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Publicado em: 22/01/2021
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Pesquisadores da Uerj avaliam a diversidade de espécies das Amphipoda na costa fluminense

Débora Motta

Desenho do Atlantiphoxus wajapi, nova espécie descrita que vive
em águas profundas das costas do RJ e SP
(Imagem: reprodução) 

Presentes em ambientes marinhos e de água doce, os Amphipoda (no latim, ou “anfípodes”, na forma aportuguesada) são classificados, na Biologia, como uma ordem que abrange mais de 10 mil espécies descritas de crustáceos, todas sem carapaça e com o corpo lateralmente comprimido. Um exemplo mais popular é o pulgão-da-praia (Talitrus saltator), pequeno animal comum nas praias mais preservadas do Oceano Atlântico, que costuma pular e se esconder na areia. Para conhecer melhor e ajudar a preservar essas espécies, um projeto desenvolvido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) propõe estudar a diversidade de Amphipoda ao longo da costa do estado do Rio de Janeiro. O estudo é coordenado pelo biólogo zoólogo André Senna, bolsista do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, desde 2019, e professor da Faculdade de Formação de Professores da Uerj.

“O objetivo do projeto é investigar a biodiversidade dos Amphipoda na costa fluminense, a partir de parâmetros da taxonomia e morfológicos, e com o uso integrado de ferramentas moleculares”, explicou Senna, que coordena o Laboratório de Carcinologia e atua como curador da Coleção de Crustacea da Uerj, onde ministra disciplinas nas áreas de Zoologia de Invertebrados, Fisiologia de Invertebrados e Zoogeografia. “É muito importante identificar essa biodiversidade, porque não tem como preservar aquilo que não se conhece. Hoje, com a poluição no mar, muitas espécies são extintas sem nem termos conhecimento que elas existiram”, justificou.

O trabalho de campo, quando são realizadas expedições para coletar espécies na natureza, é uma peça fundamental no estudo. Para isso, o pesquisador costuma visitar sistematicamente locais como a Região dos Lagos (Búzios, Cabo Frio, Arraial do Cabo, as ilhas Maricás, que ficam na frente de Itaipuaçu), a praia de Itaipu, em Niterói, e, no Rio, o arquipélago das Cagarras, a praia da Urca e as Ilhas Tijucas (situado na altura da Barra), além da Baía da Ilha Grande, no sul do estado. “Faz parte do projeto realizar a coleta do material e, assim, partir para a análise e registro de espécies novas. Interessante é que existem espécies iguais em diferentes locais, e às vezes elas estão distribuídas no Brasil inteiro”, contextualizou. E foi além: “Será que uma população de Amphipoda que vive ao redor das Ilhas Cagarras, por exemplo, é da mesma espécie que tem dentro da baía de Guanabara? Se é a mesma espécie, será que existe algum fluxo gênico entre elas, isto é, se ocorrem ou ocorreram cruzamentos entre esses indivíduos? Essas são algumas questões que trabalhamos nos nossos estudos.”

André Senna e alunas após coleta de Amphipoda, no Ceads,
centro de estudos da Uerj na Ilha Grande (Foto: Divulgação)

Entre as novas espécies dessa ordem descritas por Senna e pesquisadores da Uerj estão a Hyalella montana, encontrada no Parque Municipal de Itatiaia, na água doce. Ela foi a primeira espécie de Hyalella identificada a mais de 2.200 metros de altitude no Brasil, conforme artigo publicado pelo grupo, em 2017, na revista Zootaxa, intitulado  A new species of Hyalella (Crustacea: Amphipoda: Hyalellidae) from Itatiaia National Park, Brazil: an epigean freshwater amphipod with troglobiotic traits at 2,200 meters of altitude, assinado por Stella Rodrigues, André Senna, Adriana Quadra e Alessandra de Pádua Bueno.

Outra espécie descrita nesse contexto foi a Atlantiphoxus wajapi, um Amphipoda que vive em águas profundas, entre 224 e 500 metros de profundidade, no litoral dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. A descoberta resultou na publicação, em 2020, de um artigo na revista científica espanhola Scientia Marina, de autoria de Luiz Andrade e André Senna, intitulado Atlantiphoxus wajapi n. gen., n. sp. (Crustacea: Amphipoda: Phoxocephalidae), a new deep-sea amphipod from the southwestern Atlantic.

Uma característica que acentua a necessidade de preservação ambiental dos Amphipoda é o seu modo de reprodução. Pertencentes à superordem Peracarida, elas se reproduzem a partir de um desenvolvimento direto, ou seja, não apresentam estágios larvais. Os seus ovos ficam agrupados em uma bolsa no ventre das fêmeas, como os cangurus, até atingirem a idade de um jovem, totalmente formado. Isso quer dizer que se uma fêmea morre, provavelmente muitos dos seus descendentes também. “Seus ovos são encubados em um ‘marsúpio’ ventral formado por lamelas chamadas oostegitos, onde ficam os juvenis até alcançarem tamanho suficiente para a independência. Por isso, muitas espécies de anfípodes apresentam uma dispersão mais limitada e, consequentemente, diversas famílias têm altos níveis de endemismo, ou seja, elas concentram seu ciclo de vida apenas naquela região, o que as torna mais suscetíveis, caso sejam extintas ali”, detalhou o biólogo.

O pesquisador destaca que os Amphipoda podem ser considerados um “termômetro” natural para medir o nível de preservação ambiental de determinado ecossistema. “A costa brasileira é gigantesca, com uma grande variação latitudinal. Nela, ocorre uma mudança muito grande entre os ambientes naturais. Mesmo na costa fluminense, há uma composição diferente da biodiversidade entre a parte mais ao Norte, a Região dos Lagos, e a Baía da Ilha Grande, ao Sul, cada uma delas com espécies endêmicas, somente encontradas ali. Precisamos estudar esse grande laboratório natural e entender melhor as suas particularidades, para elaborar estratégias eficazes de conservação do meio ambiente”, concluiu.

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