'Casa de Pedra' é inaugurada pela UFRJ em Inhumas, no Ceará

Danielle Kiffer

A Casa de Pedra foi construída com resíduos das pedreiras de calcário do município de Santana do Cariri (Foto: Divulgação)

De acordo com pesquisadores que já realizaram estudos na região da Chapada do Araripe, no sul do Ceará, o Distrito de Inhumas, município de Santana do Cariri, é um lugar onde a História da Terra está preservada. No local, afirmam os cientistas, há rochas sedimentares da Bacia do Araripe originadas durante o Período Cretáceo, que durou de 145 a 65 milhões de anos atrás – um momento de grandes transformações globais do ponto de vista geológico: à ocasião, houve a ruptura do grande continente chamado Gondwana, marcando um período inicial de separação entre a América do Sul e a África; o surgimento do Oceano Atlântico, definindo a territorialidade da costa brasileira; e a diversificação e dominância das plantas com flor (angiospermas) que, juntamente com outras grandes mudanças biológicas, aproximaram a paisagem da Terra ao mundo atual. Vale lembrar que os dinossauros extinguiram-se ao final do Cretáceo

É nesse local, na bacia sedimentar do Araripe, em que se registra toda uma imensa riqueza geológica e paleobiológica, que foi inaugurada no dia 23 de junho, pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com a Prefeitura Municipal de Santana do Cariri, a Casa de Pedra, um centro de referência com um programa educacional para que alunos da universidade tenham contato com atividades de pesquisa in loco. “Além de terem contato com rochas sedimentares carbonáticas que se depositaram ao mesmo tempo do intervalo Pré-sal da Bacia de Santos e que contêm fósseis de plantas e animais esplendidamente preservados, os alunos poderão vivenciar e conhecer um novo ambiente, conciliando pesquisa científica e atividades de incentivo à Geoconservação”, explica o coordenador do projeto, Ismar de Souza Carvalho, professor do Departamento de Geologia e diretor do Instituto de Geociências da UFRJ.

Aluno da UFRJ trabalha em mapeamento geológico em Inhumas (Foto: Divulgação)

A casa, que foi toda construída com pedras de rejeito da atividade extrativa das próprias rochas sedimentares carbonáticas (Pedra Cariri) e com mão de obra da região, possui cerca de 1.000 metros quadrados de área, com 13 apartamentos com banheiros, cada um podendo hospedar, em média, cinco pessoas. Há um espaço em comum para reuniões e um redário. “Esse espaço proporcionará uma experimentação de novas aproximações de ensino, contemplativas nas redes, em que, ao mesmo tempo em que observam a paisagem local, professores e alunos podem conversar sobre as características geológicas da região ou sobre o que vivenciaram nas atividades práticas de geologia de campo na região, por exemplo”, diz Carvalho, que é Cientista do Nosso Estado da FAPERJ.

A Casa da Pedra servirá tanto para alunos de dos cursos de graduação em Geografia e Meteorologia, além dos de Geologia. “Com a implantação desse espaço no Ceará, poderão ser desenvolvidos estudos envolvendo o uso e gestão da água, desastres ambientais, mudanças e catástrofes globais, recursos minerais, ocupação do solo e planejamento do território, que são tão relevantes academicamente quanto socialmente”, explica o pesquisador, que complementa: “A possibilidade de vivenciar no local essas experiências, além do contato com a rica cultura local, inclusive no manejo e economia da água, por exemplo, será uma possibilidade para a formação de geocientistas mais conscientes e mais preparados. Eles poderão conhecer um Brasil diferente e ver de perto o quanto a Geodiversidade é importante para a sociedade”.