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Publicado em: 17/11/2016
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Regiões inovadoras: um estudo de caso sobre o Vale do Silício

Aline Salgado

Antonio Botelho é doutor em Ciência Política pelo Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (EUA)
 (Fotos: Lécio Augusto Ramos)

Seria possível replicar regiões inovadoras pelo mundo afora? O que sabemos, achamos que sabemos e não sabemos sobre as regiões inovadoras? Quais são os segredos por trás das empresas que se instalaram e crescem, ainda hoje, na nova cultura econômica e empresarial criada pelo Vale do Silício, o polo de inovação inicialmente voltado para semicondutores e logo depois para a computação na Califórnia, Estados Unidos? Essas foram algumas das questões debatidas no Encontros FAPERJ, promovido pelo Núcleo de Estudos em Políticas Públicas para Inovação (Neppi), que aconteceu na última quarta-feira, 16 de novembro, na sede da Fundação.

Com experiência de quase 30 anos pesquisando a temática da inovação, o professor titular e coordenador-adjunto do programa de pós-graduação em Sociologia Política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), da Universidade Cândido Mendes, Antonio José Junqueira Botelho, promoveu um rico debate e instigou o público presente. Na reunião estavam pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), da Universidade Cândido Mendes, da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio) e do Clube dos Engenheiros, além de representantes da Rede de Tecnologia e Inovação (Redetec) e membros da FAPERJ.

"A análise histórica de regiões inovadoras que fracassam mostra que elas se especializam em determinados setores e morrem quando muda a tecnologia. Por isso, a importância dessas regiões se renovarem constantemente do ponto de vista técnico, isto é, do seu padrão tecnológico e de sua configuração institucional", disse Botelho, para logo introduzir algumas respostas sobre como o Vale do Silício tem se renovado no contexto nacional e global.

Segundo o professor, a dinâmica inovadora com que empresas e laboratórios corporativos se instalaram na região, baseadas no espírito empreendedor e na formação de redes de confiança entre atores econômicos são alguns dos elementos de sucesso do modelo, que foi exportado para o mundo, levando, nas duas últimas décadas, à criação de polos de inovação de destaque, em Taipei, na China, e na região de Bangalore, na Índia.

Mas a confiança não é, digamos, a mola propulsora do desenvolvimento de uma região inovadora global, o Vale do Silício. Botelho ressalta que a criação de spin-offs na região (empresas que nascem a partir de um grupo de pesquisa de uma empresa, universidade ou centro de pesquisa público ou privado, com o objetivo de explorar um novo produto ou serviço de alta tecnologia) e a característica do mercado de trabalho – com uma mão de obra altamente qualificada, estímulo à mobilidade e à ação de firmas de recrutamento e seleção de talentos em todo o mundo – foram e têm sido fundamentais para oxigenar o ambiente de negócios de lá.

A mobilidade é um dos pontos altos para a inovação: "Quem é bom, 
é estimulado a mudar de emprego a cada dois anos", disse Botelho

"A mobilidade no Vale do Silício é de duas a três vezes superior a de empresas equivalentes nos Estados Unidos. Quem é bom, é estimulado a mudar de emprego a cada dois anos. Ao circularem, os trabalhadores transmitem e trocam conhecimento e soluções, para se tornarem melhor preparados para situações de risco", ressaltou o palestrante.  

A meritocracia orientada para resultados, o constante clima de recompensa dos tomadores de risco, a existência de uma atmosfera que tolera fracassos, o ambiente de negócios aberto e o incentivo à formação de spin-offs e start-ups são outros importantes ingredientes dessa receita que combina inovação, desenvolvimento econômico e ambiente de negócios flexível. "Lá, as start-ups assumem o risco, mas podem errar. É aí que surge o debate sobre criar empreendedores e não empresas", afirmou o professor, para logo acrescentar: "Os empreendedores do Vale do Silício são diferentes dos fundadores de pequenos negócios e empreendedores tradicionais. Eles têm um ritmo extremamente rápido, uma orientação de inventar o mundo e uma capacidade de criar conexões sólidas com outras pessoas. O networking acontece a todo momento, seja no espaço público ou privado, no ambiente formal ou informal. A todo o momento eles pensam em fazer negócio."

Como destacou o professor do Iuperj, o alto nível de paixão pelos negócios, a ampla capacidade de assumir riscos e a conectividade são uma espécie de estilo de vida dos empresários e empregados locais. Todos têm ou precisam ter a liderança como característica, com capacidade de comunicar sua visão e paixão. "Bem ao estilo Steve Jobs de ser", exemplificou Botelho, referindo-se ao fundador da Apple. 

Do ponto de vista administrativo, o ambiente de negócios mais flexível, que também leva à tomada de grandes decisões em ambientes informais, como bares, e à realização de contratos mais simples, com menos burocracia e orientados por advogados especializados, garante uma certa fluidez às transações. "A gerência é informal e menor, o que facilita  uma tomada de decisão mais rápida. Já o controle empresarial é pautado na partilha, para permitir que haja um crescimento maior da empresa, com a geração de novas e maiores oportunidades de mercado", explicou Botelho.

Para o professor, o que faz o Vale do Silício ainda hoje se manter atuante e renovado dentro de uma economia globalizada é sua capacidade de pensar de forma global, atraindo talentos de outras partes do mundo, em tempo real, o que incentiva a permanência de um terreno multicultural e heterogêneo, essencial para quem tem na inovação o seu negócio. "É isso que permite que os atores aprendam as práticas inovadoras que estão sendo aplicadas em Taipei e em Bangalore, por exemplo. Porém, as ditas características culturais do Vale do Silício são resultado de batalhas que foram acontecendo ao longo do processo de desenvolvimento da região inovadora. Não era algo natural do local. Foram construídas e compreendidas como fundamentais para o ambiente de negócios", concluiu. 

A próxima edição do Encontros FAPERJ está prevista para dezembro. O evento é promovido pelo Núcleo de Estudos em Políticas Públicas para Inovação (Neppi), sob a coordenação de Thiago Renault, diretor da Agência de Inovação (Agir), da Universidade Federal Fluminense (UFF), e conta com a participação de José Manoel Carvalho de Mello, professor do programa de pós-graduação em Engenharia de Produção (UFF) e assessor da Agir, e de Sérgio Yates, empreendedor e pesquisador.

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