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Publicado em: 11/03/2021
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Um olhar sobre os exercícios físicos em tempos de pandemia

Débora Motta

Claudio Gil: ele foi um dos líderes do movimento
que mobilizou mais de 2 mil médicos na 'Moção
Médica em Prol da Vacina' (Foto: Divulgação)

A pandemia causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), que resultou em 270.656 mil mortes apenas no Brasil, desde março de 2020, segundo boletim do Ministério da Saúde divulgado nesta quarta, 10 de março, vem afetando a rotina de milhares de pessoas ao redor do mundo. Com o necessário isolamento social, a prática de exercícios físicos, seja em academias ou mesmo ao ar livre, tem sido desaconselhada por muitos. Fundador da Clinimex, clínica especializada em Medicina do Exercício e do Esporte, o médico Claudio Gil Soares de Araújo fala, em entrevista ao Boletim FAPERJ, sobre os desafios de se manter uma rotina saudável e ativa em tempos de pandemia. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com Especialização, Mestrado e Doutorado pela mesma universidade e com Pós-Doutorado em Fisiologia e Medicina do Exercício pela McMaster University, no Canadá, ele foi professor nos cursos de graduação e pós-graduação de Medicina e de Educação Física em diversas instituições superiores no estado do Rio de Janeiro, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Gama Filho, a Universidade Estácio de Sá (onde coordenou o curso de Especialização em Medicina do Exercício e do Esporte, de 1997 a 2009) e o Centro Universitário de Volta Redonda (Unifoa), além de ter lecionado no Mestrado da Universidade Autônoma de Guadalajara, no México.

Sócio e diretor de Pesquisa e Educação da Clínica de Medicina do Exercício (Clinimex), fundada há 27 anos e sediada em Copacabana, Araújo recebeu, ao longo de sua trajetória, apoio da FAPERJ por meio do programa Cientista do Nosso Estado. Um dos resultados do seu trabalho de pesquisa foi o desenvolvimento do Teste de Sentar-Levantar, para avaliar o nível de aptidão musculoesquelética do indivíduo, revelando as suas chances de mortalidade, e sem exigir nenhum tipo de equipamento. Também foi pesquisador 1-A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por vários anos, tendo sido destaque na mídia quando decidiu abriu mão desta bolsa, para dar oportunidade de financiamento a outra pessoa selecionada pelo programa. Recentemente, foi um dos organizadores e signatários da “Moção Médica em prol da Vacina Já”, publicada nas páginas do jornal O Globo, no final de fevereiro (confira a íntegra em: http://www.sopterj.com.br/wp-content/uploads/2021/02/Mo%C3%A7%C3%A3o-M%C3%A9dica-em-prol-da-Vacina-J%C3%A1_27Fev2021_PDF-original.pdf). O movimento reuniu a categoria médica fluminense para conclamar às autoridades por medidas para dotar o País de um plano nacional de vacinação contra a Covid-19, com celeridade e sem interrupções. Ele publicou ainda, ainda em fevereiro, o editorial Physical Activity, Exercise and Sports and Covid-19: What Really Matters, no International Journal of Cardiovascular Sciences. Tendo competido em diversos esportes na juventude e se exercitando regularmente ao longo da vida, ele se interessou pela área de Medicina Esportiva antes mesmo de começar a graduação na UFRJ, onde foi estagiário no Laboratório de Fisiologia do Exercício. O médico teve sua biografia lançada em 2006, com o título Claudio Gil em depoimento a Sheila Kaplan (Ed. Rio, 2006, Coleção Gente).

BOLETIM FAPERJ – Como as pessoas que não são atletas devem manter a rotina de exercícios físicos durante a pandemia?

Claudio Gil Soares de Araújo – Existem dois aspectos a se considerar nas recomendações para a prática de exercícios nesse momento: os índices das atuais curvas sanitárias de infecção e mortes pelo novo coronavírus; e se a pessoa já teve Covid-19 ou não. Estamos no epicentro da pandemia, com o Brasil tendo registrado 2.349 óbitos pela doença nas últimas 24 horas [em 10 de março de 2021], e esse cenário deve ficar pior nas próximas semanas. Por outro lado, o exercício, envolvendo os componentes aeróbico e anaeróbico, é um dos fatores que contribuem para uma boa aptidão física, e relaciona-se com desfechos favoráveis em Saúde. Na pandemia, é fundamental que se evite a transmissão viral e as medidas sanitárias a serem seguidas durante a prática de exercícios são três: o uso adequado de máscaras, o distanciamento físico e a higienização das mãos e das faces. Deve-se fazer exercício sempre com máscara, sozinho ou separado dos outros, ao ar livre de preferência, e longe de outras pessoas que não moram na mesma casa que o praticante da atividade física – um casal caminhando junto não há problema. É preciso lembrar que durante a prática de exercícios, respiramos de cinco a 15 vezes mais ar do que em repouso, o que torna maior a disseminação das gotículas de saliva na forma de aerossol. No mínimo deve-se manter dois metros de distância. Quanto mais distante melhor. Usar óculos, além da máscara, também ajuda a proteger. A máscara protege e tem o significado social de avisar aos outros que quem usa se importa com a transmissão do vírus e respeita o outro.  

Se uma pessoa teve Covid-19, quando pode voltar a praticar exercícios? Quais são os cuidados a tomar?

Se o paciente teve Covid-19 em sua forma mais leve, não precisou ficar internado, e dez dias depois do início da doença não tem mais sintomas, deve ouvir o seu corpo e ir voltando gradativamente. Se estiver ainda com algum sintoma, é conveniente buscar uma atenção médica qualificada antes de retomar os exercícios. Nos casos graves, há muitas vezes perda de peso, de massa muscular, respiração comprometida devido à pneumonia e uma maior necessidade de exercícios respiratórios. Há os casos de long-Covid, em que os sintomas perduram e o paciente precisa de meses para se recuperar. Assim, mesmo quem já teve Covid-19 deve manter os cuidados, pois não sabemos se há uma variante que possa contaminá-la de novo ou tornar a pessoa transmissora do vírus, ou saber se ela está devidamente imunizada, já que não ainda há estudos científicos definitivos sobre essas questões.

Qual sua avaliação sobre a realização de exercícios físicos em academias e em piscinas nesse momento atual da pandemia?

O mais recomendável, nas circunstâncias atuais, é a realização de exercícios ao ar livre. Tudo depende das condições de infraestrutura das academias, mas sabemos que ambientes fechados, com ar condicionado, possuem maior risco de contaminação. Os vestiários, por exemplo, podem ser locais de risco. Já a natação é uma modalidade com chance de contaminação baixa, pois no meio líquido, com cloro ou sal, o vírus não pode ser propagado. Mas a questão não é o risco de nadar, mas o contato com as pessoas no local da natação e mesmo no trajeto, se a pessoa vai usar ou não transporte público, se terá contato desprotegido com outras pessoas no caminho. Aparentemente a contaminação por superfície não é a mais importante, ela se dá mais pelas gotículas de saliva presentes na forma de aerossol, expelidas no ar.

Como surgiu a iniciativa de mobilizar mais de dois mil médicos de todo o estado do Rio de Janeiro para a assinatura da ‘Moção Médica em prol da Vacina Já’?

Surgiu de uma maneira informal. Postei uma mensagem sobre a pandemia em um grupo virtual de colegas médicos e isso gerou uma reação, de que era preciso fazer algo. Rapidamente, com mais quatro colegas médicos fizemos e publicamos essa moção, conseguindo a adesão total de 2.168 médicos do Estado do Rio de Janeiro. Rateamos os custos da publicação no jornal O Globo de forma totalmente autônoma. O que me pareceu muito importante é que conseguimos assinaturas de médicos de diversas instituições e visões políticas. Reunimos as maiores lideranças médicas do estado do Rio de Janeiro, entre mulheres (59% das signatárias) e homens, como o neurocirurgião Paulo Niemeyer, o médico sanitarista José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, e a médica pneumologista Margareth Dalcomo, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e de diretores de hospitais e de ex-conselheiros do Conselho Regional de Medicina. Cerca de 50 especialidades médicas foram representadas, desde a Acupuntura, Cirurgia, Pneumologia, Psiquiatria, Pediatria, Endocrinologia. Cardiologia, Geriatria até a Medicina Fetal. Diversas sociedades médicas endossaram a moção, como a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, entre outras. Todos unidos em defesa da Saúde e pela realização de uma campanha de vacinação eficaz e imediata para a Covid-19, coordenada por autoridades das esferas federal, estadual e municipal. Em 20 de fevereiro de 2021, a média móvel de sete dias para o mundo inteiro foi de 9.527 mortes. Como o Brasil tem 2,7% da população mundial, caso a nossa capacidade técnica e os recursos físicos e materiais em saúde fossem similares à média mundial – e são, na verdade, melhores! –, seria esperado que o Brasil estivesse registrando uma média móvel, em sete dias, de 257 óbitos, e não as mais de mil mortes que tragicamente temos registrado em cada um dos últimos 30 dias. São mais de 800 mortes diárias que poderiam ser evitadas. Isso não pode continuar. A vacinação é o único “tratamento precoce” comprovadamente eficaz, aliada à manutenção de medidas de distanciamento pessoal.

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