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Publicado em: 17/03/2016
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Um arquivo para guardar as plantas fluminenses

Débora Motta

A espécie endêmica Mandevilla guanabarica está no
acervo do herbário da UniRio
(Foto: Reprodução/UniRio) 
 

Para os botânicos, cada planta revela uma história. Dados preciosos sobre uma determinada espécie, como suas características anatômicas e genéticas ou sua localização na natureza, podem ser obtidos pelo estudo das amostras vegetais coletadas pelos pesquisadores. Essas amostras são depositadas nos herbários, que armazenam coleções de plantas, conservadas em meio líquido ou desidratadas, e organizadas segundo uma sistemática, para fins de pesquisa científica. No quinto andar da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), localizado no bairro da Urca, o Herbário Professor Jorge Pedro Pereira Carauta (Huni) reúne 3.500 amostras de plantas que representam bem a diversidade da flora fluminense.

“Entre as amostras, destacam-se exemplares da vegetação das restingas fluminenses, do Complexo do Pão de Açúcar e da flora de macroalgas marinhas do estado”, resume a bióloga Sandra Zorat Cordeiro, vice-curadora do herbário. “O diferencial do nosso acervo, ainda pequeno se comparado a outros no estado, é que temos coleções específicas, como a flora ficológica – de algas – das regiões da Baía de Guanabara e do litoral fluminense, além da flora terrestre do Pão de Açúcar, onde tradicionalmente professores e alunos de graduação e da pós da UniRio pesquisam e coletam vegetais, até pela proximidade com o campus, na Urca. Parte do acervo do herbário foi doada por outras instituições, como as amostras da vegetação de restinga doadas pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro, ou recebida por permuta”, detalha.

Detalhe da alga marinha desidratada
Sargassum furcatum (Foto: Divulgação)

O patrimônio do Huni é composto pelas coleções científicas de plantas desidratadas (Coleção Herborizada) e de plantas fixadas em meio líquido (Coleção Líquida). “No caso da coleção de plantas e algas herborizadas, elas são desidratadas e prensadas, para em seguida serem armazenadas em uma folha de papel junto com informações como sua identificação taxonômica e suas características morfológicas e ecológicas. Esse material prensado dura séculos. Existem alguns da época de Pedro II no Museu Nacional”, diz Sandra. “Já os exemplares da coleção líquida são armazenados em frascos com soluções de álcool 70% e formol 4%. É o melhor modo de preservar principalmente as plantas aquáticas, que são delicadas e por isso podem esfarelar mais facilmente após a prensagem, dificultando a preservação”, completa.

O acervo do herbário está aberto a consultas de alunos e professores da UniRio, para apoiar as atividades de ensino, pesquisa e extensão, e também pode ser utilizado por pesquisadores de outras instituições, como instrumento de intercâmbio acadêmico. “O herbário é muito importante para a realização de pesquisas em botânica. Para um botânico publicar um artigo científico, é preciso citar em que herbário foi feito o depósito da espécie vegetal estudada, para que outro pesquisador tenha a referência e, se necessário, acesso ao material. Cada espécie ganha a sigla do herbário onde foi depositada e um número, para que seja identificada por outros pesquisadores no futuro”, explica. “O pesquisador pode depositar duplicatas das amostras tanto no herbário da UniRio como também em outros herbários. Isso é interessante para facilitar o acesso ao material por um número ainda maior de pessoas”, diz a bióloga do Departamento de Botânica da universidade.

A bióloga Sandra Zorat organiza a coleção científica
herborizada: trabalho minucioso 
(Foto: Divulgação)

As coleções científicas guardam algumas pérolas da botânica. “Entre as espécies de ocorrência restrita, por exemplo, temos amostras da Mandevilla guanabarica, uma planta endêmica das restingas do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, ou seja, que só é encontrada nesses locais. Temos ainda amostras de Sagittaria lancifolia, uma planta aquática que está no Livro Vermelho da Flora do Brasil como espécie vulnerável. Temos também muitas amostras de macroalgas marinhas da região de Mangaratiba, na Costa Verde do estado, que não devem mais existir no local onde foram coletadas. Há ainda, na coleção de algas de profundidade, coletadas na costa do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, por exemplo, a Laminaria abyssalis, uma alga parda que pode chegar a cerca de dois metros de comprimento. O herbário é um lugar de preservação da memória de plantas que, infelizmente, se tornaram raras”, conta.

Assim, entre folhas e flores, ela passa boa parte de sua jornada catalogando as plantas. Trata-se de um trabalho minucioso e artesanal. “Montar as amostras é um trabalho de formiguinha, manual. Costuramos as plantas desidratadas para elas aderirem ao papel, uma a uma”, explica. Para divulgar esse trabalho, o herbário da UniRio lançou um portal (http://www.unirio.br/ccbs/ibio/herbariohuni), criado a partir de recursos obtidos da FAPERJ por meio do Auxílio à Conservação e Infraestrutura de Acervo (APQ 4). A criação do site faz parte do projeto de recuperação, preservação e expansão do acervo científico de plantas desidratadas (Coleção Herborizada) e de plantas fixadas em meio líquido (Coleção Líquida). “O próximo passo é disponibilizar o acervo on-line no SpeciesLink, um cadastro nacional de coleções científicas”, diz.

Reorganização do acervo

O Huni foi criado em 1998, com o objetivo de ser um herbário especializado em plantas aquáticas, abrigando inicialmente a Coleção de Plantas Hidrófitas Vasculares – como a vitória-régia e outras plantas encontradas na beira de lagoas. Foi iniciada com as coletas da então professora da UniRio Claudia Bove, na região da bacia do Rio Araguaia, e assim se manteve durante o período em que ela permaneceu como docente na universidade. Com sua ida para o Museu Nacional, em 2002, o herbário passou lentamente a abrigar também depósitos de exemplares de plantas terrestres, temática dominante entre os docentes da UniRio. Em meados de 2013, na curadoria do professor Joel Campos de Paula – atual curador do herbário e especialista em macroalgas marinhas – o Huni começou a passar por uma fase de reorganização e reestruturação do acervo, devido à demanda gerada pela crescente produção científica de alunos e professores do Instituto de Biociências, principalmente após a criação do curso de pós-graduação em Ciências Biológicas (PPGBIO), com ênfase em Biodiversidade Neotropical.

No ano seguinte, o Huni foi contemplado pela FAPERJ, com a aprovação do projeto “Recuperação, Preservação e Expansão do Acervo do Herbário Prof. Jorge Pedro Pereira Carauta (Huni)”, pelo APQ 4. “Com o apoio da Fundação, começamos a comprar material para reorganizar o acervo e a nossa coleção foi crescendo. Hoje, juntamente com os herbários do Jardim Botânico, do Museu Nacional e do Instituto de Biologia da UFRJ, o nosso herbário faz parte do pequeno grupo de instituições do Rio de Janeiro credenciadas como guardiãs oficiais de coleções de plantas no Rio de Janeiro”, contextualiza Sandra.

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