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Publicado em: 07/04/2016
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De olho na qualidade do ar

Aline Salgado

Unidade da ThyssenKrupp CSA, em Santa Cruz, na Zona Oeste: incidente
ambiental marcou o início das operações, em 2010
(Foto: Reprodução)

Há poucos dias de expirar o prazo final do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que autoriza o funcionamento da unidade da ThyssenKrupp CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico), em Santa Cruz, na Zona Oeste, a Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca), da Secretaria de Estado do Ambiente, aprovou, na última terça-feira, 5 de abril, a emissão da Autorização Ambiental de Funcionamento (AAF) para a companhia. O documento libera, excepcionalmente, o funcionamento da unidade industrial, com vistas a sua adequação às normas de controle ambiental dentro do prazo previsto no TAC – que expira no próximo dia 28 – e concede ainda prazo adicional de 90 dias à empresa. Este é o período que o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) terá para concluir a avaliação do cumprimento das obrigações constantes do TAC pela CSA. Só após essa etapa a companhia poderá ter concedida, ou não, a licença ambiental definitiva para operar.

Coordenadora do Laboratório de Química Atmosférica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e pesquisadora colaboradora do Inea, Adriana Gioda vem acompanhando de perto a qualidade do ar na região de Santa Cruz, desde o início da operação da CSA, em 2010. Na época, uma falha nos altos-fornos do parque industrial levou a um incidente ambiental, que ficou conhecido como "chuva de prata". Além de ter as casas tomadas por um misterioso pó metálico, moradores relataram problemas respiratórios, por causa da exposição ao material.

Segundo Adriana, a grande quantidade de material particulado, coletado em 2010, tinha altas concentrações de metais, como zinco e ferro. Análises recentes de coletas do Inea mostram, no entanto, que as concentrações de material particulado, hoje, estão dentro dos limites estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "As concentrações de partículas finas (PM2.5) no período de agosto a dezembro de 2010, período de teste da CSA, variaram de 1 a 43 µg m-3 com média de 14 µg m-3 para 60 amostras coletadas. Esta média está acima do limite anual sugerido pela OMS, de 10 µg m-3,  e em muitas datas as concentrações ultrapassaram o limite diário, de 25 µg m-3 ", diz Adriana.

Em 2015, no entanto, as concentrações de partículas finas variaram de 3 a 30 µg m-3 com uma média anual de 10 µg m-3, para um total de 70 amostras. "Está, assim, no limite estipulado", ressalta a pesquisadora. Ela esclarece que o material particulado suspenso no ar têm diferentes fontes, origem e tamanhos. De acordo com a pesquisadora, quanto menor a partícula, maior o tempo de permanência na atmosfera e maior a penetração no trato respiratório. Adriana acrescenta que as partículas podem influenciar o clima, a visibilidade, o ciclo biogeoquímico (percurso realizado no meio ambiente por um elemento químico) e a saúde humana, causando doenças respiratórias e cardiovasculares. 

Os mecanismos associados aos efeitos adversos à saúde causados pelas partículas, no entanto, não são bem compreendidos pelo meio científico, mas, segundo a pesquisadora, acredita-se que os processos inflamatórios e de estresse oxidativo (desequilíbrio entre a formação e a remoção de agentes oxidantes no organismo) desempenham um papel fundamental. Neste contexto, os metais presentes nas partículas podem ter uma função importante. "Eles podem desencadear uma série de efeitos no organismo, pois ao serem absorvidos através da inalação das partículas, promovem reações químicas nas células, alterando o seu funcionamento. Estas reações dependem do tipo do metal, da combinação de metais, do tempo de exposição e da concentração/dose", explica Adriana.

Adriana Gioda é coordenadora do Laboratório de Química
Atmosférica da PUC-Rio (Foto: Divulgação/CTC-PUC-Rio)

Para avaliar estes efeitos, a equipe da professora da PUC-Rio utilizou células epiteliais do pulmão humano (células BEAS), que foram expostas a diferentes concentrações de extrato aquoso e orgânico contendo o material particulado. No estudo, foram avaliados a citotoxicidade – a capacidade que o material particulado tem em promover alteração metabólica nas células, podendo culminar ou não em morte celular –, e a produção ou inibição de citocinas – moléculas proteicas encarregadas de enviar sinais estimulatórios, modulatórios ou inibitórios para as diferentes células do sistema imunológico.

De acordo com Adriana, no material particulado coletado em Santa Cruz em 2010, havia metais e outros elementos dissolvidos. A concentração de metais nas partículas foi maior durante a primeira coleta (agosto de 2010), período em que ocorreu a "chuva de prata", do que na segunda (setembro de 2010). Os testes mostraram também diferenças toxicológicas. "A toxicidade dos extratos pode ser atribuída às diferenças no período de coleta, sendo que as amostras de agosto foram mais tóxicas do que as de setembro. Os metais explicam parte da toxicidade encontrada, no entanto, acredita-se que outras substâncias presentes nas partículas também podem ter influenciado nos resultados", ressalta Adriana.

A pesquisadora acrescenta que os resultados sugerem que o zinco desempenha um papel chave e pode estar associado à toxicidade e às respostas imunes no organismo dos moradores de Santa Cruz. "Há uma gama enorme de poluentes associados ao material particulado. Os mecanismos são complexos, o que exige que investiguemos mais e à fundo", diz Adriana, reiterando que não descarta a existência de efeitos nocivos à saúde da população local exposta àquela poluição. 

Para desenvolver os estudos, Adriana contou com a colaboração de quatro toxicologistas de Porto Rico, seus ex-colegas de pós-doutorado. Experientes nessa área de pesquisa, eles ajudaram na interpretação dos resultados. Além deles, dois alunos de mestrado da PUC-Rio compuseram a equipe da professora. 

De acordo com a pesquisadora, embora hoje a CSA conte com uma tecnologia de ponta para minimizar a emissão de poluentes para a atmosfera, o monitoramento na região continua. "Não se espera que haja problemas como os da 'chuva de prata' novamente, mas o monitoramento da qualidade do ar é uma tarefa de vigilância constante", alerta Adriana, que lembra que, no Brasil, a legislação referente a poluentes atmosféricos se encontra defasada: "Estudos em áreas de grandes concentrações urbanas e industriais ajudam na determinação de novos padrões de qualidade."

Com o apoio da FAPERJ, por meio de fomento obtido no programa Auxílio Básico à Pesquisa (APQ 1) de 2011, Adriana não só estudou os efeitos em Santa Cruz como pôde estender sua pesquisa. Ela analisou também o material particulado inalável (PM10) no município de Duque de Caxias, que conta com uma intensa atividade industrial, com destaque para a Refinaria da Petrobras (Reduc), e no Centro do Rio de Janeiro. Na capital, foram coletadas amostras de partículas próximo a importantes avenidas, como a Presidente Vargas. As análises revelaram que os veículos são os grandes vilões da qualidade do ar. 

Os veículos são os maiores responsáveis pela má qualidade
do ar no Centro do Rio e em Caxias (Foto: Reprodução) 

"Os resultados do estudo mostraram que a fração orgânica presente em partículas inaláveis, coletadas em Caxias e no Centro, era tóxica. Além disso, tais partículas levaram à liberação de citocinas", diz Adriana. Em outras palavras, esse material levaria a uma inflamação do trato respiratório dos indivíduos.

Segundo a pesquisadora, muito além da atividade industrial em Caxias, a queima de combustíveis pelos veículos leva a uma maior concentração de partículas na atmosfera. "O nível de poluição em Caxias foi maior, inclusive, do que em Santa Cruz", afirma a pesquisadora, que destaca uma característica natural que ajuda os moradores da região: "Apesar do grande parque industrial localizado nesta parte da Zona Oeste, Santa Cruz é ainda uma área rural, com menos circulação de veículos. Além disso, a melhor circulação de ar por meio dos ventos contribui para a menor concentração de poluentes." 

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