacionais de notícias como Reuters e Efe.
Depois da coletiva para a imprensa, o fóssil do crânio voltou para Uberaba, onde poderá ser visto junto com o resto dos ossos. O Museu do Dinossauro preparou um espaço especial para expor o tesouro e uma reconstituição do animal num cenário que reproduz seu habitat. O trabalho de reconstituição e as ilustrações feitas pelo artista plástico Ariel Milani Martine também podem ser vistos no Rio, no Departamento de Geologia da UFRJ.
Para ver mais fotos da coletiva clique aqui
Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes