Danielle Kiffer
Entrada do Museu de Favela, que fica entre as comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, entre Copacabana, Ipanema e Lagoa (Fotos: Divulgação) |
Um museu a céu aberto com muita história para contar, guardar e perpetuar. Assim é o Museu de Favela (MUF), localizado nas comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, entre os bairros Ipanema, Copacabana e Lagoa. Com 12 hectares de área e um rico acervo de cultura e modos de vida, o museu une o concreto e o subjetivo em uma proposta para lá de interessante: perpetuar a memória.
Em 2012, o Núcleo Interdisciplinar de Memória, Subjetividade e Cultura (NIimesc), que integra os departamentos de Psicologia e Artes & Design da PUC-Rio, sob a coordenação da professora Solange Jobim e Souza e do professor Nilton Gamba Junior, iniciou uma parceria de pesquisa-intervenção com o MUF, organização não governamental privada, de caráter comunitário, fundada em 2008 por lideranças culturais moradoras das favelas Pavão-Pavãozinho e Cantagalo. A proposta do MUF é criar estratégias de valorização da memória social e coletiva destas favelas, inventariando as lembranças de seus moradores e consolidando sua identidade social e cultural. O desafio do Nimesc junto ao MUF foi o de apoiar os projetos já existentes e oferecer possibilidades concretas de avanços de suas metas.
Uma das telas pintadas nos muros da comunidade, que, como as demais, tem as cores vivas do cotidiano local |
Uma das preocupações do Nimesc se refere à importância da criação de estratégias de divulgação dos resultados da pesquisa em plataformas acessíveis a um público mais amplo. Neste contexto, a proposta de uma publicação impressa e digital, em formato e-book, foi a melhor solução encontrada pela equipe. Surgiu então o livro Histórias de Vida e Memória Social, de autoria de Cintia Carvalho, Rita de Cássia Santos Pinto e Solange Jobim e Souza, uma publicação impressa e digital, fruto da pesquisa-intervenção realizada ao longo dos últimos cinco anos, sobre os modos de escuta de memórias dos moradores das favelas.
A opção pelo livro digital se deu por dois motivos: primeiro, por ser uma plataforma capaz de abarcar a peculiaridade do material produzido – vídeos de entrevistas com os moradores, fotografias, links de sites e músicas dentre outros. Segundo, por ser de mais fácil veiculação, pois o material pode circular pela Internet, tornando-se um produto mais acessível para o usuário. O funcionamento da plataforma digital viabiliza uma leitura não linear, permitindo ao leitor navegar através de links, criando uma rede de conhecimento que vai aos poucos alcançando maior densidade. Outra vantagem é que esta plataforma é ilimitada, podendo ser ampliada com novas informações a qualquer momento. Como o projeto prevê que os integrantes do MUF possam dar continuidade à formação de escuta de memórias, utilizando o e-book como material didático, as novas experiências poderão eventualmente suscitar outras reflexões, passíveis de ser posteriormente incorporadas ao material original. A concretização do desenvolvimento do projeto do livro, impresso e no formato digital, se tornou possível com o apoio financeiro da FAPERJ, por meio do edital Apoio à Produção de Livros e DVDs em Comemoração dos 450 Anos do Rio de Janeiro.
O e-book, cujo acesso se dá pela plataforma da Editora da PUC-Rio, está no seguinte endereço eletrônico:http://www.editora.vrc.puc-rio.br/media/ebook_historias_de_vida_e_memoria_social
Traduzindo o morro em arte
Os cartazes de "Mulheres Guerreiras" criados pelas artesãs: colagens de imagens, pedrarias e depoimentos |
Como materializar a memória? Esse foi um dos grandes desafios do coordenador do Laboratório de Design de Histórias (DHIS), do programa de pós-graduação em Design da PUC-Rio e integrante do Nimesc, Nilton G. Gamba Junior, que, junto aos seus alunos de doutorado e mestrado, respectivamente, Jorge Langone e Davison Coutinho, colaborou para o projeto na parte artística. Para traduzir a cultura da comunidade em arte, ele e o grupo da universidade e as artesãs do museu, Antônia Ferreira Soares e Helena Rodrigues Benedito, refleriram muito até chegar a uma linguagem que representasse todos aqueles universos. Unindo o conhecimento acadêmico na área de artes e design à experiência técnica e expressiva do artesanato, conduziu-se o projeto de criação de uma linguagem visual própria para os produtos que visam a sustentabilidade do museu. “Para definir a nossa estética, pensamos no impacto que o morro gera no asfalto. E isso se traduz em muitas cores, originalidade e diversidade”, define o professor.
Depois de estabelecida a diretriz estética a ser seguida, a segunda fase do projeto artístico aconteceu com oficinas organizadas por Gamba para que, dentro da experiência das artesãs e para a formação das novas, elas pudessem gerar produtos sustentáveis. “Elaboramos produtos finais baseados no percurso das casas-tela e na cultura do morro, que também utilizassem papéis, pedrarias e tecidos descartados”, explica o professor. Dessa forma, com as técnicas de fuxico, bordado e modelagem de papel, foram criados souvenires como ímã de geladeira, camisetas e produtos que unissem a criatividade e a identidade daquelas pessoas e, que, além disso, pudessem gerar renda para as profissionais e para o próprio museu. As artesãs criaram ainda painéis para a exposição do evento "Mulheres Guerreiras", em que foram usadas as falas produzidas nas entrevistas conduzidas pelo Nimesc na fase conduzida pelo Departamento de Psicologia.
Mais informações: Museu de Favela - https://www.museudefavela.org
Histórias de Vida e Memória Social - http://www.editora.vrc.puc-rio.br/media/ebook_historias_de_vida_e_memoria_social
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