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Publicado em: 29/04/2021
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Terapias de imunização passiva contra a Covid-19 são tema de webinário realizado pela ABC

Débora Motta

A partir da esq., no alto, em sentido horário:
Dimas Covas, Jerson Lima, Fernando
Goldbaum e Fábio Klamt
(Foto: Divulgação)

Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que nesta quinta-feira, 28 de abril deve ultrapassar a marca de 400 mil mortes oficialmente registradas apenas no Brasil, cientistas de todo o mundo têm se mobilizado na busca de soluções para enfrentar a doença causada pelo vírus, a Covid-19. O tratamento com imunização passiva, empregado nos casos de pacientes já acometidos pelo vírus, especialmente aqueles que precisam de internação – diferentemente das vacinas, que atuam na prevenção, pela imunização ativa – é uma das alternativas atualmente em estudo em vários países. Na busca por terapias efetivas para combater os efeitos mais graves da doença, diversos tratamentos de imunização passiva estão sendo testados, incluindo o uso de plasma de indivíduos convalescentes de Covid-19, de anticorpos monoclonais e de produtos à base de globulina hiperimune a partir da imunização de equinos. Nesse sentido, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) realizou, nesta terça-feira, 27 de abril, o webinário “Soro hiperimune, plasma convalescente e imunoterapia para a Covid-19”, que reuniu pesquisadores de ponta para discutir essas formas terapêuticas em desenvolvimento dentro e fora do País. O webinário foi coordenado pelo presidente da ABC, Luiz Davidovich, e pelo presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, que, assim como o primeiro, também é membro da ABC.

Abrindo o debate, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Fábio Klamt falou sobre o uso do plasma convalescente para o tratamento da Covid-19. Ele explicou o método de doação do plasma do sangue de pacientes recuperados, ao qual ele mesmo aderiu, de forma pioneira. Após contrair Covid-19 e ficar internado, em abril de 2020, Klamt, de 44 anos, se tornou o doador de plasma para o primeiro paciente a receber esse tipo de tratamento em terras gaúchas, Tarcísio Giongo, de 63 anos, que ficou internado em UTI, sob os cuidados de respiração ventilatória mecânica, e recebeu alta. “Fiquei hiperimune logo após a minha recuperação por Covid-19 e a minha bolsa de plasma foi a primeira utilizada para transfusão por esse método no Rio Grande do Sul, no Hospital Virvi Ramos”, contou. “Hoje sabemos, por diversos estudos, que nos estágios mais avançados da doença, quando ocorre pneumonia e hiperinflamação, os benefícios dessa terapia com plasma são mais limitados. O benefício máximo dessa terapêutica ocorre no primeiro estágio da doença, o estágio viral, para impedir que o vírus infecte as células do paciente. O plasma doado deve ser hiperimune também, e nesse caso pode reduzir as chances de mortalidade em torno de 50%”, explicou, citando pesquisa publicada no American Journal of Pathology. Ele participa de um consórcio de pesquisadores no Rio Grande do Sul que vai investigar os efeitos da transfusão do plasma de pessoas imunizadas pela vacinação para pacientes com sintomas iniciais de Covid-19.

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, que também é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, compartilhou a experiência da produção e desenvolvimento do soro anti-SARS-Cov-2 pelo instituto, que produz soros diversos há 120 anos. “Atualmente o Butantan tem 12 soros em produção, para combater venenos, toxinas e o antirrábico, e vamos incorporar este 13º soro, para Covid, que começamos a desenvolver desde março do ano passado. Já temos mais de quatro mil frascos disponíveis e estamos no início da fase de estudos clínicos, aprovada em março de 2021 pela Anvisa”, relatou. “Já testamos esse soro contra as variantes P1 e P2 e ele funciona muito bem. Em experimentos realizados em laboratório com hamsters, observamos um efeito protetor na evolução da Covid na análise histopatológica do tecido pulmonar, prevenindo a formação de lesões nos pulmões”, completou. Covas contou que o Butantan também vem realizando estudos com o uso do plasma hiperimune, o que ocorreu durante a crise de Covid na cidade de Araraquara (SP), por meio de um programa em parceria com a Hemo Rede de São Paulo e com a Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. Na linha de imunização ativa, o instituto trabalha na produção da vacina Coronavac e, na noite desta quarta-feira, 28 de abril, anunciou o início da produção do primeiro lote da vacina Butanvac, que ainda seguirá para testes clínicos.

Publicado no repositório bioRxiv, gráfico explica o processo de fabricação do
soro em d
esenvolvimento no estado do Rio de Janeiro, envolvendo uma
parceria entre UFRJ, IVB, Fiocruz e ID'Or (Imagem: Reprodução)

O professor da Universidade Nacional de San Martín, Fernando Goldbaum, cofundador e diretor científico da Inmunova, empresa de biotecnologia argentina fundada por pesquisadores ligados ao Instituto Leloir, falou sobre as etapas de desenvolvimento do CoviFab, o soro hiperimune anti-SARS-CoV-2 da empresa. “Em julho de 2020, demos início à produção do soro e seguimos para as fases de testes clínicos até dezembro. Hoje estamos trabalhando com 150 cavalos, produzindo de 12 a 15 mil tratamentos mensais. Ao todo, já foram produzidos mais de 40 mil soros para serem usados em seres humanos”, disse Goldbaum. Os resultados foram publicados, na edição do mês de abril do periódico EClinicalMedicine, que integra o grupo The Lancet. “Pacientes tratados com o soro receberam, em média, alta em 14 dias, dois dias antes do que o grupo placebo, que não recebeu o soro e teve alta em 16 dias. Já o índice de mortalidade observado foi de 11,4% no grupo placebo, frente a 6,7% no grupo que recebeu o CoviFab”, complementou. O soro argentino demonstrou reduzir a mortalidade em 45%, a necessidade de hospitalização em cuidados intensivos em 24% e a necessidade de ventilação mecânica em pacientes com doença em 36%, em casos moderados a graves. Cerca de 1670 pacientes receberam, até então, esse tratamento, em diferentes províncias da Argentina.

Já o presidente da FAPERJ, Jerson Lima, que é professor titular e pesquisador no Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBqM/UFRJ), destacou a experiência de produção do soro anti-SARS-CoV-2 no estado do Rio de Janeiro. O projeto foi estabelecido a partir de uma parceria entre a UFRJ, o Instituto Vital Brazil (IVB), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, logo após o início da pandemia, em março de 2020, e conta com o apoio da FAPERJ, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). “Utilizamos a proteína S inteira, produzida em células de mamíferos, como antígeno para a induzir a produção do soro, a partir da aplicação desse antígeno em cavalos no IVB, em Niterói”, resumiu Lima. A produção da proteína S ocorre no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC), ligado ao Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia(Coppe/UFRJ), coordenado pela professora Leda Castilho. Essa proteína é a chave para a formulação de diversas vacinas antiCovid. 

O soro fluminense, obtido a partir do sangue de cavalos, possui anticorpos neutralizantes cerca de 150 vezes mais potentes do que aqueles naturalmente encontrados no plasma sanguíneo de pacientes que já foram infectados pelo vírus e estão se recuperando. Ele consiste em um fragmento de glóbula purificada, já produzido em condições de Boas Práticas de Fabricação (BPF), está resguardado por patente e encontra-se na fase final de aprovação da Anvisa, para então seguir para a fase de testes clínicos. “Nossa aposta para esse estudo clínico é utilizar o soro em pacientes internados, mas ainda no início da infecção. Por enquanto, em testes realizados com camundongos, conseguimos resgatar atividades neutralizantes do vírus com menos de três dias depois de aplicar a injeção. Testamos também a ação do soro para as variantes P1e P2 do novo coronavírus e ele apresentou bons títulos de neutralização”, concluiu Lima.

Esse foi o 35º webinário realizado desde o início da pandemia pela ABC. O próximo encontro virtual, a ser realizado em 11 de maio, terá como tema “O legado de Ivan Izquierdo para a Neurociência da Memória”. Confira o debate na íntegra aqui 

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