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Publicado em: 23/01/2014
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Ecomuseu da Uerj promove o desenvolvimento sustentável na Ilha Grande

Débora Motta

                                                                    ilhagrande.org
      
      Vista da Vila Dois Rios: praia fica na parte sul da
      Ilha Grande, com chegada por trilha de difícil acesso
Reduto de uma natureza exuberante, com trechos de Mata Atlântica ainda preservada, a Ilha Grande é um dos destinos que mais atraem turistas nacionais e estrangeiros no estado do Rio de Janeiro. Localizada na região da Costa Verde, como parte do município de Angra dos Reis, a terceira maior ilha oceânica do País é um santuário que reúne praias idílicas, cachoeiras, rios, trilhas e enseadas, com a singularidade de um relevo acidentado e montanhoso. Somado à riqueza da fauna e flora, a ilha é o cenário de tradicionais vilas de pescadores, onde os moradores seguem os costumes da cultura local.  

Aproximadamente 12 quilômetros de uma trilha com trechos de barro, de difícil acesso, separam a porta de entrada da Ilha, a badalada Vila do Abraão, da pouco habitada Dois Rios, mais isolada, na parte sul. Com uma extensão de cerca de um quilômetro, a praia de Dois Rios é a zona de confluência de dois córregos que desaguam em um mar de águas cristalinas. O romantismo e a beleza de Dois Rios contrastam, contudo, com a história de privação vivida pelos detentos da antiga Colônia Penal Cândido Mendes – o “Caldeirão do Diabo”. Fundada em 1893, a prisão confinava indivíduos considerados de alta periculosidade e abrigou personalidades como Graciliano Ramos, Fernando Gabeira e Madame Satã.

Desde 1998, a área do presídio deu lugar ao Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (Ceads), centro de pesquisa avançado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) para estudos em diversas áreas do conhecimento, entre elas oceanografia, botânica, zoologia e ciências sociais. No Ceads, a universidade vem, com o apoio da FAPERJ, fazendo valer o tripé ensino, pesquisa e extensão. Um dos desdobramentos dessa iniciativa foi a criação do Ecomuseu Ilha Grande, dirigido desde 2009 pelo antropólogo Ricardo Gomes Lima, também diretor do Departamento Cultural da Uerj.

Criado sob a supervisão da socióloga Myrian Sepúlveda dos Santos, o ecomuseu tem como missão informar e educar visitantes e moradores sobre o patrimônio histórico e ecológico da ilha, bem como apontar medidas de proteção aos bens naturais e culturais da região. Trata-se de um amplo complexo, dividido entre o Museu do Cárcere, o Museu do Meio Ambiente, o Centro Multimídia e o Parque Botânico. Para se ter ideia da importância da universidade em Dois Rios, basta dizer que o meio de transporte público para os moradores irem à vila do Abraão, oferecido diariamente, é o ônibus da Uerj.

Reciclagem via artesanato e estudo da cultura caiçara

Apostando no desenvolvimento sustentável para a preservação ambiental e cultural, Lima coordena, no ecomuseu, duas linhas de trabalho: a reciclagem de material plástico descartado na ilha, que passou a ser utilizado como matéria-prima em artesanato; e o estudo da cultura caiçara. Ambos os projetos geram impactos positivos que vêm contribuindo diretamente para a melhoria da qualidade de vida dos moradores de Dois Rios. Por sinal, muitos deles são antigos detentos ou funcionários do presídio desativado, além dos pesquisadores e técnicos da Uerj.

 Angélica Liaño
       
  O antropólogo Ricardo Lima, de pé, dá suporte ao trabalho
de artesãos na sede do Ecomuseu Ilha Grande, em Dois Rios

O projeto de reciclagem, intitulado “Ecomuseu Recicla: alternativas para o desenvolvimento sustentável da Vila Dois Rios a partir do artesanato consciente”, foi contemplado pela Fundação com o edital Prioridade Rio. A proposta é criar uma nova ferramenta para a promoção de ações conjuntas com as associações comunitárias da ilha, visando à inclusão social da população local. “Fiz um levantamento do lixo em Dois Rios e observei que havia uma grande quantidade de garrafas PET e materiais plásticos. Propus então que esse material passasse a ser utilizado como matéria-prima para o artesanato local”, resumiu Lima.

A partir de oficinas práticas e teóricas, os moradores vêm participando de atividades capazes de proporcionar aprendizagem e valorização de aspectos relacionados à importância da coleta seletiva, não apenas como forma de preservação ambiental, mas também como fonte alternativa de renda. “Estamos capacitando-os para que se especializem no artesanato consciente e sejam cidadãos participativos no desenvolvimento sustentável da região”, destacou Lima. E prosseguiu: “Atualmente, é muito raro encontrar uma garrafa PET descartada de forma irregular em Dois Rios. Os moradores fazem coleta seletiva e transformam o material em flores e peixes artesanais.” O artesanato é vendido, principalmente, para os visitantes do próprio ecomuseu.  

Já o projeto voltado para a identificação da cultura caiçara recebeu recursos da FAPERJ com o edital Apoio a Projetos de Pesquisa na Área de Humanidades. A cultura caiçara nasceu do encontro dos indígenas com os novos colonizadores que despontaram na baía de Ilha Grande no início do século XVI e está presente na ilha nos tempos atuais, incorporando novos princípios. Trata-se de uma cultura viva e dinâmica, devido às rápidas transformações culturais que o local tem passado, com o aumento do fluxo de visitantes e moradores.

Para Lima, estudar a cultura caiçara é o primeiro passo para conhecer as peculiaridades da população local e ajudar na formulação de políticas públicas que atendam às demandas da comunidade. “Essa população está instalada ali há 400 anos e tem algumas características bastante específicas, que se evidenciam, por exemplo, na pesca e agricultura, predominantemente da mandioca, e pelo sentimento religioso, majoritariamente ligado ao catolicismo popular", explicou o pesquisador.

                                                                       Angélica Liaño
       

       Artesão esculpe canoa na madeira: ritual de passagem
       para a vida adulta dos homens,
comum na cultura caiçara
  
   

Ele cita como exemplo dessa singularidade da cultura caiçara o uso da árvore guapuruvu, empregada para a fabricação de canoas na ilha. “Quando tem um filho homem, o pescador planta um pé de guapuruvu, que leva de 18 a 20 anos para crescer. Quando a criança se tornar adulta vai ganhar uma canoa feita do tronco da árvore. É um ritual de passagem associado à chegada da vida adulta dos homens”, disse. E foi além: “Agora, o abate da árvore está regido por uma lei de proteção ambiental do parque, mas conhecer a importância do guapuruvu para a cultura caiçara é imprescindível, porque temos que adequar as leis à vida humana. Assim, estamos levantando os valores e as formas de viver na ilha”, concluiu.


Serviço

O Ecomuseu Ilha Grande (Rua Amapá, s/n - Vila Dois Rios) funciona de terça a domingo, das 10h às 16h, incluindo feriados – exceto 25 de dezembro e 1 de janeiro. O agendamento de visita guiada deve ser feito pelos telefones (21) 2334-0939 ou (24) 3361-9055 ou pelo e-mail ecomuseu@uerj.br . O museu oferece transporte para grupos de até 20 pessoas, prioridade para escolas públicas e terceira idade, mediante agendamento prévio.

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