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Publicado em: 27/03/2014
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Nas entrelinhas das narrativas médicas

Elena Mandarim

Divulgação

Os clássicos acima foram usados no projeto para estimular
a discussão dos alunos sobre diferentes narrativas médicas
Há quem possa estranhar uma disciplina que junte medicina e literatura. Contudo, a combinação pode ser muito produtiva para promover uma formação mais qualificada dos alunos de medicina, principalmente no que diz respeito a possibilitar que futuros médicos tenham uma escuta mais atenta de seus pacientes. Na Universidade Estácio de Sá (Unesa), a professora Ana Luisa Mallet coordena um projeto que foge da abordagem padrão do texto científico e convida um grupo de estudantes a ler e discutir livros que tratam de relatos médicos do dia a dia. "O ato de ler uma narrativa por si só já exercita a audição, uma vez que, mesmo lendo em voz baixa, o leitor volta a sua atenção à história", explica Ana.

A iniciativa ganha maior sentido ao se ter conhecimento de que embora a grande maioria dos diagnósticos (70% a 90%) seja feita com base nos relatos do paciente, cada vez mais se tem observado que os médicos de uma forma geral se voltam apenas para os fatos ocorridos e os exames complementares. "Sabendo disso, nosso principal objetivo é melhorar a relação médico-paciente, para que o profissional consiga extrair o máximo de informações sobre as condições de saúde daquele indivíduo que procura ajuda médica", diz a pesquisadora.

Entre os livros usados para discussão da narrativa médica e para as resenhas dos alunos estão alguns clássicos, como A morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstoi; Enfermaria n 6, de Anton Tchekhov; O alienista, de Machado de Assis; além de Todo paciente tem uma história para contar, de Lisa Sanders; e Um antropólogo em Marte, de Oliver Sacks. Ainda como parte das atividades propostas no projeto, o grupo assistiu a filmes com temas médicos, apresentou casos clínicos e participou de atividades lúdicas, como montagem de quebra-cabeça, produção de peças cênicas e de teatro de sombras. "Vários exercícios foram orientados pelo professor de arte dramática Luiz Vaz, resultando em uma grande interação entre os participantes e na diminuição da timidez dos alunos. Já para a revisão gramatical dos textos produzidos, contamos com a participação da professora de literatura Aurora Barros."

Divulgação/Unesa
Narrativas médicas foram mostradaspor meio do teatro de sombras,
quefoi uma boa atividadepara intensificar a interação entre o grupo
Ana explica que o registro técnico, a chamada anamnese – com informações objetivas, como nome, idade e sintomas –, é insuficiente para uma compreensão plena do processo evolutivo da doença. "No lugar do médico que faz perguntas objetivas e superficiais, queremos formar um médico capaz de compreender que, quando um paciente cria uma narrativa para expor o que está sentindo, ele consegue dar mais informações sobre o ocorrido", relata a médica. E exemplifica: "Para responder uma pergunta objetiva, o paciente pode apenas dizer que está tendo fortes dores de cabeça, que já duram uma semana. Porém, se o médico pedir para que conte detalhadamente sobre sua rotina quando a dor começou, pode obter informações preciosas do paciente, como o relato de uma briga com a esposa, que acabou bebendo, caindo e batendo a cabeça. Com isso, o médico já abre novos leques de pontos para investigação, como depressão, estresse, alcoolismo ou até mesmo um trauma decorrente da batida na cabeça, que pode ter gerado um coágulo."

Segundo a pesquisadora, se por um lado é preciso estimular os médicos a exercerem uma audição qualificada, por outro é necessário que eles também sejam capazes de transcrever, de forma coerente, os relatos obtidos para o prontuário do paciente, preservando as informações relevantes. "Para isso, os alunos foram convidados ainda a escrever não apenas sobre as experiências pessoais com seus pacientes, como também a fazer resenhas sobre os livros que foram discutidos", conta Ana. Ela destaca que, como resultado principal, o grupo produziu um livro, que em sua quase totalidade reuniu textos dos alunos participantes. Literatura e medicina: uma experiência de ensino será lançado em breve. A iniciativa recebeu recursos do programa de Apoio à Produção de Material Didático para Atividades de Ensino e/ou Pesquisa, da FAPERJ.

Divulgação/Unesa

Outra atividade proposta no projeto foi produzir
quebra-cabeças para contar narrativas médicas
A pesquisadora destaca que após um ano de trabalho, realizado ao longo de 2013, é possível afirmar que o projeto teve um caráter transformador e permitiu aos alunos obter um novo olhar sobre seu modo de pensar e agir. Além disso, a leitura, como atividade complementar, sempre amplia o conhecimento geral dos estudantes, ajudando a preencher lacunas muitas vezes observadas pelos professores, ao longo do curso. "Nossa meta agora é continuar com o projeto, neste e nos próximos anos. Ou até, quem sabe, incluir essa nova abordagem no currículo do curso de medicina da Unesa, como uma disciplina obrigatória", entusiasma-se. Sem dúvida, criar um ambiente de estudo entre literatura e medicina pode ampliar o imaginário e o universo de compreensão dos alunos, para que sejam capazes de obter informações nas entrelinhas das histórias contadas pelos pacientes.

Participaram do projeto, os professores Ana Luisa Rocha Mallet, Aurora Barros, Luciana Andrade, Luiz Vaz, Silvana Ferreira, Sylvia Maria Porto Pereira e os estudantes de medicina Alcenir Caverzan Alves Júnior, Amanda Figueiredo Martins, Barbara Mançor, Claudia Roberta de Miranda, Daniel Cohen Sapoznik, Gabriela dos Santos de Carvalho, Guilherme Lambert Silva, Larissa Rodrigues dos Santos Gomes, Loïse Faber, Lucas Najar, Luciana Matoso, Mariana Brêttas, Mariana Nery e Rodolfo Lopes da Silva.

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