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Publicado em: 26/05/2011
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Pesquisa compara desigualdades raciais nos Estados Unidos e no Brasil

Vilma Homero

 

 

Apesar dos esforços de universalização do ensino, o Brasil ainda conta com 6,8 milhões de analfabetos que já passaram pela escola. O número pode até parecer relativamente pequeno comparado ao total da população brasileira, mas nos leva a uma profunda reflexão se pensarmos que, na verdade, esse grande número de pessoas continua sem saber ler ou escrever, embora 2% deles já tenham até passado por uma aprovação. Desses 6,8 milhões, 72% são negros. Para o professor Marcelo Paixão, do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser), da Escola de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ainda há mais um agravante: esses números possivelmente estão subestimados.

 

Munido de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o pesquisador e sua equipe monitoram sistematicamente indicadores sociais sob um recorte racial. É desse modo que ele procura traçar o cenário mais detalhado possível de como anda a situação dos afrodescendentes no País. No projeto “Desigualdades raciais no sistema de ensino brasileiro e no norte-americano: estudo comparado sobre indicadores de desempenho escolar e fatores de desalento para os estudantes afrodescendentes no sistema de ensino dos dois países”, Paixão, que é Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, explorou, de forma comparativa a situação nos dois países, com foco num tema que constitui uma das linhas de pesquisa do Laeser: os estudos na área de educação.

 

 Divulgação / Relatório Anual de Desigualdades Raciais no Brasil - Laeser

 
 

 

 

Embora o trabalho só venha a ser concluído em 2012, Paixão já chegou a dados importantes. Além do analfabetismo de quem já passou pela escola, no outro extremo da educação, o pesquisador constatou que o percentual de negros, na faixa dos 18 aos 24 anos, nas universidades brasileiras, que em 1988, era de apenas 3,6%, chegou, em 2008, a 16,4%. Pode parecer uma evolução enorme, mas ainda deixa fora das faculdades um contingente de 83,4% de afrodescendentes. No caso dos brancos, havia 12,4% frequentando a universidade em 1988, percentual que em 2008 chegou a 35,8%, pouco mais do que o dobro de negros.  

 

Como aponta Paixão, nos Estados Unidos, apesar da forte política segregacionista, em 1950, 0,5% da população negra acima de 25 anos tinha diploma de ensino superior, contra 1,7% dos brancos. Em 2008, 40 anos depois do auge do movimento pelos direitos civis, esse percentual atingiu 11,6% dos negros e de 19,3% de brancos. Tanto lá quanto aqui, embora tenha havido um visível avanço com relação à frequência de negros nas universidades, também é significativa a distância que ainda os separa dos brancos. 

 

O fato é que, como sugere o pesquisador, no caso brasileiro, tudo indica a necessidade de melhora na base educacional, em particular no ensino médio e no fundamental. “A maior dificuldade ao acesso às escolas ainda é a pobreza, que incide mais fortemente sobre as populações negras. No entanto, antigas práticas educacionais desiguais também podem revelar seu lado perverso, levando a índices de proficiência diferentes entre brancos e negros”, enfatiza Paixão. Trocando em miúdos, isso quer dizer que da mesma maneira como nem sempre os professores estão preparados para lidar com as diferenças sociais, "também não se mostram mais aptos a lidar com as diferenças raciais, muitas vezes repetindo estereótipos negativos que em geral são atribuídos aos negros."

 

São fatores qualitativos que podem pesar nos resultados. “A pergunta é se o professor estimula igualmente alunos brancos e negros, se os trata bem indiferentemente de raça. Minha hipótese é de que vamos encontrar indicadores que reflitam essas desigualdades de tratamento no sistema de ensino. A verdade é que a escola está pouco preparada para tratar jovens negros de forma igualitária. Na matemática do afeto, uns recebem mais do que outros”, constata o pesquisador. Segundo Paixão, essas práticas racialmente orientadas se refletem também nos indicadores sociais.   

 

Segundo a última PNAD, de 2009, está se criando um verdadeiro abismo idade/série nas salas de aulas. Na faixa de sete anos, a frequência escolar é de quase 100%: de cada cem crianças, 98 vão à escola. Contudo, quando se fala na taxa de adequação, ou seja, se os alunos estão frequentando a série correspondente à idade, a coisa começa a mudar de figura: de seis a dez anos, 59% dos brancos e 50,6% dos negros estão na série correta, mas nos 11 aos 14 anos, os números começam a cair para 54,3% dos brancos e 37,7% dos negros; e dos 15 aos 17 anos, apenas 34,1% dos brancos e 20% dos negros estão na série correta.

 

Todas essas discrepâncias começaram a ser abordadas no livro de Paixão, publicado em 2008, A Dialética do Bom Aluno. “Nele, procuramos entender a natureza das práticas educacionais e como elas poderiam estar influenciando indicadores quantitativos e qualitativos. Porque se é verdade que a escola prepara os alunos para a sociedade, também é verdade que a sociedade espera que o negro assuma papéis de baixo perfil social.”

 

Na opinião do pesquisador, para dialogar com a questão da universalização do ensino brasileiro, que muitas vezes tem sido acusado de operar sem a devida qualidade, é preciso pensar outras questões. “Precisamos pensar que a massificação no ensino implica que a escola também precisa melhorar tanto sua infraestrutura quanto suas práticas educacionais, aprender a lidar com a diversidade e preparar-se para lidar com noções diversas de lógica e histórias familiares, e atender favelados, negros, nordestinos, entre outros grupos historicamente discriminados.”



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