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Publicado em: 08/03/2012
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Projeto analisa dinâmica dos espaços públicos do Rio de Janeiro

Danielle Kiffer

 Fotos: Divulgação

    
   As praças, como espaços públicos, são lugares de interesses múltiplos:
         o mendigo quer descansar e os ambulantes, ao fundo, vender
  

“O que é um espaço público?” O que aparentemente é uma pergunta simples revela-se complicada devido à obviedade e à abrangência do que pode ser respondido. Para o geógrafo e Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, Paulo Cesar da Costa Gomes, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é tema do projeto “Cenários urbanos: morfologia, comportamentos e significações dos espaços públicos”, com que vem estudando as dinâmicas sociais que acontecem nesses locais. “Espaços públicos não são somente praças, ruas, bancos, monumentos. Eles também são feitos, e constantemente reconstruídos, das apropriações que cada cidadão faz deles.”

Para Costa Gomes, o interesse da pesquisa é ver como os espaços qualificam as ações sociais, as atitudes e os comportamentos individuais. “As formas de ser de cada um de nós na rua têm uma associação fundamental com a maneira como o espaço está construído, ou seja, tudo o que se faz neste espaço é comunicado, é lido socialmente”, explica o pesquisador.

Para a realização do projeto, todos os lugares observados pelo geógrafo e seu grupo de pesquisadores foram filmados e analisados. “Depois de registrados em vídeo, averiguamos o comportamento das pessoas: como interagem umas com as outras, como atravessam as ruas, como se comportam no comércio”, conta Paulo Cesar, que complementa: “Como geógrafo, me preocupo fundamentalmente com a dimensão espacial. Temos interesse em ver as diferentes qualidades de cada espaço. Há, por exemplo, muitas praças nas cidades. Mas, por experiência própria, posso dizer que elas diferem uma das outras, têm dinâmicas diferentes. São espaços públicos, mas as situações vividas em cada uma delas são bastante diversas.”

Segundo Paulo, em praças como a Saens Peña, Largo do Machado, Cinelândia, por exemplo, as pessoas vão para encontrar conhecidos e até desconhecidos e para participar da vida pública. “Ao sentar-se no banco de uma praça, ao parar na rua para olhar uma vitrine, invariavelmente você está participando dessa dinâmica da vida pública. Ao olhar as pessoas ao redor, você passa a fazer parte deste quadro, em que também é observado. Um pouco diferente de quando a pessoa sai à rua para se locomover; neste caso, há também a participação pública, porém, mais circunstancial”, explica. Segundo o pesquisador, a Lapa, o Largo da Carioca e algumas praias, como a de Ipanema, são outros exemplos que marcam a identidade urbana carioca”, complementa.

Também os frequentadores acabam por caracterizar um lugar de acordo com suas peculiaridades pessoais. Um exemplo disso são as praças e ruas que são frequentadas por um público mais específico. É o caso da praça Serzedelo Corrêa, em Copacabana, que por muito tempo ficou conhecida como a Praça dos Paraíbas, por ter servido, durante anos, como ponto de encontro e área de lazer para os nordestinos que trabalhavam no bairro. “Outro exemplo bem ilustrativo é a Rua Ceará, na praça da Bandeira, conhecida como o point do heavy metal. O lugar passou a ser frequentado por motoqueiros, amantes de rock and roll e por grupos que se caracterizam visualmente, como os punks”, detalha. “Ao ocupar esses espaços de visibilidade, esses grupos ganham reconhecimento, ganham publicidade. Isso define em grande parte a sociabilidade urbana”, acrescenta. 

Entre setembro e dezembro de 2009, foram feitas filmagens pela cidade, que renderam um vídeo de cerca de 20 minutos. Nele, além das imagens de gente caminhando pelas ruas, praias e praças públicas, há entrevistas com transeuntes que deveriam responder sobre o que é espaço público. As respostas foram variadas: “Para mim é a praia, pois não existe local mais democrático. Cabe tanto ao pobre quanto ao magnata”, responde um senhor. Outro se surpreende com a questão e pergunta de volta: “Você vem perguntar isso logo pra mim?” Um jovem explica, sem titubear, que “é um espaço nosso”.

O vídeo revela também a comunicação indireta que existe no espaço público, em cartazes e propagandas; sua utilização para protestos; as diferenças de comportamento das pessoas quando sabem que estão sendo filmadas, e quando não sabem; suas reações quando são pegas de surpresa. Com o vídeo, Paulo Cesar confessa que até ele e sua equipe ficaram surpresos com o que puderam perceber. Um dos exemplos foi a imagem da praia de Copacabana num dia de domingo. “Vimos que, mesmo sem carros, muita gente atravessa a pista na faixa de pedestres, mostrando no comportamento o quanto algumas regras estão interiorizadas, como os cidadãos naturalizam certas normas.”

    
 Ao agir dentro de um espaço coletivo, o cidadão passa a
           participar da dinâmica da vida pública
Um outro exemplo destacado no vídeo por Paulo Cesar é o diálogo entre três velhinhos na Cinelândia, centro do Rio. Eles reclamam da divisão colocada nos bancos recentemente, explicando que a medida é boa contra o mendigo, porque o impede de deitar e ocupar completamente o banco. Mas, ao mesmo tempo, os impede de ficarem à vontade na hora de conversar. “É um discurso contraditório, revelando uma situação complexa. Quando chamamos atenção, eles começam a pensar: o que é bom? E para quem é bom? Eles passam a ver que tudo vai além da satisfação imediata de seus interesses. Se alguém quer jogar bola na praça, o interesse é satisfazer sua vontade. Mas se essa mesma pessoa estiver passando ali com a mãe, não vai querer que ninguém esteja chutando bola. O que mostra o quanto as regras têm que ser elaboradas para contemplar os interesses múltiplos, com certeza restringindo muitos interesses particulares.”

O vídeo será usado em oficinas para saber a opinião e a reação das pessoas a partir das imagens mostradas. “De acordo com os comentários, conduziremos a discussão para o uso político do espaço, porque é um tema controverso. Pelo senso comum, público é de livre acesso, o que não é verdade. Pelo menos não no absoluto. Quando a gente percebe, o espaço público tem normas, não é completamente livre; tem acesso regulamentado, que vai sendo revisto, modificado pela sociedade. Um exemplo: há tempos era permitido levar cachorro à praia; hoje, já não pode mais”, afirma.

O trabalho já foi realizado em outras cidades brasileiras, como Florianópolis, Recife, Salvador e Curitiba e até mesmo fora do país, na cidade de Pau, localizada no sudoeste da França. Depois de analisar os espaços na cidade do Rio de Janeiro, o pesquisador e sua equipe vão estender o projeto às cidades do interior do estado. "Tem sido muito importante conhecer mais a fundo a dinâmica nas cidades interioranas, já que o filme que produzimos não responde à pergunta sobre o que é o espaço público, mas promove o questionamento sobre o assunto entre as pessoas, conduzindo a um melhor entendimento de cidadania", finaliza.

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