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Publicado em: 08/10/2015
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Quando o risco de dependência é maior

Vilma Homero

Para Manhães, no adolescente, a dependência se dá
mais rápido e tem efeitos mais sérios
(Fotos: Divulgação)

O que faz mais mal à saúde de um adolescente, álcool ou nicotina? Para responder à pergunta, os especialistas não hesitam: os dois. Longe de uma resposta pela tangente, explica-se: o fumo estimula beber e a bebida leva a acender mais um cigarro, um e outro realimentando-se numa perigosa combinação. A quem acha que isso não passa de exagero, o médico Alex Christian Manhães, professor do Departamento de Ciências Fisiológicas do Instituto de Biologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), é enfático: “Tanto o álcool quanto o fumo agem sobre o cérebro de forma agressiva, mas em tempos diferentes. A questão toda é que, naqueles que ainda não têm o sistema nervoso central inteiramente formado, como é o caso dos adolescentes, as consequências da exposição à bebida serão sempre mais sérias e maior a probabilidade de se tornarem permanentes. Num cérebro jovem, por exemplo, o corpo caloso – comissura que liga os dois hemisférios cerebrais – é uma das estruturas que mais tardiamente amadurecem no organismo humano, até os 25 anos. Mesmo o lobo frontal, aquele responsável por avaliar riscos e tomar decisões, tem amadurecimento tardio”, afirma o pesquisador.

Fumar e beber são hábitos que se realimentam e essa
combinação faz a
dependência acontecer na metade do tempo

Como explica Manhães, estamos falando aqui de amadurecimento de estruturas físicas, e não daquele que acontece em decorrência das experiências vividas. “É claro que tudo também vai depender da intensidade e da frequência da exposição à bebida, assim como das características físicas individuais. Mas é preciso saber que o álcool altera o funcionamento de circuitos ligados à percepção de prazer, que são as raízes da dependência. Num cérebro ainda não completamente formado isso fica enormemente potencializado”, explica Manhães.

A consequência é que a dependência à bebida, que num adulto formado acontece em cerca de dez anos de consumo regular, num jovem pode se dar em menos da metade desse tempo. “Também é preciso considerar que, como o dependente vai aumentando a dose ao longo dos anos para obter os mesmos níveis de prazer, no adolescente esse processo se dá de forma bem mais acelerada e tende a ter efeitos mais duradouros”, diz o pesquisador. Ele explica que isso acontece porque, independente das variações de características individuais, a adolescência é um estágio de vida em que o cérebro é ainda muito plástico, fisicamente suscetível a influências externas. “O fato é que, nesse processo, mesmo um porre de fim de semana poderá ter consequências a longo prazo”, afirma.

No caso do cigarro, a nicotina – principal substância psicoativa presente na fumaça – age agudamente sobre os neurônios que usam a acetilcolina como neurotransmissor, ativando os chamados receptores nicotínicos, fortemente associados à dependência. De acordo com a frequência e com o grau de exposição, o sistema colinérgico vai se adaptando, com sua função progressivamente reduzida nas situações em que a nicotina não está presente. Ou seja, fuma-se mais para obter-se os níveis habituais de prazer. “No adolescente, mesmo com o uso eventual, esses efeitos tendem a ser permanentes”, afirma Manhães. “Tudo isso acontece apenas no cérebro. Há que somar-se as conhecidas consequências em outros sistemas, como o respiratório e o cardiovascular”, acrescenta.

Pior ainda quando bebida e cigarro estão associados, como, por sinal, costuma ocorrer na grande maioria dos casos. “A dependência múltipla é bem mais difícil de tratar. A droga para tratamento de uma delas pode ampliar o risco para outra. É sempre uma interação arriscada e um tratamento complicado de administrar. Se no adulto, o tratamento dá as respostas esperadas, no jovem, as mesmas substâncias podem ter efeitos inesperados. Por isso adotamos doses menores. O processo é mais lento, mas os resultados têm sido interessantes”, resume.

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