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Publicado em: 15/10/2015
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Seminário apresenta olhares de personalidades que vieram ao Rio nos séculos XIX e XX

Vinicius Zepeda

Orson Welles acompanhou o carnaval do Rio de Janeiro para as
filmagens de
It's all true (Foto: Hart Preston/Getty Images)  

No ano de 1942, o cineasta Orson Welles (1915-1985) desembarcou na cidade do Rio de Janeiro como parte da "Política da Boa Vizinhança para a América do Sul" – implantada pelo então presidente norte-americano Franklin Roosevelt como parte de uma estratégia para promover uma maior cooperação cultural e consolidar-se como principal potência na região, em substituição à política de intervenção política e militar. O objetivo era que ele permanecesse alguns meses aqui para filmar um episódio sobre o carnaval brasileiro para compor o documentário “It’s all true”, produzido pelo grande estúdio RKO, que procurava retratar um panorama idealizado de toda a América do Sul. No caso brasileiro, as filmagens se concentrariam nas belezas naturais da cidade, nos desfiles, alegorias e adereços e nos bailes de carnaval do Theatro Municipal, frequentados pela elite carioca. A iniciativa buscava ajudar tanto o governo norte-americano quanto do brasileiro Getúlio Vargas, em pleno regime do Estado Novo, na divulgação da imagem paradisíaca do Brasil no resto do mundo. Entretanto, Welles resolveu não seguir as orientações dadas pelos estúdios de Hollywood e o governo brasileiro. Ao invés disso, ao assumir toda a direção do filme, resolveu incluir mais um episódio na história, reencenando a epopeia de jangadeiros nordestinos que um ano antes, em plena ditadura de Vargas, viajaram mais de mil quilômetros de jangada, de Fortaleza até o Rio de Janeiro, para pedir melhores condições de trabalho para a classe. No caso do carnaval, Welles resolveu dar ênfase à região da Praça Onze, berço do samba, favelas e bailes populares, dando destaque aos negros, favelados e mestiços. O resultado desagradou aos dois países e o diretor perdeu o apoio e o financiamento ao projeto, finalizando as filmagens com técnicos e equipamentos brasileiros. Dezenas de horas de imagens e som ainda foram preservados, mas o filme permanece inacabado até os dias de hoje. 

Em sua última visita ao Rio, Sarah Bernhardt
sofreu grave acidente, que levou à amputação
de uma de suas pernas
(Foto: Wikimedia Commons)

A experiência do cineasta no Brasil é uma das histórias que serão relatadas no seminário “O Rio que eles viram”, que acontece no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), nos dias 19, 21, 22 e 23 de outubro. Inteiramente gratuito, o evento contará com oito palestras dadas por especialistas sobre visitantes ilustres, já falecidos, que passaram um período ou mesmo residiram na capital fluminense nos séculos XIX e XX, seguidas de debates abertos ao público, orientados por mediadores. “Em cada dia do evento serão apresentadas as visões que um artista e um cientista tiveram sobre a cidade”, explica a curadora do seminário, Thelma Lopes Gardair. Produzido pela Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj) com apoio do CCBB, o evento conta com o apoio da FAPERJ por meio do edital Apoio à Realização de Eventos Comemorativos Visando à Celebração dos 450 anos da Cidade do Rio de Janeiro.

No ano em que a cidade comemora seus 450 anos e perto de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, Thelma ressalta a importância de que os olhares estrangeiros sobre a cidade sejam mais do que os clichês da tríade samba, suor e cerveja. “A vocação cosmopolita e acolhedora, associada à estonteante beleza de praias, montanhas e pontos turísticos conhecidos internacionalmente, fazem da cidade um dos destinos mais procurados por turistas nacionais e estrangeiros”, explica. No entanto, ainda predomina a imagem de uma cidade hedonista, onde a tônica é o carnaval e a beleza feminina. “Não queremos desprezar os aspectos festivos do carioca, mas é necessário apresentarmos a cidade em todas suas nuances”, complementa.

A curadora do seminário discorre sobre histórias curiosas acerca das personalidades que serão apresentadas no seminário. Uma delas é da poetisa norte-americana Elisabeth Bishop (1911-1979). Pensando inicialmente em permanecer no País por duas semanas, ela aqui ficou por mais de 20 anos, fazendo o Brasil marcar sua vida como temática de numerosos poemas, contos e cartas. “Ao conhecer a arquiteta-paisagista Lota de Macedo Soares, uma das responsáveis pelo projeto do Parque do Flamengo, Bishop iniciou um romance e aqui permaneceu por mais de duas décadas”, explica. Inicialmente morou no Rio de Janeiro, depois nos arredores, em Petrópolis e mais tarde em Ouro Preto. Chegou durante o último governo Vargas, documentou o suicídio do presidente, viu a ascensão de Juscelino Kubitschek e a queda de Jango Goulart. “Apesar disso não tinha muita simpatia pela política brasileira. Considerava nossa elite pouco consciente e nossa realidade nesta área, muito contraditória”, diz.

O físico alemão Albert Einstein (3º a partir da dir.) durante sua
visita à Fundação Oswaldo Cruz (Foto: Acervo COC/Fiocruz)

Outro nome que terá destaque é o do britânico Charles Darwin (1809-1882). “Muito se fala do encantamento que o cientista teve no século XIX ao contemplar a exuberância da fauna e flora tropicais, mas pouco se destaca que ele também se chocou com a escravidão. Ou seja, ao mesmo tempo em que a natureza o encantou, os aspectos sociais da cidade o frustraram”, prossegue Thelma. Já no século XX, foi a vez do alemão Albert Einstein (1879-1955) passar pelo Rio, onde ficou hospedado no tradicional Hotel Glória, na Praia do Flamengo. Rio. O físico, além de cumprir um programa técnico-científico de visita a instituições acadêmicas, como o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), fez questão de visitar os pontos turísticos da cidade. “Diz-se, também, que as anotações de seu diário referem-se à flora do Rio como algo que, nas palavras dele, ‘supera os sonhos das mil e uma noites’ e o que chamou de ‘deliciosa’ mistura étnica de nosso povo”, conta  a curadora. Já a francesa Sarah Bernhardt (1844-1923), que é ainda hoje considerada uma das maiores atrizes teatrais de todos os tempos, visitou a cidade em quatro oportunidades, uma ainda durante o reinado de D. Pedro II. “Todas as vezes em que esteve aqui, sua passagem foi amplamente noticiada e causou alvoroço em toda a cidade. Entretanto, em sua última visita, sofreu um acidente grave ainda no palco, fraturando uma das pernas. A ferida nunca cicatrizou, o que levou à amputação do membro”.

Reprodução de parte do cartaz do evento mostra os visitantes caminhando
no calçadão de Copacabana. A partir da esq., Darwin, Elizabeth Bishop,
Oswaldo Cruz, Debret, Sarah Bernhardt, Marie Curie, Orson Welles e Einstein

O evento ainda contará com palestras sobre o sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz (1872-1917), responsável pela criação do instituto que depois levaria seu nome e pelas primeiras campanhas de vacinação no País, que resultaram na extinção da peste bubônica, varíola e febre amarela no território brasileiro; o pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que por 15 anos viveu no Brasil e que em suas pinturas procurou retratar os costumes e o cotidiano do Brasil colonial, e a educadora polonesa Marie Curie (1911-1979), primeira mulher a participar do corpo docente da Universidade de Sorbonne e Collége de France, além de ter sido a primeira pessoa a ser contemplada duas vezes com um Prêmio Nobel: primeiro, na área da Física, por suas descobertas no campo da radioatividade; em seguida, na Química, em 1911, pela descoberta dos elementos químicos rádio e polônio.

Thelma espera que as palestras suscitem alguns questionamentos e sublinha alguns dos principais objetivos do seminário. “O que teria motivado cada um destes cientistas e artistas a escolher a cidade? Quais foram os desafios culturais aqui enfrentados? E os olhares que construíram acerca da cidade? Como foram acolhidos? Que contribuições nos deixam como herança? E que Rio terá passado na vida de cada um deles?”, pergunta. “Devido às diferentes nacionalidades, áreas de atuação, temperamentos e interesses pessoais dos ilustres visitantes que aqui passaram, bem como os diferentes contextos sociais, políticos, artísticos e culturais em que viveram, poderemos compor um rico painel sobre a cidade. Além disso, esta variedade de personagens a serem apresentados, e a originalidade deste seminário irá despertar diferentes interesses em diferentes públicos”, conclui.

Serviço:

Seminário “O Rio que eles viram”
Duração: dias 19, 21, 22 e 23 de outubro de 2015
Horário: das 18h30 às 20h
(serão distribuídas senhas aos interessados uma hora antes do início de cada palestra)
Local: Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Rua Primeiro de Março, 66, Centro, Rio de Janeiro

Mais informações: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/o-rio-que-eles-viram/

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