O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > A beleza que não é vista: o trabalho dos barracões das escolas de samba
Publicado em: 03/03/2011
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

A beleza que não é vista: o trabalho dos barracões das escolas de samba

Danielle Kiffer

 Joanna Balabran

       
         A exposição Barracão mostra em painéis de fotos
            o trabalho dos artistas anônimos do carnaval 
Durante a preparação para a grande festa do carnaval, um mundo à parte se constrói nos barracões das escolas de samba. Nesse espaço, marceneiros, ferreiros, costureiras e chapeleiros podem ser vistos como verdadeiros artistas. É o que propõe o professor Luiz Felipe Ferreira, do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com a pesquisa Artecarnaval. "Cada uma das diversas etapas do trabalho de montagem e preparação de um carro alegórico, por exemplo, podem ser vistas como um processo artístico diferente. Estes carros carregam em si camadas de criação feitas por várias pessoas com sensibilidades, formações e sensos estéticos variados", explica o pesquisador. O projeto recebeu recursos do edital de Apoio à Produção e Divulgação das Artes no Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, e resultou em uma exposição intitulada Barracão, exibida no Centro Cultural Cartola, na Mangueira, e no Mercado Municipal de Juiz de Fora, em uma mesa-redonda e em um curso de extensão.

Esta visão artística proposta pelo pesquisador destaca a importância dos trabalhos manuais nas diferentes etapas de montagem das fantasias, carros alegóricos, adereços e de tudo o que compõe o grande espetáculo que hoje são os desfiles das escolas de samba. "Em cada uma dessas etapas, existe a possibilidade da percepção e discussão de questões contemporâneas da arte. O tema permite pensar na relatividade do que consideramos como arte. Não pretendo, com este projeto, impor nenhum conceito, mas mostrar outro olhar de um processo que pode ser considerado como arte", fala.

Para o pesquisador, é fácil apontar exemplos. "As esculturas em isopor já representam, em si, a expressão de uma criação artística. Depois de prontas, servem como 'tela' para a criação do pintor de arte. Mas a escultura ainda poderá passar pelas mãos de um aderecista, que irá acrescentar novos elementos, como lantejoulas ou tecidos, por exemplo. No fim, a escultura será, como várias outras, parte de um carro alegórico, que, por sua vez, desfilará na avenida entre as demais alegorias da escola. Tudo isso sob a coordenação do carnavalesco", destaca Felipe Ferreira. Segundo o pesquisador, embora o trabalho dos ferreiros que montam as estruturas dos carros alegóricos pareça invisível aos olhos de quem assiste ao desfile, é a sua capacidade criativa que deverá determinar se um carro alegórico será mais ou menos ousado. "O mesmo acontece com outros profissionais que participam dessa engrenagem, como os marceneiros, por exemplo."

 Patricia Sireijol/CRC
     
   Em um dos painéis, foto mostra o trabalho de pintura das
 alegorias, também considerada uma forma artesanal de arte
O projeto deu origem à exposição Barracão, exibida no Centro Cultural Cartola (CCC), na Mangueira, que depois foi levada para o Mercado Municipal de Juiz de Fora, onde esteve em cartaz até o final de 2010. Ela retrata o trabalho de dois barracões: do G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense, do grupo especial, e do G.R.E.S. Arranco do Engenho de Dentro, do grupo B. Para promover a mostra, alunos do Instituto de Artes da Uerj e do convênio com o Instituto de Ciências Políticas de Tolouse, se dividiram em dois grupos e passaram os meses antecedentes ao carnaval registrando o trabalho dos barracões em fotos e vídeos. "A nossa intenção foi perceber o processo criativo desses trabalhadores. Registramos e materializamos a relação entre o homem, seu instrumento de trabalho e sua criação."

A exposição apresentou painéis das fotos que flagram momentos da preparação do carnaval. E foi além: para reconstituir e transmitir parte da atmosfera dos barracões, o artista plástico Carlos Feijó foi convidado a criar uma instalação reproduzindo um barracão de escola de samba com mesa de trabalho, bastões e pistolas de cola, purpurinas, pedaços de tecido e araras com fantasias inacabadas. "Não se trata de uma exposição de carnaval repleta de objetos bonitos; é uma mostra focada nos trabalhadores e seus ofícios. Não buscamos o carnaval como um tema, mas como uma parte do que é e pode ser considerado arte", finaliza Felipe.

Na abertura da exposição no CCC, essas questões, ligadas ao trabalho desses artistas nos barracões, suas dificuldades e sua importância no universo do Carnaval foram discutidas numa mesa-redonda de que participaram o pesquisador Felipe Ferreira, a professora do Departamento de Antropologia Cultural e do programa de pós-graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA), do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Laura Cavalcanti; a carnavalesca Maria Augusta e a diretora do Centro Cultural Cartola e neta do compositor, Nilcemar Nogueira. Os recursos do projeto também foram destinados à organização do curso de extensão, A Arte do Carnaval, que aconteceu em outubro e novembro de 2010 para carnavalescos e alunos matriculados em cursos de arte da Uerj.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes