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Publicado em: 01/08/2013
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Diferentes olhares do fotojornalismo: projeto conta história da imprensa brasileira

Danielle Kiffer

 

Milton Guran        

             

       Nos anos 1980, antes das câmeras digitais, avaliação de fotos
  seguiam outros parâmetros: imagens 
possibilitavam diversas leituras

    


Uma imagem vale mais que mil palavras. O dito popular pode ser evocado também para destacar a importância que as fotografias têm para a vida social, incluindo o jornalismo. No projeto “O olhar contemporâneo: memórias do fotojornalismo, Rio de Janeiro 1940-1990”, a fotógrafa Silvana Louzada da Silva, bolsista do programa Apoio ao Pós-doutorado no Estado do Rio de Janeiro – parceria da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes/MEC) com a FAPERJ –, destaca a importância que as fotos adquirem, como catalisadoras históricas e transformadoras sociais, na história da imprensa brasileira. A pesquisa é desenvolvida no Laboratório de História Oral e Imagem sob a supervisão da historiadora Ana Maria Mauad, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

 

Para levar adiante a proposta de pesquisa, foram entrevistados alguns dos principais repórteres fotográficos que atuaram entre os anos de 1940 e 1990, e reunidas algumas de suas principais imagens. As entrevistas, que abordam a trajetória de cada um deles, suas histórias de vida, desde quando ainda eram crianças até o período de pleno exercício profissional, estão sendo armazenadas no Laboratório de História Oral e Imagem (Labhoi) da UFF. O objetivo é disponibilizar as informações para estudos e pesquisas universitárias. "Nossa intenção é reconstruir a trajetória desses profissionais, contando como começaram na profissão, seu histórico familiar, em paralelo com o período em que atuaram como ‘mediadores sociais’, na medida em que participaram ativamente dos processos de transformação da mídia. Apresentamos a fotografia que foi produzida por tais agentes como suporte de representação social”, conta Ana Maria.

 

Silvana Louzada da Silva
                       
Comunidade quilombola: a partir da década de 1980,
  repórteres fotográficos retratam temática social

As pesquisadoras ressaltam que as primeiras gerações de fotojornalistas brasileiros vivenciaram a Segunda Guerra Mundial e viam fotógrafos, incluindo um dos expoentes da profissão, o francês Henri Cartier-Bresson, como verdadeiros heróis. “À época, a atividade do fotógrafo ainda não era reconhecida como categoria profissional, sendo vista, por causa da guerra, de uma forma romantizada”, diz Silvana. “A necessidade de imaginar, visualmente, o Brasil do futuro marcaria a geração de fotógrafos formada no ambiente do pós-guerra, definido tanto pela defesa dos valores democráticos, como por um processo de internacionalização da cultura ocidental”, acrescenta. Naquele período, a formação dos profissionais ainda estava ligada à experiência de vida pessoal e à convivência com os colegas de trabalho em redações de jornais. Em 1951, o lançamento do jornal Última Hora introduz um estilo e formato novos ao jornalismo. “Com o lançamento do jornal pelo Samuel Wainer, começa a haver uma maior profissionalização dos fotógrafos. A fotografia avança e, no âmbito jornalístico, passa a ter mais valor, mais espaço”, diz Silvana.

 

A partir dos anos de 1960, período histórico muito intenso devido à instalação do regime militar no Brasil, o fotojornalismo ganha uma característica mais militante, que irá influenciar diretamente no engajamento político dos fotógrafos nas duas décadas subsequentes. “Com o golpe de março de 1964 e a instauração do estado de exceção, a fotografia passa a ser também utilizada como instrumento de resistência, na medida em que alguns jornais se apropriam da linguagem fotográfica como uma forma de driblar a repressão a eles imposta, tendência que percorre praticamente todos os anos 1970”, ressalta Silvana.

Algumas histórias curiosas, envolvendo fotógrafos que viveram os chamados “anos de chumbo”, foram recuperadas pela pesquisa, como a do fotógrafo Alberto Jacob. “Ele nos contou em entrevista que, assim que tiravam uma foto, rapidamente retiravam o filme da máquina sem que ninguém visse e passavam para amigas ou repórteres guardarem em suas roupas íntimas, pois tinham a certeza de que seus equipamentos seriam quebrados pela polícia”.

 

A geração seguinte de fotógrafos, que entra em cena nos anos 1980, o foco principal do estudo, passa a frequentar cursos de especialização e universidades e, pouco a pouco, começa a formar uma nova classe profissional. Segundo Ana Maria, este é um momento de reformulação política no País, com a redemocratização, que mobiliza e une ainda mais os fotógrafos, quando, então, surgem diversas agências independentes de fotografia, mudando não só a forma como se faziam as fotos, como também o papel do fotógrafo na sociedade. “A pesquisa aborda a fotografia não só como imagem, mas também como objeto de reflexão histórica, em que as fotografias são examinadas à luz do processo transformador da sociedade”, afirma Ana Maria. “É neste período que acontece o engajamento profissional dos fotógrafos, que passam a trabalhar mais com questões sociais e antropológicas e preferem não estar presos a uma linha editorial de um jornal ou de uma revista em particular, unindo seu trabalho a uma prática social”, reitera Ana Maria, que acrescenta: “a visualidade pode ser vista como uma plataforma de ação social, que produz sentido pela visão. E as fotos são como textos, que mobilizam o público”. É neste ínterim que comunidades indígenas, quilombolas, travestis e prostitutas passam a ser temas de ensaios e trabalhos fotográficos.

 

No século XXI, com a consolidação da fotografia digital e, consequentemente, a democratização da prática fotográfica, os parâmetros utilizados para avaliação de uma imagem tornaram-se um pouco diferentes. Antes da chegada da foto digital, uma imagem considerada sofisticada nos anos 1980, como a tirada pelo fotógrafo e antropólogo Milton Guran, que retrata os políticos Ulysses Guimarães e Tancredo Neves – a foto dá a impressão de que o rosto do segundo repousa na mão do primeiro –, seria aquela em que a leitura da imagem poderia trazer alguma ambiguidade. “Hoje, há consolidadas diferentes estratégias de comunicação pelas fotos, devido à possibilidade de multiplicidade de cliques dos mais diversos ângulos”, diz Ana Maria. "Há, inclusive, outros fatores que influenciam na linguagem fotográfica, como a prática do coletivo fotográfico. Exemplo disso são as escolas de fotógrafos populares, como a que existe hoje na Maré, no Rio de Janeiro, que demonstram um caráter diferente de militância, em que a comunidade constrói a sua própria identidade por meio da prática fotográfica”. Entre os fotógrafos entrevistados para o projeto estão nomes de destaque no fotojornalismo brasileiro, como Claudia Andujar, Luiza Venturelli, Rogério Reis, Zeka Araújo, Juvenal Pereira, Milton Guran, Adalberto Diniz, Kim-Ir-Sen Pires Leal, Duda Bentes, Evandro Teixeira e Walter Firmo.

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