Débora Motta
Largada dos 100 metros rasos nas Olimpíadas de 1896, em Atenas (Foto: Reprodução/EBC/COI) |
Abril de 1896. Reunidos em Atenas, na Grécia, cerca de 240 atletas de 14 países participavam da primeira edição dos Jogos Olímpicos na Era Moderna. A competição internacional, herdeira da grandiosa cultura grega, não era realizada desde a Antiguidade. O mérito de recriação dos Jogos foi do historiador e pedagogo francês Barão Pierre de Coubertin, que acreditava no papel do esporte como instrumento para unir diferentes povos e religiões, sendo capaz até de interromper guerras. O Brasil, no entanto, não enviou atletas para essa edição pioneira dos Jogos.
“A construção do espírito olímpico deu-se aos poucos, acompanhando a formação da identidade nacional do País, que tinha conquistado a Independência apenas em 1822. Além disso, era caro enviar atletas ao exterior, em uma época em que não havia apoio institucional ao esporte”, conta o historiador Victor Andrade de Melo, que é Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, e coordenador do Sport – Laboratório de História do Esporte e do Lazer da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A própria representação dos primeiros Jogos da Era Moderna na imprensa da época foi modesta. Através de pesquisas em periódicos, Melo observou que o Jornal do Brasil anunciou o evento com uma pequena nota, que citava a presença da família real grega na cerimônia de abertura. “Não havia essa relação tão forte entre esporte e a ideia de nação. Existiam também as próprias limitações da mídia. As notícias demoravam a chegar e os jornais brasileiros dependiam muito mais das agências de notícias", diz Melo.
O historiador acrescenta que até o final dos Jogos, a imprensa fluminense deu breves informes e citações a alguns atletas vitoriosos. "Cerca de 15 dias após o encerramento, no entanto, os jornais O Apostolo e a Gazeta de Petrópolis deram um pouco mais de destaque ao acontecimento, já estabelecendo uma associação entre esporte, nação e a ideia de internacionalismo”, afirma.
O reconhecimento do esporte como elemento importante para a identidade brasileira acompanhou a própria consolidação da ideia de nação, ao longo do século XIX, segundo explica Melo. “A segunda metade do século XIX foi um período muito efervescente, quando de fato o Brasil se solidificou como nação independente. Assim, o esporte surgiu ligado à ideia de entretenimento. Nos circos que chegavam ao Rio, exibições de força e destreza eram uma atração à parte, chamada Jogos Olímpicos, que nada tinham a ver com a atual competição internacional”, diz.
No centenário da Independência, em 1922, o Rio, então capital federal, sediou os |
Além de demonstrações atléticas nos circos, os espetáculos esportivos começaram a se organizar em clubes e competições. “Em 1890, no Rio, já eram populares clubes de remo, turfe, cricket – por influência dos ingleses –, ciclismo e os primórdios do atletismo. Praticar esportes não era comum entre a população, mas começou a surgir uma cultura de assistir aos eventos esportivos na cidade”, contextualiza o historiador.
Aos poucos, o esporte foi sendo adotado como um elemento capaz de forjar o espírito, o caráter e a saúde da jovem nação. “Em 1907, o Brasil participou dos Jogos Olímpicos em Montevidéu e obteve algumas conquistas, com destaque para as vitórias do carioca Abrahão Saliture, nadador, remador e jogador de polo aquático do Club de Natação e Regatas do Rio. Só nos Jogos da Antuérpia, em 1920, o Brasil enviou pela primeira vez uma delegação. Em 1922, o Brasil organizou os Jogos Olímpicos Latino-Americanos, no âmbito das comemorações do centenário da Independência, com uma grande exposição organizada no Rio. E foi a partir dessas conquistas que começou a se fortalecer, progressivamente, a relação entre esporte e nação”, cita Melo.
Hoje, 120 anos depois da realização dos primeiros Jogos Olímpicos na Era Moderna, o Brasil é o primeiro país da América do Sul a sediar o maior evento esportivo do mundo. “Nenhuma outra manifestação cultural dramatiza tanto a ideia de nação como o esporte. Hoje, temos mais entidades filiadas à FIFA (Federação Internacional de Futebol) e ao COI (Comitê Olímpico Internacional) do que à ONU (Organização das Nações Unidas)”, destaca.
Para o historiador, ao receber os Jogos, a cidade reafirma sua vocação histórica para a prática esportiva. “Recentemente, já havíamos sediado os Jogos Pan-Americanos e os Jogos Militares. A identidade do carioca carrega em si um elemento esportivo. O carioca é apresentado com uma forma esportiva de ser, mais informal, que gosta de se divertir e de praticar esportes ao ar livre. Vamos analisar o legado que esse evento vai deixar para a cidade nos próximos anos”, conclui.
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