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Publicado em: 23/02/2017
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FAPERJ e ICCA: unidos pela memória da MPB

Aline Salgado

Denise Assis: a jornalista pesquisa o acervo
do Canecão (Fotos: Lécio Augusto Ramos)

Há 16 anos, a FAPERJ vem caminhando lado a lado do Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA) no apoio à preservação e resgate da memória da música popular brasileira (MPB). Depois de lançar o único catálogo on-line dedicado exclusivamente à MPB, com 12 mil verbetes, o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira (http://dicionariompb.com.br/), o ICCA se prepara para um novo grande desafio: desvendar os mistérios guardados em 24 caixas de documentos que contam os 43 anos de história da casa de espetáculos Canecão. O acervo, que foi recebido pelo instituto, em maio de 2011, das mãos do empresário e dono do Canecão, Mário Priolli, está sendo estudado pela pesquisadora e jornalista Denise Assis. 

Autora do livro Propaganda e cinema a serviço do golpe: 1962/1964 (Editora Mauad, p. 96), publicação que contou com o apoio da Fundação (APQ1/2000) e mostra o trabalho de pesquisa sobre o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipês) – instituição que por meio da propaganda e do cinema desenhou o caminho para o golpe civil-militar de 1964 –, Denise atuou como pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e da Comissão da Verdade do Rio. Ela também coordenou trabalhos de elucidação da explosão da carta-bomba da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), atentado que ocorreu em 1980, ainda no governo militar, vitimando Lyda Monteiro da Silva, secretária do então presidente nacional da Ordem, Eduardo Seabra Fagundes.

Denise tem mergulhado nas caixas que compõem o acervo do Canecão, que ainda espera por recursos e voluntários para ser higienizado, catalogado e digitalizado. Na garimpagem, a pesquisadora tem pescado preciosidades que contagiam a todos que trabalham e visitam o ICCA, como a equipe do Boletim FAPERJ, que esteve na tarde da última quarta-feira no prédio em estilo colonial no bairro da Urca, que abriga o instituto. Entre as mais emocionantes descobertas compartilhadas pela pesquisadora está a pasta com informações e fotos do primeiro show de Roberto Carlos, realizado em 1978. 

"Tem o roteiro musical completo do espetáculo dirigido por Luís Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli, com as modificações sugeridas. Há a relação com o nome dos músicos e até o registro fotográfico dos bastidores, uma imagem de Roberto com a sua primeira mulher, Cleonice Rossi, mas conhecida Nice", descreve Denise, ao folhear os documentos arquivados de forma sistemática em uma pasta etiquetada, com data e nome do show.

Entusiasmado com cada achado, o musicólogo Ricardo Cravo Albin, presidente do instituto cultural que leva seu nome, conta que Maneco Valença, produtor da casa, era bastante cuidadoso com a memória do Canecão. "Tudo foi documentado. Cada show tem uma pasta, onde podemos encontrar planta de palco, croqui da decoração, relação dos músicos, fotos dos bastidores, contrato dos cantores e até notas fiscais de refeições e honorários", diz Cravo Albin, para logo em seguida ser interrompido por uma outra descoberta de Denise.

Com algumas latas com rolos de filme em mãos, a pesquisadora se depara com o registro do primeiro baile de carnaval do Canecão, promovido em 1976. "Precisamos ir correndo a uma cinemateca conferir o que há nesses filmes", dizem Denise e Cravo Albin, quase em coro.    

Em registro de bastidores de show, em 1978, Roberto Carlos
aparece ao lado da então esposa Nice e de Maneco Valença

Na pesquisa diária pelo acervo da casa de espetáculos, Denise e Cravo Albin já encontraram o roteiro de Deus lhe pague, a primeira grande peça brasileira escrita pelo teatrólogo Joraci Camargo e adaptada por Millor Fernandes, Vinicius de Moraes e Edu Lobo, para o gênero comédia musical. Sob o mesmo título, a peça foi apresentada com grande sucesso no Canecão sob a direção de Bibi Ferreira, em 1976. O roteiro do show Brasileiro profissão esperança, de 1974, com Clara Nunes e Paulo Gracindo, também está no acervo.

O amor pela memória e a história musical e artística brasileira mobiliza não só Ricardo e Denise, como também o jovem Samuel Hernandez, de 27 anos. Filho de pais músicos e nascido em Bebedouro, no interior de São Paulo, Samuel é formado em Ciências Sociais e se mudou para o Rio de Janeiro atraído pelo encanto da MPB e da pesquisa histórica. Braço direito dos pesquisadores da casa, o jovem atua como voluntário no ICCA. 

"A possibilidade de conciliar a Antropologia e a Música; o respeito pela memória, pela cultura e pela arte; e, é claro, a figura de Ricardo Cravo Albin me fizeram vir ao instituto e trabalhar como pesquisador voluntário. É um prazer estar aqui", diz Samuel, que pesquisa músicos da noite carioca que passaram pela história sem nunca serem notados. A investigação compõe a base de seu pré-projeto de mestrado.

Além do acervo do Canecão, o ICCA recebeu, em 2015, a guarda do acervo do Museu do Rádio, que ficava na Rua da Constituição, Centro do Rio. Após ser desativado pelo governo do estado do Rio de Janeiro, depois de cinco anos de funcionamento, todo o acervo, constituído por 5 mil itens – entre 4.500 discos, 8 painéis fotográficos em madeira e peças e equipamentos de época de estúdios de rádio – foi doado ao instituto. No entanto, a documentação está guardada, temporariamente, no Arquivo Nacional, até que o ICCA tenha espaço para recebê-lo. 

"Apesar das limitações físicas e de recursos para a manutenção do acervo, nunca desprezamos uma doação, porque sabemos que em cada uma delas há um tesouro escondido. É uma tese ideológica ligada à preservação da memória e do patrimônio imaterial que guia o trabalho de todos aqui do instituto", afirma Ricardo Cravo Albin.

Presidente do ICCA, ele conta que a casa está prestes a receber mais um acervo. Serão 5 mil CDs e 5 mil LPs (long plays) que compunham a coleção particular de um produtor da Rádio MEC. "Estamos sempre abertos a doações e apoios, tanto de instituições que incentivem a preservação da cultura e da memória, quanto de pesquisadores voluntários que se interessem por estudar a música popular brasileira", acrescenta o musicólogo.

Pesquisador voluntário, Samuel Hernandez diz que
o trabalho no instituto é um prazer diário

"Todos os presidentes da FAPERJ sempre foram sensíveis ao trabalho de preservação da memória realizado pelo ICCA. Nos últimos 16 anos, passaram por aqui cerca de 40 bolsistas de iniciação científica, todos apoiados pela Fundação. Sem falar nos pesquisadores associados ao instituto", ressalta Cravo Albin. 

Professora do curso de Letras Italianas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Sonia Cristina Reis (que aparece na imagem de capa dessa matéria) é um dos docentes que têm trabalho em conjunto com o ICCA. Com interesse especial voltado para a cultura do samba marginalizado do Rio de Janeiro, das décadas de 1920, 1930 a 1970, ela coordenou os esforços para atualização da base de dados do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. O projeto, que contou com o apoio da FAPERJ por meio do programa Treinamento e Capacitação Técnica 2014, uniu as vertentes do samba em textos e verbetes históricos, desde seu início até a contemporaneidade.   

Segundo Sonia, o instituto tem buscado atrair jovens estudantes de graduação para o trabalho de pesquisa e preservação da memória da música que realiza. A professora ressalta que alunos dos cursos de Letras, Música, História, Arquivologia, Museologia, Antropologia e Geografia, que tenham interesse na área de iniciação científica e que queiram atuar como voluntários serão muito bem-vindos.

Além da UFRJ, professores e pesquisadores da Universidade do Estado do Rio (Uerj), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Estado do Rio (UniRio) mantêm parcerias científicas com o ICCA. Os estudantes, dessas e de outras instituições de ensino e pesquisa, interessados em atuar como pesquisadores voluntários podem enviar um e-mail para o instituto por meio do "Fale conosco", disponível no portal www.institutocravoalbin.com.br. Os voluntários serão selecionados de acordo com o currículo. Para conhecer mais sobre o ICCA, basta acessar o site www.institutocravoalbin.com.br.

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