Débora Motta
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Capa do livro: obra resgata a atuação política de Leandro Gomes de Barros |
Com uma abordagem original, que associa a obra de Leandro Gomes de Barros ao contexto político da Primeira República, o livro se situa na fronteira entre a poesia e a história. "O foco da pesquisa consistiu, essencialmente, em buscar os temas trabalhados pelo autor sobre o contexto político da época e inaugurar uma nova historiografia para o período conhecido como Primeira República", conta Ivone. Para isso, ela se debruçou por cerca de cinco anos sobre um vasto acervo de folhetos de cordel escritos por Leandro Gomes de Barros. "Baseei-me, sobretudo, na seleção de poemas políticos que já havia começado a estudar, quando coordenei o projeto de pesquisa intitulado ‘Folhetos de Papel: Memória do Cordel’, realizado sob o patrocínio da FAPERJ, para a Fundação Casa de Rui Barbosa, sobre a obra do poeta", acrescenta.
A passagem da monarquia à república é descrita pelo poeta paraibano como um momento de grandes reviravoltas sociais, políticas e econômicas. Ele era uma voz popular que se posicionava claramente contra o novo regime. "Leandro Gomes de Barros representou o panorama político e social da Primeira República ao denunciar os fatos do cotidiano daquela época, sobretudo os de caráter político, com uma linguagem facilmente inteligível por seu público, em que prevalece a ironia, a sátira e, algumas vezes, a paródia", avalia Ivone. "Nesse sentido, o poeta desnuda para o leitor os bastidores do poder fazendo poemas sobre eleições, carestia, impostos, seca, corrupção, etc. que constituem, na opinião dele, os ‘pilares’ da Primeira República", completa.
Leandro Gomes de Barros descreveu ainda a atuação de coronéis, chefes do cangaço e membros das oligarquias locais, além das relações entre os poderes municipal, estadual e federal. Com acidez e humor, ele despertava entre seus leitores o sentimento de cidadania, ainda que marcado pelo ceticismo. Um exemplo desse espírito crítico resgatado no livro é o trecho do poema "Ave Maria", que destaca o sistema corrupto eleitoral, tanto em nível distrital, estadual, quanto nacional: No dia da eleição/O povo todo corria/ Gritava a oposição/ Ave Maria/ Via-se grupos de gente/ Vendendo votos nas praças/ E a urna do governo/ Cheia de graça.
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Com ironia, o poeta criticava |
De acordo com a autora, O povo de papel é uma oportunidade de divulgar pérolas da obra de Leandro Gomes de Barros e de revisitar criticamente a história da Primeira República. "A principal contribuição do livro é iniciar um trabalho de resgate dessa obra poética de tamanha importância histórica, mas relegada praticamente ao campo da literatura popular. Minha intenção foi produzir um texto em que viesse à tona essa lacuna historiográfica, que seria preenchida com as observações aguçadas de um poeta popular à frente do seu tempo", conclui.
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