O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Pérolas negras: Brasil e África ligados pela arte
Publicado em: 24/11/2011
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Pérolas negras: Brasil e África ligados pela arte

Danielle Kiffer

 Roberto Conduru

    

    Na mostra Perles de Liberté, realizada na Bélgica, foram
       apresentadas joias de crioulas usadas na Bahia 

Muito além do que revela nossa história, a identidade africana se faz presente em nossa cultura. Exemplo disso são os diversos artistas contemporâneos que apresentam referências negras em suas obras, mesmo sem essa preocupação. São os fortes indícios dessa africanidade na arte que o pesquisador Roberto Conduru procura revelar em seu projeto “Pérolas Negras: Experiências Artísticas e Culturais nos Fluxos entre África e Brasil”. O estudo é, conforme explica o próprio pesquisador, “um olhar sobre como a presença africana atravessa a cultura e arte brasileiras. Escolhi destacar os artistas contemporâneos que trazem essa marca, sem necessariamente fazer das características negras um estilo ou tema de seu trabalho”, diz Conduru, que é Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ.

Este ano, como curador das exposições Incorporations e Perles de Liberté, o pesquisador pôde mostrar parte de seu projeto no evento bianual Europalia Brasil 2011, realizado na Bélgica. Com obras de artistas como Mário Cravo Neto, homenageado no evento, Caetano Dias, Jorge dos Anjos e Marcondes Dourado, a mostra Incorporations apresenta algumas obras com reflexões sobre a dimensão africana na cultura brasileira.

Na mostra Perles de Liberté, Conduru criou um ambiente sensorial, com músicas de Clementina de Jesus e Mart’nália, entre outras cantoras, cheiro de folhas de eucalipto espalhadas pelo ambiente em que ficaram expostas joias de crioulas usadas na Bahia e fios de contas para cultos aos orixás, além de fotografias. “Com essa diversidade, pretendi mostrar como as tradições africanas estão sempre muito presentes, como as ligações com a África são inerentes e fundamentais para a compreensão da cultura brasileira”, explica Conduru.

Homenageado na mostra Incorporations, o fotógrafo e escultor Mário Cravo Neto foi um dos artistas contemporâneos estudados pelo pesquisador. Ao conhecer o acervo do Museu Nacional de Antropologia de Angola, em uma viagem a Luanda, capital de Angola, em 1990, quando produzia fotos para o livro Angola e a Expressão da sua Cultura Material,  teve seu interesse despertado para a riqueza artística dos terreiros. É a partir de 1998 que Cravo Neto se aproxima do culto afrobaiano e, por sete anos consecutivos, se dedica a fotografar e gravar em vídeo a vida e os rituais do culto, em especial do terreiro Ilé Àse “pó Aganju.

Outro participante da mesma mostra, o artista plástico Martinho Patrício utiliza o tecido como suporte para seus trabalhos, evocando um diálogo que aborda conceitos relativos à religiosidade – sagrado e profano – em suas obras neoconcretas. Com exposições individuais no Observatório Cultural Malakoff, em Recife, em 2005; no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães também em Recife, em 2002; e no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro, em 2000; o artista também tem seus trabalhos como parte do acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. De acordo com o pesquisador, suas obras dialogam com a cultura popular, com forte acento afro.

Para exemplificar um pouco mais a relação intrínseca entre a cultura brasileira e a africana, o pesquisador cita o movimento modernista, no qual alguns artistas buscavam referências africanas, buscando, segundo explica Conduru, uma valorização da cultura afro. “Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Rubem Valentim e Heitor dos Prazeres são exemplos de artistas que representaram tipos e elementos da cultura afrobrasileira”, descreve.
 
“Ao conectar arte e cultura material às questões da africanidade e da afrobrasilidade, não se pretende delinear um estilo artístico afrobrasileiro, um movimento artístico produzido unicamente por afrodescendentes ou apenas representativo da cultura afrobrasileira. Importa mais configurar um campo composto por objetos e práticas bem diversificados, mas, de algum modo, vinculado a essas questões, a partir do qual tensões artísticas, estéticas, pedagógicas, culturais e sociais podem ser problematizadas historicamente”, explica.

Mesmo com a identidade artística nacional entrelaçada a essa influência africana, Conduru percebe um silenciamento sobre o assunto. “Não deixa de ser flagrante o silêncio quase completo que paira sobre as influências que as artes e culturas africanas têm na formação cultural e na arte brasileiras, seja antes, durante ou depois do modernismo. A inexistência de livros e exposições históricas agrava esta situação; há exceções de alguns museus, como o AfroBrasil, inaugurado em 2003, na cidade de São Paulo”, conta. Situação que Conduru retrata de forma poética: “Por isso, me refiro a cada produção artística que nasce desta condição social marginalizada como uma pérola, que surge da presença estranha de um grão de areia no interior da concha.” Para o pesquisador, cada pérola significa, como num fio de contas, a diversidade e a vastidão artística que formam a riqueza cultural brasileira.

Conduru ressalta que há movimentos caminhando para romper este silêncio. “Com certeza, existem e crescem continuamente estudos, publicações e exposições sobre africanidade e sobre afrobrasilidade em relação a práticas e obras artísticas, estéticas e culturais brasileiras. Mas ainda são iniciativas esparsas, desvinculadas, pouco percebidas ou pouco valorizadas.” Com seu trabalho, o pesquisador tem atuado muito para quebrar essas barreiras. O assunto também é tema de seu livro Arte Afrobrasileira, que tem sido cada vez mais utilizado nas bibliografias dos cursos de arte. “É um fato que transcende a questão de orgulho pessoal, mas que denota a valorização da arte afrobrasileira”, conclui.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes