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Publicado em: 19/03/2015
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Quanto vale uma imagem no ensino de ciências?

Vinicius Zepeda

A forma como a ciência é apresentada nos
cordéis é 
debatida por Alberto Roiphe
(Foto: Campo Grande News)

Em reportagens de jornais impressos sobre pesquisas genéticas, é comum que a foto escolhida para ilustrar o conteúdo da matéria seja a de uma célula. Mas por que, nesse caso, não escolhemos uma fotografia de DNA, que além de ser muito mais próximo da temática, também está relacionado com o assunto? “Isso não ocorre por acaso, toda linguagem simbólica – aquela que se utiliza de símbolos, figuras, fotos, desenhos ou qualquer ícone gráfico que não a escrita – é também uma espécie de ‘alfabeto visual’. Nesse caso, a escolha dos ícones não é feita por acaso, e, sim, à base de muito estudo para tentar expressar uma representação, um conceito, através da imagem”, explica Carmen Irene de Oliveira, doutora em Ciência da Informação, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio).

“A opção pela célula, nesse caso, é atribuída ao fato de que associar genética com a imagem da célula torna a assimilação muito mais fácil para o público leigo, do que se associarmos a imagem do DNA. É uma espécie de simplificação que torna a mensagem universal, mesmo que nós cientistas saibamos que a genética não se resume somente à célula”, complementa. Para debater esta e outras questões, Carmen e sua colega Lucia Helena Pralon de Souza, também pesquisadora da UniRio, resolveram organizar o livro Imagens na educação em ciências (Edit. Lamparina/FAPERJ, 2014, 196 pág.). A publicação traz sete artigos que apresentam diferentes experiências sobre a temática, escritos ao todo por 12 autores, incluindo as organizadoras. A obra foi editada com apoio do programa Auxílio à Editoração (APQ 3), da FAPERJ.

Doutor em Educação, professor e pesquisador da UniRio, Alberto Roiphe, em artigo que abre a publicação, debate como a literatura de cordel, expressão típica da cultura nordestina, apresenta a ciência. Gênero literário popular, o cordel é escrito frequentemente na forma rimada, se origina de relatos orais, cantados pelos repentistas e depois impressos em pequenos livros também chamados de folhetos. “Apesar de usar a linguagem escrita, contar histórias e utilizar-se de recursos poéticos, o cordel, ao descrever ações e trabalhar com a imaginação do leitor, constrói imagens através de palavras”, exemplifica Carmen.

Uso de imagens em livros para ensinar mecânica no Ensino Médio é 
tema do artigo de Carmen Irene (Foto: Divulgação/Unesp) 

Perigo Alado, de autoria do repentista Gonçalo Ferreira da Silva, que fala sobre a prevenção ao mosquito transmissor da dengue, é um dos folhetos discutidos por Roiphe: “...Não deixar água parada/ Em panelas, em banheiro,/ E pneus, cacos de coco,/ Em vaso exposto em terreiro/ Em sacadas, nas escadas/ Vigilância dia inteiro”, escreve Silva em uma estrofe. Já em outro trecho, o folheto critica as ações governamentais para prevenir a doença. “O placar é muito claro/ Ao mostrar o favorito:/ Perde o governo de dez/ a zero para o mosquito”, diz o texto. “Dada a característica persuasiva do folheto, que busca a prevenção contra a doença, as estrofes (...) são marcadas por um caráter prescritivo e informativo, ainda que a crítica sociopolítica se anuncie”, explica Roiphe em seu artigo.

Já as imagens que vemos nos livros didáticos de Física são tema do artigo escrito por Carmen Irene, Guaracira Gouvêa, da UniRio, e Francisco G. de Sousa, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). O texto apresenta alguns dos resultados de quatro anos de pesquisas sobre como, no segmento da Mecânica, a técnica e a tecnologia são apresentadas, na forma de imagens, em mais de 35 livros didáticos dessa disciplina, no ensino médio. “Nesse ponto, cabe destacar o caráter interdisciplinar de nossa abordagem, o que só contribui para enriquecer e tornar mais consistente nossa abordagem, uma vez que atuamos em ramos diferentes da ciência. Eu sou formada em Letras; Guaracira em Física; e Francisco em História”, explica Carmen. Segundo ela, é possível verificar facilmente que, mesmo as imagens tendo um forte apelo que nos fazem, ainda hoje, já na vida adulta, recordar delas, as mesmas por si só não tornam o aprendizado da disciplina mais atraente. Nem mesmo fazem com que os estudantes aprendam a deduzir as fórmulas matemáticas necessárias para indicar forças na mecânica. “É o que podemos chamar de ‘descontextualização dos processos de desenvolvimento científico’”, complementa.

Molde tridimensional usado no ensino de Magnetismo para
deficientes visuais (Foto: Divulgação/Unesp)

Também organizadora do livro, Lucia Helena aborda, por uma outra vertente, uma temática semelhante à descrita pelo artigo anterior. Ela discute o uso e a escolha de determinadas representações imagéticas, fotográficas, gráficas e/ou vetoriais nos cursos de formação de professores das disciplinas científicas. “Os futuros professores, que aprenderam através do uso de determinados símbolos em vez de outros – como, por exemplo, no caso do uso das células para falarmos de genética para o público leigo em detrimento do DNA –, irão reproduzir nas salas de aula esta simplificação. Essas pessoas são os futuros professores que chamarão, ou não, a atenção de seus futuros alunos por meio da escolha do uso de imagens”, afirma Carmen.

Outra temática destacada por Carmen é a "leitura" de determinadas imagens por parte dos deficientes visuais, assunto apresentado por Maria da Conceição de Almeida Barbosa Lima, professora e pesquisadora do Instituto de Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “O artigo aborda como os educadores fazem para que os deficientes visuais possam entender determinados processos físicos através da leitura das imagens, mesmo sem enxergarem nada. Eles usam principalmente moldes em formato tridimensional para experimentarem o sentido do tato”, descreve. “Há formas de aprender que passam por outros sentidos, no caso o tato, e que contribuem para a construção de imagens mentais”, destaca.

Apesar de todo debate levantado, a organizadora da publicação afirma que há estudos sobre a temática em todo o País, mas produzidos de maneira dispersa. "Falta ainda um maior diálogo por parte dos diferentes grupos de pesquisa que estudam o tema para que, quem sabe, no futuro, possamos criar uma disciplina nos cursos de formação de professores da área científica, sobre o uso de imagens no ensino dela”, almeja Carmen. Ela, contudo, reconhece que seu sonho está bem longe da realidade. “Atualmente, essa possibilidade ainda se encontra distante. Talvez a organização de eventos com pesquisadores que estudam o tema fosse um caminho para discutir os critérios desta disciplina e como ela poderia se tornar realidade”, conclui.

Confira detalhes da obra no site da FAPERJ: http://www.faperj.br/?id=2747.3.5

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