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Publicado em: 16/08/2012
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Projeto investiga como tratar distúrbios causados pelo álcool na gravidez

Débora Motta

 

                                                                               Divulgação
  
   O coordenador da pesquisa, Cláudio Filgueiras (no fundo,
   à esq.) e a equipe no Laboratório de Neurofisiologia da Uerj
 
O consumo do álcool durante a gravidez pode trazer uma série de complicações à saúde do bebê. Ao ser ingerido, o etanol – a substância com propriedades psicotrópicas encontrada nos diversos tipos de bebidas alcoólicas – chega à corrente sanguínea materna e atravessa a placenta livremente, prejudicando a criança, ainda em desenvolvimento no útero. “Os distúrbios neurocomportamentais estão entre as complicações causadas pelo consumo de álcool na gravidez. Crianças e adolescentes submetidos ao etanol durante o desenvolvimento gestacional costumam apresentar transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, dificuldades de memória e de aprendizagem, e podem sofrer com esses transtornos pelo resto da vida”, alerta o Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ Cláudio Carneiro Filgueiras.

 

Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), mais precisamente no Laboratório de Neurofisiologia, do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes (Ibrag), o biólogo e professor coordena um projeto que propõe investigar os efeitos, no cérebro, da exposição ao álcool durante a gravidez. “O objetivo do estudo, que começou em 2008 e está em andamento, é estudar os mecanismos envolvidos com a manifestação dos déficits neurológicos e comportamentais, e como esses transtornos causados pela exposição ao álcool durante a gravidez podem ser revertidos”, resume Filgueiras. O estudo foi contemplado pela FAPERJ com o edital de Apoio às Universidades Estaduais do Rio de Janeiro.

 

Para avaliar a capacidade do álcool de prejudicar o desenvolvimento dos fetos durante a gravidez – isto é, a “teratogenicidade” do etanol –, o biólogo vem realizando diversos testes neurocomportamentais, sempre com ratos e camundongos. O primeiro modelo de testes começou em 2008, durante o pós-doutorado do pesquisador realizado nos Estados Unidos, na Virginia Commonwealth University. O objetivo era avaliar as habilidades de aprendizagem e a memória de ratos e camundongos submetidos ao álcool. “Os ratos e camundongos submetidos ao etanol, comparados com animais que não foram expostos à substância, tiveram dificuldades em aprender uma tarefa que envolvia a capacidade do animal se localizar em um labirinto utilizando pistas visuais do ambiente”, conta.

 

Outro estudo, realizado já na volta do pesquisador à Uerj, propõe avaliar o comportamento dos animais submetidos ao etanol. “Fizemos testes de campo aberto, que consistem em colocar o animal numa caixa e medir o quanto ele consegue andar durante 15 minutos. Os que foram expostos ao etanol andaram maiores distâncias do que aqueles que não foram expostos à substância”, conta. “Isso mostrou que as cobaias expostas ao etanol apresentam hiperatividade”, completa.

 

Novas possibilidades de tratamento

 

A grande novidade do projeto é a aplicação de uma droga denominada vimpocetina, que parece reverter os efeitos dos distúrbios neurocomportamentais causados pelo consumo de álcool durante a gestação. A substância, de origem vegetal, já é conhecida dos médicos, mas vem sendo utilizada com outras finalidades, especialmente no tratamento das sequelas causadas por derrames. “O nosso estudo sugere que ratos e camundongos comprometidos pelo álcool e que receberam doses da vimpocetina, em aplicações intraperitoniais, voltaram a se comportar como se não tivessem sido prejudicados pelo etanol”, destaca Filgueiras.

 

De acordo com o pesquisador, a vimpocetina parece reforçar uma via de neurotransmissão, mediada por uma substância denominada AMP cíclico. Trocando em miúdos, para funcionar, os neurônios precisam enviar sinais de uma célula para outra, com ajuda de substâncias neurotransmissoras. Nesse processo, denominado transmissão sináptica, o AMP cíclico funciona como um mediador das mensagens a serem transmitidas entre os neurônios. “A vimpocetina vem se mostrando capaz de ativar esse sistema mediado pelo AMP cíclico. Essa via de neurotransmissão parece estar enfraquecida em animais submetidos aos efeitos do álcool”, destaca.

 

 Hans Thoursie/ Stock Photos
     
Mães que bebem na gestação podem ter filhos com transtorno
do déficit de atenção e hiperatividade, e problemas de memória   
    

“Essa informação ainda não era conhecida. A grande questão, a ser investigada em novos testes, é porque ocorre o enfraquecimento dessa via de neurotransmissão”, diz Filgueiras. “Os distúrbios neurocomportamentais em animais submetidos ao etanol não ocorrem apenas porque o álcool mata os neurônios, como já era conhecido pelos cientistas.

O que nosso estudo mostra é que a exposição ao álcool também prejudica a função dos neurônios que continuaram vivos. Provavelmente, isso ocorre devido ao enfraquecimento dessa via de neurotransmissão.  Com a aplicação da vimpocetina, as sequelas parecem desaparecer”, ressalta.

 

Para tentar responder essa e outras questões relativas aos mecanismos de ação da droga contra os distúrbios neurocomportamentais causados pelo álcool, o pesquisador está empenhado em dar continuidade ao projeto, a longo prazo. Muitos testes precisam ser realizados ainda, antes de se pensar em observar a ação da droga em humanos. De acordo com o biólogo, embora não beber durante a gravidez seja a melhor medida para evitar as sequelas da exposição precoce ao etanol, investir no desenvolvimento de tratamentos que mitiguem seus efeitos deletérios é de suma importância. “Ainda não existem tratamentos que possam reverter ou minimizar de modo eficiente os diversos distúrbios decorrentes da exposição gestacional ao etanol”, justifica Filgueiras.

 

Segundo ele, a falta de tratamentos decorre do fato de que os mecanismos envolvidos com a manifestação da maioria dos distúrbios neurocomportamentais causados pela exposição precoce ao etanol permanecem pouco conhecidos. “Nesse sentido, o estudo abre uma grande possibilidade para o desenvolvimento dos fármacos destinados ao tratamento de jovens em idade escolar que foram expostos ao etanol durante a gestação”, conclui.

 

O projeto resultou na publicação de artigos em três renomadas revistas internacionais – Neuroscience letters, Drug and alcohol dependence e Journal of neuroscience. Participam da pesquisa coordenada por Filgueiras diversos estudantes de pós-graduação e professores, todos da Uerj: a pós-doutora Fernanda Nunes; as doutorandas Danielle Paes Branco e Juliana Pinto de Oliveira; as mestrandas Kelvia Ferreira Rosa e Fabiana Cristina Rodriguez; e os professores Alex Christian Manhães, Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, e Yael de Abreu Villaça, Cientista do Nosso Estado, da Fundação.

 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12 mil bebês por ano no mundo nascem com a síndrome do alcoolismo fetal. A doença é responsável por boa parte das deficiências apresentadas pelos recém-nascidos. Os bebês com a síndrome costumam apresentar malformações na face (lábio superior bem fino, nariz e maxilar de tamanho reduzido, por exemplo, cabeça menor que a média), anormalidades cerebrais, falta de coordenação motora e distúrbios de comportamento, até retardo mental, malformação em órgãos, como rins, pulmões e coração, e baixo peso ao nascer.

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