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Publicado em: 11/11/2004
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Ciência e gênero: evento para discutir problemas das latino-americanas

As mulheres enfrentam preconceito e barreiras para se impor como cientistas? As diferenças genético-evolutivas e culturais teriam impacto no desempenho delas no trabalho? Esses são alguns dos temas abordados na entrevista concedida ao Boletim da FAPERJ pela pesquisadora Márcia Barbosa, professora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e vice-coordenadora do Congresso Mulheres Latino-Americanas nas Ciências Exatas e da Terra. A conferência, que o Rio de Janeiro sedia de 17 a 19 de novembro, trará à cidade pesquisadores de diferentes países da América Latina para discutir meios de estimular uma maior participação das mulheres na ciência. O evento, apoiado pela FAPERJ, tem como coordenadora Elisa Baggio-Saitovitch, que assumiu recentemente a função de coordenadora da área de física da Fundação. A seguir, a íntegra da entrevista com Márcia Barbosa:

Boletim da FAPERJ: O que motivou a realização desse evento voltado exclusivamente para as dificuldades e problemas enfrentados pelas mulheres na comunidade científica latino-americana?

Márcia Barbosa: A participação feminina em diversos ramos de trabalho tem aumentado. Infelizmente, este aumento nas áreas científicas se dá de forma muito lenta. Tentando entender o porquê deste fenômeno, em 2002 o Working Group on Women in Physics da International Union of Pure and Applied Physics, que coordeno, realizou uma conferência internacional em Paris  sobre o tema mulheres na física.  Descobrimos que o percentual de mulheres diminui drasticamente à medida que se avança na carreira, ou seja: somos percentualmente poucas na graduação, mas somos percentualmente muito menos no topo da carreira. Este é um fenômeno global com peculiaridades regionais. Resolvemos, então, realizar um evento latino-americano para compreender as especificidades da América Latina. Mas seriam os problemas enfrentados pelas físicas tão diferentes daqueles que químicas, biólogas e matemáticas têm de enfrentar? Acreditamos que não. Neste sentido, resolvemos estender a outras áreas científicas na tentativa de compreender o que há de comum nas barreiras enfrentadas pelas mulheres nas diferentes áreas da ciência.

Boletim da FAPERJ: Pode-se dizer que uma expressiva parcela da opinião pública, na qual poderíamos incluir um significativo percentual feminino, não hesitaria em afirmar que o campo da ciência & tecnologia e as mulheres não fazem o melhor casamento. Este preconceito já está superado? 
 
Márcia Barbosa: Infelizmente não está superado. Cada uma de nós cientistas enfrenta todos os dias os preconceitos advindos do estereótipo de que mulheres não têm condições intelectuais de se tornarem cientistas, ou de que se uma mulher que se torna cientista deixa de ter direito a ter marido, família, filhos, enfim, deixa de ser mulher.

Boletim da FAPERJ: De que a forma a mídia contribui para a criação de estereótipos no que toca a presença da mulher como pesquisadora em laboratórios e centros de pesquisa?

Márcia Barbosa: A mídia mostra pesquisadores como homens de meia-idade, barbudos, mal arrumados. Isto eu chamo de um estereótipo anti-feminino. 
 
Boletim da FAPERJ: O que as Mulheres Latino-Americanas nas Ciências Exatas e da Vida têm de diferente em relação às demais pesquisadoras?

Márcia Barbosa: As pesquisadoras latino-americanas em um mundo científico globalizado têm que conviver com um duplo preconceito: por ser da América Latina e por ser mulher. Em países como o Brasil, Argentina ou México, onde os recursos para pesquisa são escassos, os parcos recursos que existem são destinados aos  homens por serem eles a controlar os comitês e agências de fomento.

Boletim da FAPERJ: Reunir as mulheres num evento como esse não seria criar uma nova forma de preconceito às avessas? 
 
Márcia Barbosa: O evento é aberto a homens que estejam preocupados com a questão da eqüidade na ciência. De uma forma geral, são excluídos de C&T todos que não seguem o estereótipo local. Esta exclusão pune mulheres, mas igualmente pune homens que não se adequem a este perfil. Na Conferência que realizamos em Paris, tivemos 15% de homens.

Boletim da FAPERJ: Como a Sra. vê o desempenho e a participação de homens e mulheres na ciência? É possível estabelecer nítidas diferenças de comportamento e atitude?

Márcia Barbosa: Um dos temas desta conferência é justamente discutir se as diferenças entre homens e mulheres são dominantemente genéticas ou se sociais. Sejam quais forem as razões, sociais ou genéticas, felizmente somos diferentes. A ciência prospera graças à diversidade de abordagens. Para realizarmos as descobertas do século 21 que serão em temas multidisciplinares só serão possíveis se tivermos a conjunção deste múltiplos perfis.

Boletim da FAPERJ: O poder político nos países latino-americanos continua fortemente concentrado em mãos de homens. Nas recentes eleições municipais, as mulheres respondem por apenas 12,65% do total de eleitos - uma alta de apenas 1,04% em relação às eleições de 2000. Seria possível traçar um paralelo entre a participação feminina na política e na ciência?

Márcia Barbosa: No Brasil, políticos têm uma imagem de agressividade incompatível com o que é esperado de uma mulher. Da mesma forma, cientistas são vistos como pessoas que se dedicam ''de corpo e alma'' ao seu trabalho o que novamente não é aceitável para uma mulher. Talvez seja esta a ligação entre os estereótipos do político e do cientista na América Latina. Em países escandinavos, por outro lado, aonde o político é um servidor do povo,  a mulher está na política, enquanto que o percentual de cientistas é extremamente baixo. Cientistas, naqueles países, são, como aqui, vistos como pessoas ''exclusivamente dedicadas ao seu
projeto ''.

Boletim da FAPERJ: Qual a importância para o Rio de Janeiro e para o país de sediar o Ciência-Mulher 2004?

Márcia Barbosa: O Brasil desempenha um papel fundamental em todos os movimentos sociais na América Latina. Sediar o evento com o aval da Academia Brasileira de Ciências e do Ministério da Ciência e Tecnologia é uma mensagem clara de que o país está pronto para liderar uma mudança no que refere a políticas de gênero em toda a América Latina. O Rio de Janeiro é especialmente receptivo a mudanças e à quebra de estereótipos. O evento de 2004 servirá como evento preparatório da Second IUPAP Conference on Women in Physics que vai ocorrer em maio de 2005 no Rio.

 

Para obter mais informações sobre a conferência, visite o site do evento.

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