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Publicado em: 05/10/2017 | Atualizado em: 12/04/2018
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Para expandir a produção de cítricos em áreas rurais fluminenses*

Débora Motta

 
O agrônomo Alcílio Vieira (Foto: Lécio Augusto Ramos)

A adoção de novos hábitos de consumo no Brasil, principalmente relacionados a um estilo de vida mais saudável, tem contribuído para incrementar a demanda dos consumidores no mercado da fruticultura. Com uma inegável vocação natural para o desenvolvimento desse segmento, o estado do Rio de Janeiro ainda se vê obrigado a importar de outros estados a maioria das frutas consumidas por cariocas e fluminenses. “O estado do Rio de Janeiro importa, anualmente, mais de R$ 1 bilhão em frutas, em geral, dos outros estados do País, gerando milhares de empregos nesses locais de origem, em vez de gerá-los em seu próprio território”, destacou o agrônomo e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Alcílio Vieira. O cálculo desse montante foi obtido por meio de pesquisa realizada no Centro Estadual de Pesquisa em Desenvolvimento Rural Sustentável (Ceprus), da Pesagro-Rio.

As frutas cítricas representam bem a subutilização do potencial da agricultura fluminense. De acordo com dados da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Regional, Abastecimento e Pesca, em maio de 2014, a laranja pera foi a segunda fruta nacional mais comercializada na Central de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (Ceasa-RJ) – tradicional centro comercial localizado no bairro de Irajá, na Zona Norte da cidade –, sendo a maior parte da oferta proveniente do estado de São Paulo. “A maioria das frutas cítricas consumidas no estado do Rio de Janeiro vem de São Paulo, com destaque para a laranja pera. Outras variedades, como a laranja lima e a bahia, importantes pelo valor nutricional e como possibilidade comercial, também ocupam pouco espaço na produção fluminense”, justificou Vieira. “A produção cítrica fluminense vem decaindo progressivamente desde a década de 1990 e, como consequência, vem reduzindo os empregos em toda a cadeia produtiva no estado”, alertou.

Com o objetivo de testar a adaptação de novas variedades em solo fluminense, ele vem pesquisando desde 2006 alternativas para incrementar a produção regional de frutas cítricas – incluindo laranjas, limões, limas ácidas, tangerinas e os híbridos conhecidos como tangores (mistura de tangerina com laranja) e tangelos (tangerina com pomelo). O estudo foi contemplado em edital lançado pela FAPERJ, intitulado Apoio à Pesquisa Agropecuária no Estado do Rio de Janeiro. “A finalidade do projeto é criar uma expertise técnica regional de modo a oferecer a possibilidade de recomendar aos agricultores o cultivo das melhores variedades de frutas cítricas, que tenham comportamento agronômico e comercial superior ao das fruteiras plantadas hoje”, resumiu Vieira. Segundo relata, nos últimos anos dois novos projetos foram aprovados e financiados pela FAPERJ, o que proporcionou a introdução de novos materiais genéticos de citros em relação as regiões estudadas.

O agrônomo destaca que se trata de um trabalho de longa duração, e que é preciso pesquisar muitos tipos de frutas cítricas, que só têm uma colheita anual, antes de saber quais serão as variedades que podem se tornar uma aposta recomendável para as futuras safras no estado. “Os resultados são muito locais. Se uma variedade de laranja se adapta bem em uma determinada região fluminense, não quer dizer que ela vá se tornar bem adaptada e lucrativa se for plantada em outra região do estado. Cada região tem condições naturais, de clima e de solo, próprias. Por isso é fundamental investir em pesquisas continuadas”, explicou o agrônomo, integrante do grupo de pesquisadores do Ceprus.

Atualmente, ele coordena a realização de testes de variedades cítricas em propriedades de pequenos e médios produtores rurais – escolhidos em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Rio). Elas estão distribuídas em duas regiões fluminenses: a Região Serrana e as Baixadas Litorâneas. “Ambas as regiões têm um bom potencial agrícola e proximidade em relação à Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o que pode ser um diferencial para o transporte e a comercialização dos frutos”, disse Vieira.

Como parte do projeto, o cultivo da tangor Ortanique
IAC-2, da Coleção de Teresópolis  (Foto: Alcilio Vieira)

Ele notou que essas regiões, como outras do estado, também precisam diversificar a produção agrícola. “Praticamente, os cultivos nessas regiões se concentram apenas nas laranjas seleta e folha murcha, e na tangerina ponkan”, informou. A opção pela fruticultura também pode ser interessante para a preservação do meio ambiente. “Outra vantagem de investir em fruticultura nessas regiões é a menor erosão do solo em relação a outras culturas mais agressivas, como a olericultura [de legumes], podendo citar ainda a economia dos recursos hídricos ( irrigação localizada) e, a boa lucratividade da citricultura. Na Região Serrana, o agrônomo coordena testes de cultivos nos municípios de Nova Friburgo, Duas Barras, Bom Jardim, Sumidouro, Petrópolis,  Trajano de Morais, Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto. Por sua vez, nas Baixadas Litorâneas, os testes ocorrem nos municípios  de Silva Jardim, Rio Bonito, Araruama, Tanguá e Cachoeiras de Macacu. “ Ao todo, já são 100 variedades de frutas cítricas em estudo na região das Baixadas Litorâneas. Na Região Serrana mais de 60 variedades cítricas também foram introduzidas para pesquisa desde o ano de 2006.

Na Região Serrana, o agrônomo coordena testes de cultivo nos municípios de Nova Friburgo, Duas Barras, Bom Jardim, Sumidouro, Cordeiro, Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto. Por sua vez, nas Baixadas Litorâneas, os testes ocorrem nos municípios de Silva Jardim, Rio Bonito, Araruama, Tanguá e Cachoeiras de Macacu. “Ao todo, já são 65 variedades de frutas cítricas testadas nas Baixadas Litorâneas. Na Região Serrana, foram 31 variedades cultivadas até o início de 2015”, contabilizou.

Nessas propriedades, a Pesagro e a Emater promovem visitas regulares, treinamentos e cursos para transferência de tecnologia aos produtores rurais interessados. As propriedades são consideradas unidades de pesquisa participativa, pois dependem também do engajamento dos seus responsáveis no plantio experimental. “Colaboramos com os produtores fornecendo insumos, supervisionando as técnicas de plantio e práticas de cultivo e oferecendo supervisão técnica pelo menos a cada dois meses. Eles ficam com os frutos não utilizados na pesquisa e podem comercializá-los”, disse Vieira, que acompanha pessoalmente essas visitas.

No campo, as árvores são medidas, conta-se o número de frutos, levando-se amostras dos frutos para o laboratório, onde são pesados, medidos, analisados os açucares e a acidez, verificando-se ainda o número de sementes, porcentagem de suco e colorações. "Nem todas as variedades testadas são aprovadas, mas algumas já podem ser apontadas como uma boa opção de plantio para a Região Serrana fluminense, como as tangerinas fremont e tardia da Sicília, o tangelo nova e as laranjas salustiana, charmuti de Brotas e laranja lima tardia. Com os novos dados obtidos, novas variedades podem ser indicadas para plantio. Nas Baixadas Litorâneas, entre as variedades que se adaptaram bem estão as laranjas baianinha, pineaplle, rubi e westin, além das tangerinas fremont, craxo tardia e tardia da Sicília.

No campo, as frutas são colhidas pelo pesquisador, medidas, pesadas e levadas para o laboratório da Pesagro-Rio, onde são conferidas uma a uma, nos mínimos detalhes, como o número de sementes, o teor de suco, de açúcares e a acidez do fruto. Nem todas as variedades testadas são aprovadas, mas algumas já podem ter o cultivo recomendado pelo especialista. “Testadas em Teresópolis, as tangerinas dos tipos fremont, tardia da Sicília e tangor ortanique [a palavra “tangor" deriva da junção de "tang", de tangerina, e "or" de “orange”, que significa laranja em inglês] são exemplos de variedades cítricas que se adaptaram muito bem no local ao longo desses anos de estudo e podem ser opções interessantes de cultivo. Já nas Baixadas Litorâneas, entre as variedades que se adaptaram bem estão as laranjas bahianinha, pineapple, rubi e westin”, adiantou o pesquisador.

“Todas essas mudas foram testadas em laboratório antes da etapa de cultivo no Rio de Janeiro, para identificar os materiais genéticos mais resistentes a pragas e doenças. Assim, elas dispensam naturalmente o uso exagerado de defensivos químicos”, disse Vieira. As coleções de materiais genéticos de frutas cítricas são fornecidas por diversas instituições, entre elas o Centro Estadual de Pesquisa em Agroflorestas Silva Jardim (Cepa); a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); e principalmente o Centro de Citricultura Sylvio Moreira, vinculado ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), órgão ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (ATA).  

O agrônomo lembra que existem incentivos governamentais específicos para produtores de frutas cítricas, que podem beneficiar os produtores locais. Ele menciona o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae); Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA); e Frutificar, da Secretaria Estadual de Agricultura e Pecuária (Seapec). Ele ressalta, contudo, que essas iniciativas são insuficientes. “Há alguns anos, a Seapec vem se mobilizando para tentarmos tirar o longo atraso nas pesquisas sobre fruteiras na Região Serrana”, destacou. “Afinal, tirando o morango, a tangerina ponkan e o caqui, a fruticultura praticamente inexiste nessa região”, afirmou o pesquisador.

Para Vieira, o próximo passo é expandir as pesquisas para verificar a viabilidade de implantação comercial no estado de outras frutas, como o pêssego, a amora preta, a castanha portuguesa, a atemoia, a oliveira, o abacateiro e a macadâmia. “Existem vários nichos de mercado a ser explorados. Temos um potencial imenso no estado, mas a pesquisa em fruticultura precisa caminhar paralelamente à implantação de políticas de desenvolvimento regional. Nesse sentido, o apoio da FAPERJ é imprescindível. Não temos como desenvolver o estado sem o financiamento regular desse órgão de pesquisa”, ressaltou.

*Reportagem originalmente publicada em Rio Pesquisa, Ano VIII, Nº 31 (Junho de 2015)

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