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Publicado em: 09/02/2012
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Novos estudos reforçam importância da paleontologia no país

Elena Mandarim

 Divulgação / UniRio

          

    Equipe da UniRio achou vários fósseis, entre eles, o que
pode ser o primeiro exemplar de filhote de tatu gigante  

O estado do Tocantins é conhecido por suas elevadas temperaturas, mas a descoberta do fóssil de um tatu gigante, em Aurora do Tocantins, indica que, entre 11 e 20 mil anos atrás, a região se assemelhava aos pampas, ecossistema caracterizado por clima ameno e vegetação de gramíneas. Isso porque já se sabe que o tatu gigante era adaptado a ambientes secos e frios. Não é à
toa que foi nomeado como Pampatherium, a besta dos pampas. Mas não é só esse achado que está movimentando a paleontologia no Brasil. Análises de outros dois fósseis também mostram como as pesquisas na área estão avançando. A presença de "falsos chifres" no focinho de um animal pré-histórico, com estrutura parecida com a de um crocodilo, por exemplo, sugere uma nova espécie, nunca antes descrita na literatura. E a presa gigantesca de um mastodonte, encontrada quase completa, em Baixa Grande, na Bahia, revela novos dados sobre o passado remoto do país.

Os ossos do crânio e de partes do corpo do tatu gigante foram descobertos em janeiro, em uma caverna da cidade Aurora do Tocantins, durante uma expedição paleontológica coordenada pelo pesquisador Leonardo Avilla, do Laboratório de Mastozoologia, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Espécie descrita pela primeira vez ainda no século XIX, por Peter Lund, conhecido como o pai da paleontologia no Brasil, o tatu gigante também teve outros exemplares encontrados na Argentina. "O fóssil agora descoberto está longe de ser o maior. Mas estamos muito empolgados porque acreditamos ser o primeiro exemplar de um animal jovem, quem sabe até um filhote. Isso porque, pelas primeiras análises, observamos que o crânio ainda não estava completamente formado", entusiasma-se Avilla.

Segundo o pesquisador, nunca foram encontrados evidências deste tatu gigante tão ao norte do País. Isso indica que na Era do Gelo, entre 11 e 20 mil anos atrás, os pampas, típicos da região sul, se estendiam até o norte do Brasil. Essa observação é reforçada pela presença de fósseis de mamíferos carnívoros extintos no Tocantins, mas que são encontrados até hoje nos estados do sul, como uma espécie de furão, uma de cachorro do mato e uma de gato do mato grande. Embora jovem, estima-se que o tatu gigante encontrado tenha pesado em torno de 80 quilos, com um comprimento de 2,5 metros. Proporções bem mais generosas do que a maior espécie de tatu atual, conhecida como tatu canastra, que, adulto, mede em torno de 1,30 m e pesa, em média, 30 quilos.

O tatu gigante, que pastava o dia inteiro pelo campo, fazia companhia a um parente da lhama atual, chamada de Macrauquênia, um animal parecido com camelo com uma pequena tromba, e que hoje só é encontrado na Patagônia e nos Andes. Ambos foram extintos no Tocantins, assim como outros animais. "Acreditamos que os grandes herbívoros não conseguiram se adaptar ao aumento da temperatura e da umidade. E o urso, que se alimentava deles, também desapareceu. As onças sobreviveram por terem alimentação diversificada, do jacaré a pequenos roedores", relata Avilla.

 Maurilio Oliveira / Museu Nacional
     
 Caryonosuchus pricei: em primeiro plano, detalhes da nova espécie,
 como as protuberâncias no focinho e da arcada dentária em guilhotina 
 
 
Para o pesquisador, Aurora do Tocantins é um local riquíssimo para a paleontologia. "É a quarta cidade com maior número de cavernas no Brasil. Até agora, das 210 conhecidas, exploramos somente três", conta Avilla, que fez sua primeira expedição ao local em 2008 e retornou duas vezes à região, com financiamento do CNPq e da FAPERJ. "Na mesma caverna, além do tatu gigante, encontramos fósseis de mamíferos herbívoros bastante senis e outros muito jovens, além de uma onça e um urso com cerca de três metros. Esse padrão sugere que o lugar poderia ser um local de alimentação disputado por predadores, já que filhotes e idosos são as presas mais fácies", explica

Já a pesquisa do novo crocodilo está sendo coordenado pelo pesquisador Alexander Kellner, do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Embora tenha sido descoberto há cerca de três décadas pelo paleontólogo brasileiro Llewellyn Ivor Price, falecido na década de 1980, o fóssil, segundo Kellner, revela uma nova espécie. "Com apoio da FAPERJ, retomamos os estudos e descobrimos que o animal representa um novo crocodilomorfo do Brasil. Entre as suas particulariedades, estão quatro protuberâncias de cada lado do focinho, algo nunca antes registrado nesse grupo de répteis", revela.

Divulgada agora na revista Zoological Journal of the Linnean Society, a espécie recebeu o nome de Caryonosuchus pricei: "cáryon", do grego, significa protuberâncias, enquanto "souchus" é crocodilo e "pricei" foi colocado em homenagem ao descobridor do fóssil. Segundo Kellner, esses répteis eram comuns no Brasil, durante o período Cretáceo , particularmente em torno de 80 milhões de anos atrás. "Suas características físicas estão levantando muitas hipóteses. Ainda não sabemos se essas protuberâncias tinham alguma função ou se poderiam ser apenas uma forma de ajudar a distinguir essas espécies das demais", explica Kellner.

Pela análise do crânio, os pesquisadores acreditam que o animal tinha até 1,2 m de comprimento. Os dentes assimétricos e enviesados, formando uma verdadeira guilhotina, eram bons para cortar, quebrar ossos e atacar outros animais. "Atualmente, só as hienas possuem uma arcada dentária com características semelhantes. Isso pode indicar que o Caryonosuchus pricei teria o comportamento parecido, sendo tido como um poderoso predador que eventualmente também se alimentava de carniça. Existe, ainda, a possibilidade de que atacava em bando", aposta o pesquisador.

 Divulgação / UFRJ

              

O fóssil do mastodonte é considerado uma raridade pelos    
paleontólogos por se tratar de uma peça praticamente inteira


Ainda na UFRJ, os pesquisadores do Instituto de Geociências vêm analisando novos achados, como fósseis de preguiças terrícolas e toxodontes, animais já extintos parecidos com um hipopótamo. O mais relevante é a presa gigantesca de mastodonte, encontrada quase completa pelo doutorando Ricardo da Costa Ribeiro, do programa de pós-graduação em Geologia. "São raríssimas as presas de mastodontes já descobertas no Brasil. Geralmente, encontram-se materiais fragmentados, que pouco relatam sobre aspectos paleobiológicos desses animais. O achado realizado por Ricardo nos sugere uma população de mastondontes, com características únicas, habitando o território brasileiro no final do pleistoceno", relata Ismar de Souza Carvalho, professor desse programa pós-graduação. E acrescenta: "O fóssil, descoberto em Baixa Grande, na Bahia, é uma verdadeira joia da paleontologia brasileira".

Como os seus parentes vivos, os elefantes atuais, os mastodontes teriam hábitos migratórios, sendo seus fósseis descobertos em todas as regiões brasileiras. “O fóssil estudado é único por sua raridade, principalmente, por se tratar de uma peça muito frágil, encontrada praticamente inteira, em uma assembléia fossilífera, ou seja, em um grupo composto majoritariamente por ósseos bastante fragmentados. Defesas de mastodontes neste estado de preservação são extremamente raras”, conclui Ismar.

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