O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Imunologista faz panorama sobre tratamentos e cuidados em relação ao coronavírus
Publicado em: 23/04/2020 | Atualizado em: 24/04/2020
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Imunologista faz panorama sobre tratamentos e cuidados em relação ao coronavírus

Juliana Passos

Segundo João Viola, ainda não há nenhum remédio ou tratamento que tenha
mostrado eficiência e passado por todos os testes
(Imagem: Peter Shreiber)

Ao longo de mais de 30 anos, o médico e pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (Inca) João Viola vêm se dedicando a estudos relacionados à imunidade. Ele tem voltado suas pesquisas para os linfócitos T, células que coordenam as respostas de defesa do nosso organismo e sua relação com a genética. Presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI) no período de 2014-2015, o cientista, que conversou, por telefone, com a redação do Boletim FAPERJ, concordou em traçar um panorama das ações e respostas alcançadas até agora em relação ao combate ao coronavírus, ao mesmo tempo em que faz recomendações de cuidados e explica conceitos da área para esclarecer de que forma o corpo humano usualmente responde a infecções.

Viola está confiante sobre o desfecho da pandemia e a razão para isso seriam as pesquisas realizadas em diversas partes do mundo e pelo grande conhecimento gerado em tão pouco tempo. Mas reforça que é preciso respeitar o tempo da ciência e lembra da necessidade do cumprimento dos protocolos. “Até o momento, não temos nenhum tratamento efetivo que tenha sido comprovado cientificamente. Temos algumas boas perspectivas, alguns antivirais em níveis experimentais que estão dando bons resultados. Já há vacinas em testes clínicos, e ainda assim, num cenário mais otimista, ela só estaria pronta no final do próximo ano”, diz o médico, que recebe apoio da FAPERJ para a realização de seus estudos, por meio do programa de fomento à pesquisa Cientista do Nosso Estado.

De acordo com o imunologista, outra solução que tem chamado a atenção é o uso do plasma daqueles que conseguiram se recuperar da doença, e que já está sendo testado em pacientes com quadros muito graves. Nesse caso, explica Viola, a lógica de funcionamento é entregar os mecanismos de defesa já prontos para que o organismo consiga responder à infecção. Ele explica que, de modo geral, quando nosso corpo é infectado por um agente patogênico, os primeiros a agirem são as células da defesa chamada de resposta inata, que tem uma ação rápida. Em um segundo momento, acrescenta, surge a resposta mais elaborada, coordenada pelos linfócitos, tanto T quanto B, alvo de pesquisa de Viola e que produzem citocinas, que modulam a resposta imune e imunoglobulinas, que são específicas para o combate de determinado agente infeccioso. “Enquanto a transferência de plasma age como uma imunidade passiva, a vacina desenvolve uma imunidade ativa e com ação de mais longo prazo”, explica.

“Muitas pesquisas estão sendo feitas, mas por se tratar de uma doença nova, será necessário alguns anos e investimento para compreendermos de forma mais abrangente a fisiopatologia e as melhores alternativas terapêuticas para a Covid-19”, diz Viola, que atualmente está acompanhando a resposta imune dos pacientes com câncer para o coronavírus no Inca. No entanto, segundo o pesquisador, ainda é muito cedo para ter respostas sobre os fatores que levam a diferentes capacidades de reação do organismo, tanto em pacientes com câncer, quanto a população em geral. “A própria taxa de mortalidade tem variado muito entre os países. Temos Alemanha e Coreia do Sul com 1%, de um lado, e, de outro, Itália, com 12%, e França, com 8%. E há uma porcentagem expressiva de pessoas fora dos fatores de risco, em uma faixa de 30 a 40 anos, indo a óbito. Então é possível que exista uma associação genética, e outros cofatores que ainda não conhecemos”, avalia.

O pesquisador tem observado, principalmente a partir das avaliações e relatos de casos de pacientes graves e dos óbitos, que a ocorrência de um evento chamado de “tempestade de citocinas” deverá ser objeto de muitos estudos ao longo dos próximos meses. Nesse caso, uma exacerbação da resposta do sistema imune do paciente desencadeia uma inflamação sistêmica, levando a falência múltipla de órgãos, podendo levar o paciente a óbito. “Essa resposta é observada também em outras doenças infecciosas graves, não sendo restrita à Covid-19”, diz.

João Viola: para o pesquisador, em condições normais
o corpo humano sempre opera em imunidade máxima
e alguns hábitos contribuem para a boa 
manutenção
do sistema imunológico
 (Foto: Arquivo pessoal)

De forma geral, a imunidade surge à medida que as pessoas são infectadas pelo vírus e conseguem enfrentá-lo, e, na maioria dos casos, ela é alcançada sem que nenhum sintoma se apresente. Viola ressalta que da mesma maneira que precisamos de testes para saber quem está infectado, precisamos de um segundo teste, aquele que mostra se o indivíduo desenvolveu a imunidade e é detectado a partir das imunoglobulinas presentes no corpo e que são específicas para o combate do vírus. “Na verdade, a testagem de toda a população é inviável. O que temos de ter, como fez a Coreia do Sul, é um desenho amostral bem feito, para detectar a porcentagem de infectados e imunizados”, explica o imunologista, acrescentando que só a partir do conhecimento da porcentagem de imunizados é que será possível saber o quão protegidos estamos para sair às ruas. No entanto, os testes que identificam a existência dessa imunidade ainda estão em fase de aprovação. No Brasil, o principal estudo para desenvolvimento de testes para avaliação de contágio e grau de imunidade está sendo encabeçado pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel).

O governo francês começará a flexibilizar a quarentena a partir de 11 de maio com cerca de 6% da população imunizada, de acordo com o Instituto Pasteur. Ainda que o índice seja baixo, a medida pode ser explicada pela estabilização do número de novos casos, explica Viola. “Enquanto o número de casos novos de infecção no País não estabilizar e iniciar uma queda, o isolamento social não pode ser flexibilizado, pois o número crescente de pessoas infectas em um curto período de tempo poderá levar ao colapso do sistema de saúde. Ainda não temos um cenário de queda de infecção no Brasil, devendo o isolamento ser respeitado, sendo nesse momento o único método eficaz para conter a disseminação da infecção”, diz o médico.

Viola alerta para uma provável segunda e terceira ondas de infecção que devem vir a ocorrer, significando a chegada do coronavírus em grupos que ainda não haviam sido afetados. Por último, ele esclarece que o nosso sistema imunológico já está pronto e funciona em carga máxima o tempo todo, o que impossibilita a ideia de aumentar a imunidade utilizando suplementos. “Mas devemos nos cuidar para não ter uma diminuição da nossa resposta imune. E para manter o nosso sistema imune funcionando adequadamente, devemos dar importância a uma dieta equilibrada, rica em alimentos frescos, controle do estresse, exercício físico e uma boa noite de sono”.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes