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Publicado em: 21/09/2017
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Planejar o uso da terra para evitar desastres ambientais*

Elena Mandarim

  

Adversidade provocada pelo clima: leito exposto do rio
 Muriaé, durante período de estiagem (Fotos: Divulgação)

Com predominância do clima tropical semiúmido, a região norte fluminense, assim como todo o restante do estado, apresenta altos índices pluviométricos. Em especial no verão, é comum o volume de precipitação ser tão intenso a ponto de provocar catástrofes, como deslizamentos de encostas e inundação de rios, que podem causar inúmeros prejuízos sociais e econômicos, principalmente, nos espaços mais urbanizados. Para o geógrafo Raul Reis Amorim, professor do mestrado em Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF), campus de Campos de Goytacazes, e do Departamento de Geografia da Universidade de Campinas (Unicamp), as tragédias decorrentes das chuvas fortes ocorrem quase sempre em razão de uma ocupação indevida de regiões que apresentam características físicas que favorecem o deslocamento de solo e de água. A solução ideal seria realocar toda a população que mora em áreas de risco – uma medida que, invariavelmente e por razões diversas, encontra resistência por parte dos moradores dessas áreas.

Em busca de soluções e ferramentas que possam contribuir para enfrentar essas adversidades provocadas pelo clima, Amorim está à frente de um grupo de pesquisa que propõe o mapeamento geomorfológico do norte fluminense, incluindo a descrição dos diferentes geossistemas da região. Ele explica que um geossistema “corresponde a uma unidade físico-natural em que os diversos componentes naturais, como relevo, clima, solos e a vida, interagem de acordo com as características geográficas e particulares daquela localidade”. O objetivo é fornecer dados detalhados sobre as paisagens naturais, bem como sobre a interação do homem com a natureza, de modo a subsidiar ações de planejamento no uso e ocupação de terras e na gestão ambiental por parte do poder público e da iniciativa privada. “Conhecer os aspectos naturais de uma determinada área, como solo, cobertura vegetal e rede de drenagem, orienta as atividades antrópicas na apropriação desses espaços, uma vez que já está claro que a interferência humana pode alterar o equilíbrio entre entrada e saída de matéria e energia de um geossistema”, diz o pesquisador.

De acordo com Amorim, o estudo geomorfológico da região permite saber, por exemplo, que é da natureza do rio Muriaé – que nasce em Miraí (MG) e encontra o rio Paraíba do Sul nas proximidades de Campos – transbordar quando há muita precipitação, o que faz inundar a região em seu entorno, já que as diferentes formas de uso e ocupação de terras naquela área dificultam o escoamento da água. “De posse dessas informações, podemos pensar em um plano de ação emergencial para minimizar os danos causados pelas inundações, já que não é viável remover toda a população que mora nessas áreas”, avalia o geógrafo. Ele conta que, com dados e verbas do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), o governo do estado está tomando algumas medidas, como a construção de barragens em determinados pontos do rio, para conter o grande volume de água em época de chuvas fortes.

Infiltrômetro de duplo anel: aparelho é empregado para
medir quantidade e velocidade da água infiltrando o solo

Amorim e sua equipe vêm, desde meados de 2012, se debruçando sobre as questões ambientais e sociais que cercam a região da bacia hidrográfica do rio Muriaé, que abrange parte dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Neste último, o rio corta quatro municípios das regiões norte e noroeste: Itaperuna, São João de Ubá, Italva e Cardoso Moreira. O atual projeto em andamento, “Zoneamento ambiental com ênfase nas áreas com risco de inundações no norte fluminense: o estudo de caso da bacia hidrográfica do rio Muriaé no estado do Rio de Janeiro”, contemplado no edital de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (DCTR), da FAPERJ, busca fazer o zoneamento ambiental, que consiste em determinar as áreas que devem ser preservadas, recuperadas, ou ainda aquelas que apresentam risco social e econômico. “Por meio do zoneamento ambiental, somos capazes de produzir diferentes mapas sobre cada uma das áreas que podem sofrer diversos prejuízos, por conta do transbordamento do rio, como no caso de Cardoso Moreira, que tem 80% de sua área urbana sujeita a inundação”, diz Amorim. Ele ressalta que esses mapas são usados pela defesa civil para saber quais áreas têm maior ou menor risco em um eventual caso de inundação.

Para obter alguns dos dados necessários à condução da pesquisa, a equipe realiza trabalhos de campo em toda a extensão da região sujeita à inundação. Ali, coleta amostras de solo, analisa a qualidade da água ou verifica o grau de erosão do local. Paralelamente, o grupo faz uma abordagem mais subjetiva, por meio da aplicação de um questionário socioinformativo. “Nossa ideia é saber a opinião da população sobre diferentes questões acerca da área onde moram. Por exemplo, queremos saber se o sistema de alerta da defesa civil funciona, se já tiveram perdas de vida ou materiais por conta da inundação, que estratégias utilizam para se precaver dos desastres, entre outros”, lista.

Projetos anteriores dão base à pesquisa

Com diplomas de graduação, mestrado e doutorado obtidos em instituições públicas fora do estado do Rio de Janeiro,  tão logo iniciou suas atividades na universidade, Amorim começou a dedicar-se aos estudos sobre a região norte fluminense. Em um primeiro projeto, contemplado no programa de Auxílio Instalação, da FAPERJ, ele procurou delimitar os diferentes geossistemas daquela área. “Ao todo, conseguimos delimitar 11 geossistemas em escala regional, o que possibilita conhecer a dinâmica e as fragilidades da região, além de mitigar problemas ambientais associados ao uso e a ocupação das terras, principalmente em megaempreendimentos, como o Super Porto do Açu, que altera toda a dinâmica de circulação de matéria e energia do norte fluminense”, conta.

No ano seguinte, outra proposta submetida pelo geógrafo foi contemplada pela Fundação, desta vez no edital de Apoio a Projetos de Pesquisa na Área de Humanidades. O produto final do projeto foi a elaboração do Mapa Geomorfológico da Região Norte Fluminense, na escala 1:50.000, o que significa um alto grau de detalhamento. “Como resultado, conseguimos delimitar três unidades morfoestruturais: cinturão orogênico do Atlântico; depósitos sedimentares terciários; e depósitos sedimentares quaternários”, relata Amorim, que acrescenta: “a importância desse tipo de informação é corroborar para o entendimento de como uma ação antrópica ou mesmo uma mudança natural pode interferir no equilíbrio da paisagem natural de uma determinada área.”

Para a realização de ambos os projetos, foi essencial a análise de diversos aspectos, como geologia, geomorfologia, solos, cobertura vegetal natural, precipitação, temperatura e rede de drenagem. O trabalho só pôde ser concluído após reunir diferentes dados previamente estabelecidos por imagens obtidas de satélites, por estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e pelo mapeamento geológico executado pelo Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ). “Por meio de softwares de geoprocessamento e computadores de última geração, comprados com a verba disponibilizada pela FAPERJ, conseguimos correlacionar as informações levantadas em outros estudos com as que obtivemos pela análise de diferentes mapas cartográficos e pelos diversos trabalhos de campo. O resultado foi sensacional. Conseguimos fazer uma abordagem geomorfológica ampla, porém super detalhada, sobre o norte fluminense”, comemora Amorim.

O pesquisador ressalta que a pesquisa atual sobre a bacia hidrográfica do rio Muriaé é uma continuação dos projetos anteriores. “Os primeiros estudos nos permitiram fazer um diagnóstico completo da região norte fluminense, pelo qual identificamos que a área do rio Muriaé apresentava sérios problemas relacionados a ocupação indevida, a perturbação do equilíbrio dos sistemas naturais, entre outros. Diante disso, resolvemos dar um zoom nesse espaço para entender melhor a sua dinâmica.”

Para o pesquisador, os projetos desenvolvidos pela equipe contribuem para referendar uma das atribuições que a universidade deve ter na sociedade: produzir conhecimento que possa servir para subsidiar ações públicas e privadas que visem a melhoria de vida da população. Ele destaca a parceria com o professor Claudio Henrique Reis e os diversos apoios da Fundação ao projeto, como o Auxílio ao Pesquisador Visitante (APV), que possibilitou trazer ao Brasil, para colaborar com o grupo de pesquisa, a professora Carmen do Céu Gonçalves Ferreira, da Universidade do Porto, uma referência na Europa em estudos de riscos e inundações. “Com os recursos fornecidos pela FAPERJ, conseguimos montar uma boa infraestrutura, tanto para pesquisa, quanto para o curso de graduação. Além de computadores e softwares, adquirimos diversos equipamentos para coleta de dados em campo, como a sonda multiparâmetro Horiba, que permite fazer leituras instantâneas de parâmetros da qualidade da água, conjunto de trados, infiltrômetro, penetrômetro, clinômetro para análise e estudo dos solos”, relata. Por conta disso, conseguiu aprovar uma coisa inédita: criamos um curso de mestrado em geografia mesmo sem ter formado a primeira turma de graduação”, alegra-se Amorim. Se não é possível modificar o passado e impedir os excessos da ocupação indevida e desordenada de áreas na região, deve-se louvar o trabalho de pesquisadores como os da equipe de Amorim, empenhados em melhorar de alguma forma a vida futura dessas populações. Afinal, uma sociedade organizada e coesa planeja e cuida dos que ainda estão por chegar. ​

*Reportagem originalmente publicada em Rio Pesquisa, Ano VIII, Nº 31 (Junho de 2015)

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