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Publicado em: 20/09/2012
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Uma viagem para entender o corpo e a alma da cultura africana

Divulgação

               
     Harpa de quatro cordas em madeira, couro
      e tecidos, da etnia Mangbetu, do Congo

Vinicius Zepeda

O sucesso da cooperação Fiocruz-África foi bem além da área da saúde. Se por um lado no início de 2012 houve a instalação da primeira fábrica pública de produção de medicamentos em Matola, província da capital moçambicana, e do primeiro escritório internacional da Fiocruz, em Maputo, no mesmo país, por outro, essa cooperação também marcou o interesse despertado nos pesquisadores brasileiros pela arte africana. Vários deles começaram a adquirir esculturas, objetos e imagens, que abrangem expressivos aspectos da arte daquele continente. "A cultura se expressa na arte, que é a síntese, a alma de um povo. E para cuidar da saúde das pessoas, nada melhor do que conhecer a maneira como elas vivem." A afirmação é de Gisele Catel, historiadora e antropóloga da Casa de Oswaldo Cruz – unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) voltada para atividades de pesquisa e divulgação da história da saúde no Brasil – e, ao lado do imunologista Wilson Savino, curadora da exposição que reúne no Museu da Vida/Fiocruz boa parte das coleções formadas pelos pesquisadores brasileiros.

Além de seu escritório, a unidade de produção de medicamentos da Fiocruz – Farmanguinhos – transferiu tecnologia  para inaugurar a primeira fábrica de antirretrovirais, que também é a primeira instituição pública do setor farmacêutico no continente, onde a incidência de casos de Aids é alta e poucos são os recursos para tratamento. Entre esculturas, máscaras, objetos, são 139 peças peças reunidas na mostra "O Corpo na Arte Africana", em que se procura desvendar um pouco da cultura da África Subsaariana, também conhecida como África Negra, uma região marcada pela diversidade das várias etnias que nela habitam. Realizada com apoio da FAPERJ, pelo programa Auxílio a Organização de Eventos (APQ 2), a mostra reúne peças adquiridas na última década pelos pesquisadores Wim Degrave, Rodrigo Corrêa de Oliveira, Paulo Sabroza e do próprio Wilson Savino.

Os curadores optaram por mostrar a cultura africana através de um encontro direto do visitante com cada obra exposta. "Se fôssemos explicar a cultura relacionada a cada objeto, de cada etnia diferente, teríamos que fazer uma exposição para cada um deles. Cada etnia é um universo particular, com todas as suas particularidades", complementa. Para Gisele Catel e Wilson Savino, "a arte africana pode despertar surpresa, encantamento ou mesmo espanto, mas nunca indiferença".

Uma das peças, por exemplo, é a harpa de quatro cordas, em madeira, que faz parte da coleção do próprio Savino, cujo cabo é uma haste esculpida com a cabeça de uma figura feminina. Feita em couro, madeira e fios tecidos que compõem as cordas, o instrumento, originário da República Democrática do Congo, também exibe no rosto da figura as marcas decorativas que distinguem sua etnia, a mangbtu.  Da mesma forma, a máscara Pwo, trabalhada em madeira, fibra vegetal, pigmentos e tecido, reproduz as formas de decoração do rosto e de penteado dos chokowe, etnia que habita tanto o Congo quanto Angola. Além das peças reunidas pelos cientistas da Fiocruz, a exposição apresenta um acervo inédito de 14 fotos da África tiradas entre 1885 e 1930. "Essas imagens fazem parte do acervo pessoal de Gérard Levy, o maior colecionador de fotos antigas do continente", explica Gisele. Completa a mostra um conjunto de oito grandes peças de tecidos do Mali e de Moçambique, feitos em tear e pintados à mão ou pela técnica do batik, com dimensões de 2,20 x 1,6 metros.

Divulgação 
                 
Máscara Pwo em madeira, fibra vegetal, pigmento
e tecido, da etnia Chokowe, do Congo e de Angola

Como explicam os curadores, em praticamente todos os países do continente africano, o corpo é quase sempre visto e utilizado como objeto a ser esculpido. Nesse sentido, diversas intervenções, definitivas ou temporárias, são bastante comuns entre diversas etnias. "Elas marcam o pertencimento a um povo, uma classe ou o status de um indivíduo", esclarece Gisele. É o caso tanto das pinturas corporais como dos desenhos formados por cicatrizes – as chamadas escarificações – associados a diversos simbolismos e em alguns casos também à sensualidade feminina. Ou ainda das mulheres-girafa, que têm o pescoço alongado pela colocação de anéis, como símbolo de status, dos alargadores de orelha e discos labiais semelhantes aos usados por vários tribos indígenas brasileiras", ensina a historiadora e antropóloga. Essas modificações corporais são tema de um dos cinco módulos em que se divide a exposição.

O primeiro módulo apresenta os gêneros humanos, sua relação com as divindades, temores e demais crenças dos povos. Ali são apresentadas esculturas de corpos individuais, masculinos e femininos, gêmeos, siameses ou mesmo corpos múltiplos que simbolizavam a fertilidade. Segundo a crença de vários povos africanos, objetos de poder ligados à feitiçaria possuem o dom de curar ou mesmo de trazer doenças, de garantir proteção ou mesmo de destruir. Já a relação entre a maternidade e a sexualidade é o tema da segunda parte da mostra. "Em quase todas as culturas do continente, vemos a imagem do casal primordial, que é associado ao divino ou ao início da linhagem. Vale destacarmos o papel das esculturas femininas, que retratam a fertilidade, o começo de tudo", completa. Também são expostos objetos faliformes – semelhantes ao órgão sexual masculino e associados à força, ao poder e à virilidade –, máscaras de barriga e imagens de maternidade.

Coleção Gérard Levy, Paris, 1930, 1910  

         
        Escarificações na pele como símbolismo e sensualidade (E); 
        penteados exóticos que influenciam os negros até hoje (D)
A modificação e a decoração do próprio corpo são abordados no terceiro módulo. "Ali se mostram, por exemplo, as pinturas corporais temporárias, as escarificações na pele, a limagem dos dentes e mesmo os penteados exóticos que até hoje inspiram a cultura negra no mundo. O quarto módulo reúne objetos como instrumentos musicais, cetros, mobiliários, portas, cachimbos, colheres e recipientes que dão prestígio e mesmo mostram a posição hierárquica de quem os possui. "Na sociedade africana, não basta um objeto ter utilidade, a beleza é fundamental", afirma Gisele. "Alguns destes objetos servem para rituais ou mesmo para evocação de um mito", acrescenta.

Para encerrar a exposição, o quinto módulo apresenta a relação das máscaras na cultura. Estas são usadas para a comunicação dos vivos com mundo dos deuses e dos mortos. Neste ponto, Gisele destaca duas categorias de máscaras: as visíveis por todos e as visíveis por poucos ou mesmo proibidas. "As primeiras são encontradas em cortejos pelas aldeias, ritos e festas de nascimento, de fertilidade (humana, agrícola, pastoril), de caça, pesca, guerra ou funerais", explica. "Já a segunda serve para rituais de iniciação de adolescentes dos dois sexos na vida adulta, ritos de sucessão de chefes. Em geral, estão nas mãos de sociedades secretas, guardiãs de segredos místicos, de magia, de morte, da cura e das doenças", conclui.

Quem visitar a mostra, poderá conferir as palavras dos curadores de que a arte africana jamais desperta indiferença.

 

"O Corpo na Arte Africana"
Museu da Vida/Fiocruz (Avenida Brasil, 4.365, Manguinhos) - Sala de exposições temporárias
Exposição gratuita, aberta ao público de 18 de setembro até janeiro de 2013
As visitas podem ser feitas de terça a sexta-feira, de 9h às 16h30, e no sábado, das 10h às 16 h.
Agendamento pode ser feito pelo telefone 2590-6747 ou pelo e-mail: recepcaomv@coc.fiocruz.br

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