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Publicado em: 31/03/2011
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Por um Rio sem dengue


Débora Motta

                                                               Genilton Vieira/ IOC
   

   Larvas do Aedes aegypti: na fase adulta, o mosquito passa a
  infectar. Registros de dengue chegam a 11.444 no Rio, em 2011
 

Considerada uma doença negligenciada, típica de países tropicais em desenvolvimento, a dengue é uma questão de saúde pública que exige cautela constante. A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio divulgou na terça-feira, 29 de março, que a cidade já registra 11.444 casos de dengue desde o início de 2011. Dentro desse total, foi confirmado em apenas 24 horas, da segunda, 28 de março, para a terça, 29, o surgimento de mais 813 casos em todo o município. Para ajudar a reverter esse quadro, pesquisadores e autoridades governamentais empenham-se no combate à doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, seja por meio de estudos científicos ou da promoção de campanhas para a conscientização da população e eliminação dos focos do vetor.  


No âmbito da pesquisa, o professor Amilcar Tanuri, chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), dedica-se ao desenvolvimento de uma droga capaz de impedir a replicação do vírus da dengue dentro das células do organismo da pessoa infectada. Ele conseguiu sintetizar, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), uma substância que inibe duas enzimas produzidas pelo vírus da dengue ao infectar uma célula: a replicase e a protease, fundamentais para a replicação viral.

O projeto foi contemplado pela FAPERJ com o edital Estudo de Doenças Negligenciadas e com o Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência (Pronex - Rede Dengue), uma rede nacional de pesquisas pioneira no Brasil que reúne esforços acadêmicos para o diagnóstico rápido, o controle e o tratamento da doença. Esta foi criada em 2009, a partir de uma ação conjunta do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); do Ministério da Saúde, por intermédio do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (Decit); da FAPERJ e das fundações de amparo à pesquisa dos estados Alagoas (Fapeal); da Bahia (Fapesb); do Ceará (Funcap); do Distrito Federal (FAPDF); do Espírito Santo ( Fapes); de Goiás (Fapeg); do Maranhão (Fapema); de Mato Grosso (Fapemat); Mato Grosso do Sul (Fundect); de Minas Gerais (Fapemig);  do Pará (Fapespa); do Paraná (FAADCT); de Pernambuco (Facepe); do Piauí (Fapepi); Rio Grande do Norte (Fapern); do Rio Grande do Sul (Fapergs); de São Paulo (Fapesp); e de Sergipe (Fapitec/SE).

 

A substância pode ser a base para o desenvolvimento de uma nova droga antiviral que, no futuro, pode representar uma importante arma no tratamento de pessoas infectadas, por bloquear as enzimas intimamente relacionadas com a replicação do vírus da dengue no corpo do paciente, cortando o mal pela raiz. “Ao impedir a replicação do vírus, seria possível baixar a quantidade viral no organismo do doente e tornar mais brandos os sintomas da dengue, impedindo que eles evoluam para quadros mais graves, como a dengue hemorrágica”, explica Tanuri, que não descarta que a substância também possa ser utilizada como base para a criação de vacinas, que podem ser uma arma preventiva da dengue durante os surtos epidêmicos. “O remédio poderia reduzir os efeitos de novas epidemias da doença no Brasil, que até então não apresenta nenhuma vacina aprovada ou uma terapia antiviral efetiva”, destaca.

O estudo, em curso há três anos, está em fase de testes preliminares. A nova substância ainda não foi submetida a testes clínicos, em humanos, mas foi sintetizada quimicamente depois de um trabalho minucioso. “Rastreamos mais de 850 moléculas e chegamos a duas moléculas interessantes. Uma é capaz de inibir a protease viral, ligada à maturação do vírus dentro das células, e a outra é capaz de inibir a replicase do vírus, relacionada diretamente à replicação dele”, conta. De acordo com Tanuri, ela apresentou resultados animadores em testes laboratoriais realizados com células humanas e com células extraídas de macacos, in vitro. “Confirmamos a capacidade da droga de inibir o papel das enzimas ligadas à replicação do vírus da dengue, que foi isolado em um tubo de ensaio. Também houve resultados positivos em experimentos com células do fígado humano e com células de macacos, ambas infectadas com o vírus da dengue”, resume.    

 

Para o professor, a grande vantagem da nova tecnologia para a produção da droga seria a capacidade dela atuar sobre todos os quatro sorotipos da dengue – tipo 1 (DEN1), tipo 2 (DEN2), tipo 3 (DEN3) e tipo 4 (DEN4). Atualmente, há uma dificuldade técnica para o desenvolvimento de uma vacina ou um tratamento que seja igualmente ativo para os diversos sorotipos. “A ideia de impedir a replicação do vírus na célula do paciente infectado é uma estratégia importante porque pode, na verdade, permitir o desenvolvimento de uma droga que iniba os quatro sorotipos da dengue”, ressalta. “É o inicio de um conceito de que pode haver uma droga que iniba o vírus da dengue”, completa.

 

O próximo passo da pesquisa é aprimorar os compostos inibidores das enzimas virais da dengue para que eles possam ser utilizados com segurança em testes clínicos, realizados em humanos. “Esperamos que nos próximos três anos estejamos em fase de testes clínicos e possamos fechar parcerias para inserir o produto no mercado”, diz Tanuri. No momento, o objetivo é sintetizar variantes desses compostos químicos que sejam menos tóxicas ao organismo infectado. “Estudamos como minimizar a toxicidade da droga para que ela tenha efeitos apenas sobre o vírus da dengue e não afete as células infectadas”, explica o professor, lembrando que o pedido de patente da droga já foi depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

 

Entre os pesquisadores envolvidos no projeto estão o professor Vitor Ferreira, Estela M. F. Muri, Maria Cecilia B. V. de Souza, Helena de Souza Pereira, Sergio Pinheiro e Ana Claudia Cunha, todos da Universidade Federal Fluminense (UFF), além dos professores Luciana Jesus da Costa, Rodrigo de Moraes Brindeiro, Luciana de Barros Arruda Hinds, Davis Fernandes Ferreira, Joaquim Fernando Mendes da Silva, Lúcia Cruz de Sequeira Aguiar Rodrigo Souza e Orlando da Costa Ferreira Junior, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

Campanha propõe dez minutos semanais contra a dengue

 Gutemberg Brito
      
 Campanha "10 minutos contra Dengue" na Praia do Leme:
 população observou no microscópio exemplares do mosquito
Além dos estudos laboratoriais sobre a dengue, ações práticas que estimulem a mobilização da população para o combate da doença são fundamentais. Nesse sentido, a campanha “10 minutos contra Dengue” foi lançada no sábado passado, 26 de março, no Morro da Babilônia/Chapéu Mangueira e na Praia do Leme, na Zona Sul do Rio, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância de eliminar os focos domésticos do mosquito Aedes aegypti. A campanha é um desdobramento do edital Pronex – Dengue, do CNPq e da FAPERJ, e vem sendo articulada por uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (Sesdec).

“A ideia central é mobilizar as pessoas para investirem dez minutos do seu tempo, toda semana, eliminando potenciais criadouros do mosquito em suas casas”, explica o professor e bioquímico Marcos Sorgine, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, que coordena a iniciativa junto com a professora Denise Valle, do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). A inspiração surgiu de uma campanha de mobilização contra a dengue em Cingapura, que contribuiu bastante para o controle de uma grande epidemia nesse país asiático, em 2004/2005. “O ciclo de vida do mosquito, desde o ovo até a fase adulta, leva dez dias. Se uma vez por semana os criadouros domésticos forem eliminados, será o suficiente para interromper o ciclo do mosquito, que só faz vítimas na fase adulta”, justifica.

            
                     Banner da campanha contra o transmissor da doença

Durante a ação no Morro da Babilônia/Chapéu Mangueira, agentes de saúde e 150 bombeiros treinados para atender a população visitaram os moradores e ajudaram a população a reconhecer e eliminar possíveis focos do mosquito nos seus imóveis. “A população recebeu fôlderes elaborados especialmente para a campanha, que destacam treze pontos estratégicos do ambiente doméstico que devem ser checados semanalmente, em apenas dez minutos, para eliminar os focos do mosquito”, diz Sorgine. A ideia é dar continuidade às visitas. “A expectativa é que os bombeiros e agentes de saúde retornem a essas comunidades daqui a umas 10 semanas, para verificar o engajamento da população na campanha. Um dos pontos centrais da iniciativa é justamente ressaltar o papel que a população pode e deve ter no controle da doença”, adianta.

Já no estande montado na Praia do Leme, pesquisadores, entomologistas e estudantes distribuíram informativos para a população e ainda exibiram larvas, ovos e mosquitos adultos. Outra atração foi o Portal da Dengue (www.ioc.fiocruz.br/dengue ), elaborado pela Fiocruz para a campanha, que os visitantes puderam acessar a partir de computadores conectados à Internet durante a ação. “O hotsite reúne informações completas sobre a doença, em uma linguagem acessível para esclarecer toda a população”, conclui Sorgine. 

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