O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Imigração italiana na cidade do Rio é tema de publicação
Publicado em: 19/08/2010
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Imigração italiana na cidade do Rio é tema de publicação

Vinicius Zepeda

 

 Divulgação

       
      Pesquisa histórica e curiosidades
      sobre a imigração italiana no Rio 
 
Quando ouvimos falar em imigração italiana no Brasil, pensamos logo em São Paulo e nos estados do sul do País. As estatísticas dão conta que vivem em nosso País cerca de 35 milhões de descendentes de italianos, o que representa mais de um quinto da população brasileira atual. O que a maioria das pessoas não sabe é da importância desses imigrantes na cidade do Rio de Janeiro. Em Deus abençoe esta bagunça: imigrantes italianos na cidade do Rio de Janeiro, livro publicado com apoio do programa de Auxílio à Editoração (APQ 3), da FAPERJ, a socióloga e pesquisadora Cléia Schiavo Weyrauch, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mostra como, entre 1870 e 1960 – período de modernização do Rio de Janeiro –, a presença desses imigrantes foi fundamental para a consolidação da cidade como antiga capital da república.

 

Em suas pesquisas, Cléia Schiavo fala de sua surpresa ao descobrir a intensa participação dos italianos na construção da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, no começo do século XX. “A obra foi realizada com a firma Jannuzzi e irmão, de Antonio e Giuseppe Jannuzzi, calabreses da cidade de Fuscaldo. Engenheiro e chefe da obra, Paulo de Frontin faz, no documento de despedida do cargo, em 1908, uma menção à colaboração dos irmãos no empreendimento”, explica a socióloga. Ela discorre ainda sobre as diferenças entre a imigração italiana nos dois principais estados do sudeste do País. “Enquanto para São Paulo vinham em sua maioria os italianos do norte da Itália, região mais desenvolvida, para o Rio de Janeiro, vinham os do sul, área mais rural e pobre, fugindo do impacto da mercantilização intensificada após a unificação italiana. Em verdade, a hegemonia política do norte da Itália alterou profundamente as relações socioeconômicas no sul do país. Entretanto, os habitantes do sul não eram apenas agricultores; também conheciam técnicas de engenharia e de arquitetura. E como a Itália é um país pequeno, eles viviam intensamente em contato com as cidades próximas, a exemplo de Nápoles, antigo reino das Duas Sicílias, para comércio e serviços”, completa.

 

Neta de italianos, Cléia iniciou seu projeto de forma bastante despretensiosa, a partir da biografia de seu avô Schiavo Luiz Natalio, natural da cidade de Padova, no norte da Itália. Consequentemente, o livro incluiu algumas reminiscências de sua infância e sua própria história pessoal. “Em 2002, o professor Aniello Angelo Avella, meu colega da Universidade Tor Vergata, em Roma, me pediu para pesquisar sobre as relações entre a Itália e a cidade do Rio de Janeiro. Então, durante dois anos, fiquei lá e cá, fazendo pesquisa de pós-doutorado sob a orientação de Aniello”, lembra. Assim, ela uniu a pesquisa histórica ao aspecto pessoal da biografia do avô.

 

Foi durante uma visita à basílica de Santo Antônio de Pádua, onde seu avô foi batizado, que Cléia percebeu a afinidade entre os cultos a Santo Antônio, no catolicismo, e Ogum, na umbanda, praticado na antiga zona rural do Rio, atual Zona Oeste da cidade. “Meu avô casou-se com uma mulata e foi morar na região da Gávea – formada pelo bairro de mesmo nome, Jardim Botânico e Lagoa – que na época era onde estava o maior complexo de fábricas da cidade. A rua onde hoje é a Pacheco Leão era conhecida como Baixa Itália devido ao número de operários italianos”, explica Cléia. Ela conta que mais tarde seu avô comprou um sítio em Inhoaíba, na zona rural, onde montou um terreiro em que sua mulher era mãe de santo e ele chefe do espaço. “Quando era criança, todos os domingos a família ia toda para lá. Pegávamos o trem parador em Cascadura e lá fazíamos baldeação para pegar o Maria Fumaça até Bangu, onde até 2004 funcionou uma poderosa fábrica de tecidos, inaugurada em 1899 e onde muitos italianos trabalharam”, recorda.

 

Em geral, os imigrantes que aqui chegavam iam primeiro procurar emprego no Centro do Rio. E o bairro de Santa Teresa, devido à proximidade com a área central da cidade, foi escolhido como principal lugar de moradia, logo apelidado de Calábria Carioca devido a forte presença italianos naquela localidade. Ali se fixaram jornaleiros, ambulantes, engraxates, latoeiros e funileiros, ocupando antigos casarões. Até hoje, várias ruas daquela área, como Julio Ottoni, Francisco Muratori, Eliseo Visconti e Paschoal Carlos Magno, fazem homenagem aos italianos e seus descendentes. “Paschoal Carlos Magno foi, sem dúvida, seu habitante mais ilustre, conhecido como o patriarca de Santa Teresa”, explica Cléia. Ao fundar o Teatro do Estudante do Brasil, inspirado nos teatros universitários europeus, num pequeno palco instalado no casarão onde morava, ele ajudou a renovar a cultura brasileira”, acrescenta.

 

A socióloga comenta que os italianos vieram para cá com o perfil de empreendedores. Na região da Baixada Fluminense, no município de Nova Iguaçu, intensificaram a citricultura, plantando laranjas para exportação. “Nos anos de 1950, em plena crise da laranja, eles eram citados como ‘aqueles que sabiam obter crédito financeiro e ampliar seu capital’. “Também investiram na fruticultura de uma maneira geral, trazendo técnicas de plantio e colheita utilizadas na Itália para o cultivo de mamão, abacate, banana e fruta-de-conde”, afirma. Entretanto, logo que podiam eles se deslocavam para investimentos mais lucrativos, como a exportação de cítricos, e empreendimentos comerciais, como armazéns, restaurantes de comida italiana, venda de embutidos e produtos típicos de sua terra natal.

 

A socióloga espera agora ampliar seus estudos sobre o tema para que a população fluminense conheça melhor a importância dos imigrantes italianos na cidade. Ela agora trabalha na roteirização de seu livro para transformá-lo em documentário, a ser lançado no ano que vem. “Nossa expectativa é de participarmos das comemorações do Ano da Itália no Brasil, que será comemorado em 2011 em todo o País. Assim, acredito que o público poderá conhecer mais a participação dos italianos na construção do Rio de Janeiro”, conclui.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes