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Publicado em: 12/09/2013
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Por um Rio Saudável: seminário debate alternativas para qualidade de vida

Lécio Augusto Ramos 

       

   A mesa de abertura do evento: Rex Nazaré Alves (E), Ruy Marques,
   Gustavo T
utuca, Jerson Lima, Rosângela Cavallazzi e Adauto Araújo


A mobilidade urbana, os problemas criados pelo modelo de desenvolvimento adotado e a busca de alternativas que privilegiem a qualidade de vida da população fluminense. Foram essas as principais questões que nortearam as discussões no seminário "Por um Rio Saudável: Direito à Cidade", realizado pela FAPERJ nessa terça-feira, 10 de setembro, no auditório da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O evento reuniu pesquisadores e profissionais do setor público, além de estudantes universitários e de pós-graduação durante um dia inteiro de debates.

Coordenado pelo médico Adauto José Gonçalves de Araújo, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e pela advogada Rosângela Lunardelli Cavallazzi, do programa de Pós-Graduação em Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ambos coordenadores de área da FAPERJ, o seminário contou com a presença do secretário de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, do presidente da FAPERJ, Ruy Garcia Marques, do diretor científico da Fundação, Jerson Lima Silva, e do diretor de Tecnologia, Rex Nazaré Alves.

Durante a abertura, que teve lugar pela manhã, o secretário Gustavo Tutuca parabenizou a Fundação pela realização de mais esse seminário – o quinto organizado em 2013 – e lembrou que o cumprimento da constituição estadual, que garante o repasse dos 2% da arrecadação líquida do estado para a FAPERJ permitiu que, a partir de 2007, ela tivesse uma atuação mais efetiva e independente. Ele também destacou o quanto o tema do seminário é importante para o estado do Rio de Janeiro. "Discutir práticas e medidas para tornar o Rio mais saudável é uma pauta que deve estar presente na agenda do poder político. Mas igualmente importante é convocar a população para dar sua contribuição, discutindo mudanças de forma democrática."

Esse, aliás, foi um ponto em que todos concordaram: promover um espaço para discussões relevantes é também uma das missões de uma agência de fomento responsável e preocupada com os problemas que afligem a população. Para o presidente da FAPERJ, Ruy Garcia Marques, a ideia de realizar diversos seminários ao longo deste ano surgiu durante a reunião de avaliação e planejamento da Fundação, em dezembro de 2012. "Na ocasião, vimos a necessidade de aumentar ainda mais as ações da FAPERJ para difusão e popularização da ciência. Foi assim que pensamos em alguns temas relevantes a serem discutidos em seminários", afirmou Ruy Marques. Ele destacou que este quinto encontro teve como objetivo discutir formas para reduzir as condições de vulnerabilidade dos direitos sociais fundamentais da sociedade, como educação, saúde, liberdade, moradia, transporte, lazer e serviços públicos.

Lécio Augusto Ramos 
    
  Moderador da parte da manhã, Jerson Lima destacou o papel
  da FAPERJ no fomento à pesquisa em instituições do estado

Para o diretor científico da FAPERJ, Jerson Lima, a iniciativa já começa a apresentar resultados. "No recente ranking das universidades brasileiras, divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo, podemos observar que as instituições fluminenses alcançaram boas colocações. É fácil deduzir que o papel da Fundação tem sido fundamental, na medida em que vem fomentando cada vez mais o desenvolvimento de pesquisas, em todas as áreas do conhecimento, nas instituições públicas e privadas do estado, contribuindo para melhorar a qualidade do ensino e aumentar a produção do conhecimento cientifico." Engrossando o coro, o diretor de Tecnologia, Rex Nazaré Alves, afirmou que o seminário é uma boa oportunidade para entender como o Rio de Janeiro está avaliado nos principais indicadores sociais, como mobilidade urbana, escolaridade, expectativa de vida, entre outros.

Com o tema "A multiplicidade da paisagem: leituras contemporâneas", a primeira mesa-redonda do dia contou com Lucia Maria Sá Antunes Costa, professora titular de Paisagismo, da UFRJ, que apresentou a história da construção do Parque do Flamengo para exemplificar como a arquitetura e a utilização dos espaços urbanos são importantes para criar uma identidade para a cidade. "No caso do Rio de Janeiro, a interação da população com os espaços públicos disponíveis é uma construção coletiva, que representa os valores daqueles que utilizam essas áreas das mais variadas formas, seja para o lazer, para o trabalho ou para o esporte."

Na sequência, o musicólogo Ricardo Cravo Albin, considerado um dos maiores pesquisadores da Música Popular Brasileira (MPB), fez uma análise histórica sobre a relação entre a urbanização do Rio de Janeiro, o nascimento dos principais núcleos da MPB e a ocupação desordenada dos morros e encostas da cidade, sempre conhecidas como favelas e chamadas atualmente de comunidades. "Sempre houve uma clara separação entre as paisagens do asfalto e as das comunidades. Hoje em dia, felizmente, as comunidades estão num momento de grande efervescência e, ao que tudo indica, estão voltando a contar com o exercício do poder público. Um dos grandes benefícios é o Rio de Janeiro deixar de ser uma cidade partida – asfalto e favela – para se tornar uma cidade integrada."

Lécio Augusto Ramos 

         
         Ricardo Cravo Albin faz palestra observado por Ricardo César
           Pereira Lira e Lucia Maria Sá Antunes Costa e Jerson Lima
Fechando as exposições da primeira mesa, Ricardo César Pereira Lira, professor aposentado da Faculdade de Direito da Uerj, falou sobre a vulnerabilidade das metrópoles. Ele afirmou que a urbanização do Brasil, como um todo, ocorreu de forma acelerada, principalmente no decorrer no processo de industrialização do país. "Em pouco tempo, 83% da população brasileira passou a residir principalmente nas grandes cidades, entre elas, o Rio de Janeiro. Esse crescimento urbano não foi acompanhado de investimentos públicos em infraestrutura para garantir os principais direitos sociais, como saúde, educação e emprego", explicou Lira. Ele concluiu sua fala dizendo que "como consequência, as grandes cidades contam com uma multiplicidade de paisagens que mesclam diferentes realidades dentro de um mesmo contexto urbano."

No intervalo entre as duas mesas-redondas, foi exibido um vídeo, de cerca de 20 minutos, em que 15 pesquisadores, a maioria Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ, de diferentes áreas do conhecimento e instituições, expõem sua opinião sobre como enfrentar o desafio de buscar um Rio de Janeiro saudável e preparar a metrópole para o futuro.

À tarde, teve lugar a segunda mesa-redonda do dia: "Qualidade de vida: mobilidade, espaço e ética", com mediação da cientista política Marta Skinner, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e a participação de Hermano Castro, diretor da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do economista Henri Acselrad, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Superintendente da Leitura e do Conhecimento da Secretaria de Estado de Cultura, Vera Saboya; e da Defensora pública Larissa Elias Davidovich, do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon).

Para debater o tema proposto, Hermano Castro começou apresentando alguns dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a OMS, entre 50% e 60% das doenças respiratórias agudas do planeta estão relacionadas à poluição atmosférica, causada por automóveis e indústrias com tecnologias poluentes nas grandes cidades. Ele destacou que, no Rio de Janeiro, a instalação de grandes fábricas em bairros da Zona Oeste vem gerando uma série de problemas na saúde da população. "Em Bangu, menos de 20% dos dias do ano apresentam boa qualidade do ar. Em Santa Cruz, a instalação de uma poderosa multinacional alemã que ainda realiza beneficiamento de amianto – tecnologia poluente e obsoleta – vem gerando acidentes ambientais, que poluem a atmosfera local e, a curto prazo, provocam problemas respiratórios, doenças de pele e olhos nos moradores, e, a longo prazo, aumentam a taxa de morbidade da população", explicou. Ele ainda criticou a proposta de duplicação da autoestrada Lagoa-Barra. "O que precisamos é pensar outras opções de transporte coletivo de qualidade, menos poluentes e mais baratos, como o metrô, e a transformação dos trens em metrô de superfície, os chamados veículos leves sobre trilhos (VLTs), entre outras soluções", complementou.

Lécio Augusto Ramos 
    

A partir da esq., os palestrantes da tarde: Henri Acselrad, Hermano Castro,      
    Vera Saboya, Larissa Elias Davidovich e a moderadora Marta Skinner


Já o economista Henri Acselrad, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chamou atenção para o chamado urbanismo competitivo, que vem dominando o crescimento das grandes cidades nos últimos 30 anos. "Esse conceito está centrado na especulação imobiliária e na atração de grandes investimentos privados por meio da redução de impostos. Na realidade, os municípios acabam competindo para ver qual deles consegue atrair esses capitais. Mas será que decisões políticas centradas em vender a imagem da cidade e gerar lucro representam realmente melhorias na qualidade de vida da população?", questionou.

Para a superintendente da Leitura e do Conhecimento da Secretaria de Estado de Cultura, Vera Saboya, um exemplo de iniciativa bem-sucedida de espaços para recuperação da cidadania e da autoestima de moradores de áreas marginalizadas da cidade é o projeto das bibliotecas-parque. "Inspiradas num modelo colombiano, estas bibliotecas são grandes obras arquitetônicas, realizadas pelos vencedores de concursos internacionais, entre os melhores profissionais do mercado para criarem espaços multimídia, integrando cinema, teatro e atividades gratuitas", explicou Vera. No Rio, a primeira foi inaugurada na favela de Manguinhos, dois anos antes da chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) à comunidade, e hoje já existem projetos semelhantes na Rocinha, no Morro do Alemão e em comunidades de Niterói. Também está em andamento a reforma da antiga Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro. "Queremos oferecer o que há de melhor para aqueles que ficaram tanto tempo sem opções culturais. No local, prevalece um conceito de transparência, em que não há fichas nem catracas para entrada e saída de pessoas. A ideia é a de que os usuários sintam realmente que aquele local lhes pertence e, portanto, é realmente público", destacou.

A defensora pública Larissa Elias Davidovich, do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), destacou o trabalho prestado pelos órgãos de defensoria para os cidadãos sem recursos para contratar advogados. "A cidade que temos ainda está muito distante daquela que queremos. Apesar disso, há caminhos e políticas públicas que podem contribuir para melhorar a vida da população. Temos prestado assistência jurídica nas favelas e em regiões mais carentes, oferecendo serviços públicos para atender, por exemplo, mulheres vítimas de violência, ajudar a promover a regularização de moradias em comunidades e de serviços essenciais, como água, luz e esgoto, educação e saúde", explicou.

Para a moderadora Marta Skinner, cientista política da Uerj, o evento promoveu uma oportunidade de se pensar multidisciplinarmente o futuro da cidade. Ela lembrou as manifestações que vêm tomando conta do país desde junho. "Esses eventos serviram para traduzir o mal-estar da atual civilização, que tem investido para gerar lucros, mas tem deixado os homens em segundo plano. Precisamos pensar um modelo de cidade em que a qualidade de vida de sua população seja o mais importante", conclui. 

Veja o vídeo produzido para o seminário pelo link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=9yWRFiXs8Pg&feature=youtu.be
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