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Publicado em: 04/11/2010
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Na Mangueira, muito além do verde e rosa

Vilma Homero

 
 
 
A cada apresentação, os meninos e meninas da Orquestra de Violinos do Centro Cultural Cartola (CCC) ficam mais orgulhosos da receptividade à sua música. Apesar de nascidos num dos berços mais respeitados do samba, esses jovens estão se tornando bambas num instrumento bem diferente de cuícas, surdos e tamborins, graças às atividades que o Centro Cultural Cartola (CCC) promove na Mangueira. A orquestra é apenas uma delas. Instalado nas antigas dependências do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além das oficinas e cursos que promove, o CCC também se tornou uma ponte entre a comunidade e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), desenvolvendo pesquisas acadêmicas. A experiência de várias delas foi reunida no livro Território Verde e Rosa – construções psicossociais no Centro Cultural Cartola, organizado por Regina Glória Nunes Andrade e Cibele Mariano Vaz de Macedo, patrocinado pela FAPERJ e realizado pela Companhia de Freud.

Território Verde e Rosa mostra que a Mangueira vai bem além do samba. A começar pela própria herança do compositor Angenor de Oliveira, o Cartola (1908 - 1980), que mais do que apenas o autor de versos de As rosas não falam, tinha grande preocupação em transmitir sua experiência à juventude do morro. Preocupação que levou seus netos, Pedro Paulo e Nilcemar Nogueira, a criarem o CCC, organização sem fins lucrativos, voltada a promover a cidadania por meio de educação e cultura. É lá, por exemplo, que funciona o Centro de Referência de Pesquisa do Samba, que, como mostra um dos capítulos do livro, realiza estudos para resgate e documentação dessa manifestação cultural. E ainda várias outras oficinas, como a Griô, projeto do Ministério da Cultura, de contação de histórias; as de criatividade; de música; de trabalho corporal; e até um espaço, chamado Afinando Emoções, que funciona como um atendimento psicológico aberto.

O livro surgiu depois que Regina, que é professora e coordenadora do programa de pós-graduação em Psicologia Social da Uerj, conheceu o centro cultural e resolveu propor o projeto "Construção de Identidade Cultural e Autoestima com Jovens no Centro Cultural Cartola - comunidade da Mangueira". A partir daí, vários projetos associados de alunos da universidade foram unindo CCC e Uerj sob a forma de pesquisa participativa. "Procuramos trabalhar a partir das necessidades e demandas do centro. Um dos exemplos foi  o grupo operativo de música, em que as crianças aprenderam harmonia, história da música e se viram capazes de criar melodias. Isso teve grande influência sobre sua auto-estima", conta Regina Andrade. Segundo a professora, o mais curioso foi ver que a primeira música criada pelas crianças foi um um baião. "Acredito que tenha sido pela facilidade do ritmo. Depois, eles fizeram um funk, em seguida um rap e só depois um samba. Todas com letra e música."

 Divulgação / Uerj
    

No lançamento, as autoras Nilcemar Nogueira (esq.), Edna Chernicharo, 
      R
egina Andrade, Martha Bento, Cibele Macedo e Andreia Navarro

Independente do tipo de grupo operativo, o processo por que os jovens que frequentam o centro costumam passar é quase sempre o mesmo: eles chegam com a rebeldia típica da idade e da situação em que vivem. Mas a acolhida, o fato de serem aceitos e aos poucos começarem a ser vistos como referência na comunidade muda tudo Eles passam a sentir orgulho de frequentar o CCC. Isso foi particularmente verdadeiro no caso dos integrantes da orquestra de violinos, que foi a grande atração da noite de lançamento do livro, no Museu da República. Segundo avaliação informal dos pais, o comportamento dessas crianças muda da água para o vinho, inclusive na escola, com maior rendimento nos estudos.

Em 2008, o então ministro da Cultura Gilberto Gil esteve visitando a Mangueira e o CCC. Numa das reuniões do grupo coordenado pela mestranda Martha Bento Lima, autora da dissertação “Estratégias Sensíveis”, ele ouviu as músicas criadas pelos jovens. Entrevistado por um dos rapazes do centro, que lhe perguntou sobre a importância da arte para as crianças da comunidade, Gil não hesitou na resposta. Apontando o próprio rapaz como exemplo, Gil falou que ao frequentar um local que apresenta várias possibilidades para que um jovem desenvolva suas potencialidades criativas, não só o afasta de influências negativas, como abre possibilidades de relação com a própria vida, com a família e com a sociedade. E fechou dizendo: "E você está aqui vivenciando exatamente esta experiência."

Tanto quanto o atendimento aos jovens, o CCC já gerou seis pesquisas de mestrado, duas teses de doutorado – todas já concluídas –, vários artigos para congressos nacionais e internacionais e ainda vem sendo objeto de outras em andamento. Como a tese de doutorado que investigou a gênese e os tipos de liderança no CCC e na agremiação cultural baiana Ilê Ayê, agremiação cultural que teve origem num terreiro de candomblé. Ao avaliar o trabalho dos alunos da Uerj, Regina comenta: "Tudo isso tem tido em efeito multiplicador. Com nossas pesquisas participativas, estamos construindo um conhecimento acadêmico prático e social sobre os efeitos das atividades do centro cultural na vida desses jovens. E, certamente, cumprindo tudo aquilo que desejou Cartola: mantendo viva a chama da música."

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