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Publicado em: 09/02/2012
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Caixa de Histórias: projeto inova formas de ensinar

Danielle Kiffer

 Fotos/Divulgação

     

   A pesquisadora Helenice entrega a caixa de
 São Gonçalo a um professor da rede municipal

O ensino da história pode se tornar uma grande aventura. Com a Caixa de Histórias – material impresso com mais de dez pastas a serem utilizadas em salas de aula – conhecimentos sobre mapas, fotografia, literatura e até sobre o patrimônio arquitetônico local podem ajudar alunos da rede pública dos municípios a compreender melhor vários aspectos da disciplina de História e a valorizar sua identidade local. Esse é um dos objetivos da pesquisa coordenada pela historiadora Helenice Rocha, da Faculdade de Formação de Professores (FFP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), em São Gonçalo. A iniciativa, que tem o apoio da FAPERJ por meio do edital Apoio à Melhoria do Ensino em Escolas Públicas Sediadas e do Ministério da Educação e Cultura (MEC), conta em sua equipe com os historiadores Luis Reznik, Marcia Gonçalves e Rui Aniceto, todos da Uerj, e com o professor Marcelo Magalhães, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

A caixa contém um CD com fotos, músicas e vários tipos de documentos, como registros paroquiais, de propriedade e censitários, que complementam as atividades propostas, além de um guia para professor, sugerindo roteiros para as atividades. "O CD possibilita promover a interatividade em sala de aula. Se num exercício específico falamos de uma determinada época no passado, os alunos têm como ouvir músicas e ver, em fotos, as roupas que eram moda naquele período." A ideia é desenvolver habilidades de leitura e escrita nos alunos.

"Com o projeto ‘Caixa de Histórias – Conhecer e Criar’, queremos que o professor conte com um recurso que possa adaptar ao dia a dia dos alunos da rede pública. Para isso, foram feitas oficinas para professores e acompanhamos seu uso nas escolas durante o ano letivo de 2011", explica a pesquisadora. Isso aconteceu na Escola Municipal Anísio Spíndola Teixeira, em Santa Luzia, bairro de São Gonçalo. "O projeto contou com dois professores da escola e dois bolsistas da graduação em História. Em seu trabalho, eles desenvolveram novos materiais, como uma apresentação sobre a fazenda Colubandê, que já era descrita em uma crônica, numa das atividades propostas pela caixa."

Helenice e a equipe de pesquisadores já desenvolveram caixas para três municípios fluminenses: São Gonçalo, Itaboraí e Magé. "Nosso objetivo é produzir caixas para diferentes municípios do Rio de Janeiro, apresentando o material produzido para os professores que trabalham nas escolas da rede pública", conta. Segundo a professora, esse conjunto de documentos, fotos e dados contribui para a construção de identidades locais e torna o aprendizado mais leve e divertido.

Cada uma das atividades propostas foi desenvolvida a partir de intensa pesquisa. Em documentos e mapas, pesquisados em bibliotecas e arquivos municipais, assim como em casas de cultura locais, o grupo de pesquisadores levantou a história dos três municípios. Com esses dados e documentos, elaboraram as várias atividades que compõem a caixa. "É um processo trabalhoso. A pesquisa e a elaboração da caixa, incluindo a criação de atividades, demoram, em média, dois anos."

 
              
Mapa antigo do Rio de Janeiro faz parte do material didático 

A caixa de São Gonçalo, por exemplo, contém a carta de doação do município, cujas terras foram cedidas como sesmaria a Gonçalo Gonçalves, em 6 de abril de 1579. Com a tarefa de construir uma capela e um povoado, o donatário ergueu na localidade uma pequena igreja, às margens do rio Imboaçu, em homenagem a seu santo de devoção, São Gonçalo do Amarante, que mais tarde daria nome ao município. "Quando mostramos o documento aos alunos, eles ficam impressionados e querem saber mais. Essa história é um exemplo do conhecimento que evidencia as complexas relações entre o micro e o macro, como num jogo de escalas, no que se refere à história do Brasil", completa a historiadora.

Entre os diversos dados interessantes da caixa, está a crônica escrita em 1921 por um jornalista de A Revista, antigo periódico de Niterói. Ele registra em detalhes a festa de Sant’Ana, na fazenda de Colubandê, evento tradicional no início do século XX. No artigo, o jornalista conta como era a festa, revela as relações sociais estabelecidas, os costumes da época, as vestimentas e as músicas. "Entre outras coisas, os alunos aprendem que, na ocasião, o trajeto de Niterói a Colubandê levava um dia para ser feito. Hoje, dependendo do trânsito, pode ser feito em cerca de 40 minutos. Tudo isso instiga a curiosidade dos estudantes e promove a vontade de saber mais", afirma Helenice.

Até estudar mapas em sala de aula fica diferente com a caixa. A atividade relacionada à cartografia propõe aos alunos compreender a produção de mapas como um esforço em conhecer, ocupar, controlar e transformar o espaço geográfico. "Os alunos são desafiados constantemente: precisam localizar São Gonçalo espacialmente no estado e no País e conhecer sua representação cartográfica nos séculos XVI, XVII e XIX", explica a historiadora. "Os estudantes ficam bastante empolgados com esta atividade. O reconhecimento de seu território no contexto nacional os deixa muito contentes; eles se veem no meio do Brasil inteiro, se reconhecem", afirma. E acrescenta: "No estudo do período colonial, por exemplo, visualizamos no mapa as evidências do interesse português em conhecer o território que seria posteriormente o Rio de Janeiro", completa.

 
    
   Estudantes participam de uma das atividades da caixa: 
      elaborar legendas de fotos antigas de São Gonçalo
 

Em outros exercícios, os alunos são estimulados a analisar fotografias de forma técnica, tal como os historiadores o fazem. "Eles observam as imagens e as classificam de acordo com os temas propostos, sejam ‘festas e comemorações’, ‘política’ e ‘o espaço público da cidade’", diz a pesquisadora. Numa atividade em que passado e presente se misturam, Helenice percebeu intenso envolvimento dos estudantes. "Mostramos fotos antigas de estações de trem e alguns alunos mencionaram a existência das ruínas de uma estação de trem, mobilizando-se para fotografá-las e trazer as imagens para a aula. Ao traçar uma linha do tempo dessas construções, eles passaram a se ver como parte integrante dessa história", exemplifica. Para a historiadora, esse vínculo é importante, pois leva os estudantes a se valorizarem como indivíduos. "Assim, eles veem que, apesar de seu espaço não constar dos livros, tem tanta importância quanto qualquer outro na história do País, com uma história em si."

Os historiadores pretendem estender o trabalho a outros municípios. Helenice e seu grupo têm atuado, junto às prefeituras, para que os professores recebam a Caixa de Histórias e oficinas para que, posteriormente, eles possam tirar o melhor aproveitamento possível do material. "É um trabalho gratificante à medida que vemos o entusiasmo dos professores durante o treinamento e a reação positiva dos alunos. É o historiador a serviço do ensino e da aprendizagem em sala de aula", diz. O projeto tem sido tão bem-sucedido que recebeu convite para ser apresentado até no estado do Piauí, onde alunos e professores estão animados com suas possibilidades de aplicação. "Queremos estender o projeto ao maior número possível de municípios", conclui.

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