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Publicado em: 05/03/2015
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Em busca de uma definição mais precisa para a nova classe média brasileira

Elena Mandarim

De acordo com a pesquisa, além de avaliar a faixa de renda,
é preciso considerar o estilo de vida na hora de classificar 
uma pessoa no grupo da nova classe média (Foto: Divulgação)

De uns anos para cá, muito se tem falado da parcela da população que ficou conhecida como a "nova classe média brasileira", também chamada de classe "C", cuja renda mensal domiciliar está compreendida de R$ 1.064 a R$ 4.591. Mas será que é possível considerar essa parcela da sociedade, que soma mais de 50% da população, como sendo realmente de classe média? De acordo com a economista Christiane Barbosa Eluan Uchôa, a resposta depende de qual metodologia se aplica para determinar os estratos socioeconômicos. Ela explica: “Para a classificação acima, realizada pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a renda foi o único critério analisado. Contudo, diversos estudiosos discordam dessa abordagem, por considerarem uma análise somente quantitativa e não qualitativa. Para eles, outros aspectos como o padrão de consumo e a ocupação do chefe da família também são fundamentais nesse debate.”

Com o objetivo de introduzir a perspectiva do “estilo de vida” na discussão do que é a classe média brasileira, Christiane desenvolveu sua pesquisa de doutorado, na Universidade Federal Fluminense (UFF), sob a orientação da professora Celia Lessa Kerstenetzky, e com bolsa do Programa Doutorado Nota 10, da FAPERJ. Ela conta que a motivação do estudo foi perceber que, no imaginário popular, existe um entendimento do que uma pessoa de classe média deve ter e ser, ou seja, espera-se um determinado estilo de vida. “Muito embora ocorra a preponderância no debate de que a renda é o elemento que diferencia os indivíduos, esse aspecto não engloba muitos de nossos juízos intuitivos sobre o que caracterizaria uma classe média”, resume.

O primeiro passo do projeto foi realizar um levantamento teórico para entender como a comunidade científica tem estudado o tema. Christiane conta que, ao analisar diversas pesquisas sobre a percepção pública, observou que a própria população enumera uma série de valores sociais e econômicos para caracterizar a classe média brasileira. Trocando em miúdos, significa dizer que a maioria da população espera um determinado estilo de vida para essa classe, como ter casa própria, carro e os filhos estudarem em escola particular, entre outros. Com essas informações nas mãos, a economista criou uma metodologia para avaliar os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, de 2008 e 2009, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Resumidamente, nós listamos os aspectos considerados mais importantes pela população para classificar a classe média brasileira. Depois, montamos diferentes perfis familiares – perfil de domicílio sem idoso e sem filho, perfil de domicílio com filho e perfil de domicílio com idoso –, relacionando o que cada um deles necessitaria para se enquadrar no grupo da classe média, usando os critérios listados anteriormente. E por fim, cruzamos todos os dados”, diz a economista, que exemplifica: “No perfil de domicílio com idoso e criança, por exemplo, é necessário ter uma renda familiar alta para manter o estilo de vida de classe média, já que se espera que a criança esteja em escola particular e que o idoso tenha plano de saúde, sem contar com as outras expectativas, de que essa família tenha carro e que tenha integrantes com formação superior, entre outros marcadores.” 

Segundo Christiane, foram incluídos no grupo da classe média os domicílios que conseguiam ter uma renda mínima para manter o estilo de vida esperado para o seu perfil. A partir dessa metodologia, os resultados obtidos indicam que o Brasil não pode ser considerado um país de classe média, visto que não apresenta metade de seus domicílios localizados nesse estrato socioeconômico. “Nossa conclusão é que as definições de renda da chamada ‘nova classe média’ garantem um maior número de domicílios com renda mediana, mas que não dispõem de um padrão de vida de classe média, tal como a nossa população entende.”

Christiane e sua orientadora acreditam que o grande interesse em torno da classe média é devido à importância desse segmento para o desenvolvimento econômico de um país. Celia ressalta que, independentemente da perspectiva analítica usada para estudar a segmentação social, é inegável que, no cenário global da última década, tem-se observado um aumento da camada intermediária entre ricos e pobres, que alguns analistas preferem tratar como o surgimento de uma nova classe média mundial. Christiane aposta no esforço contínuo de investigação dos aspectos que diferenciam esse estrato social, visto que eles podem mudar ao longo do tempo. Uma contribuição que pode ajudar a retratar de forma mais precisa a população e orientar políticas públicas que possam contribuir para a melhora do bem-estar de todos.

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