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Publicado em: 13/08/2010
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Técnica de empoderamento aumenta autoestima de mulheres com câncer

Danielle Kiffer

    Fotos: Divulgação IFF/Fiocruz

    
         Rosane Lopes (à esq.) e as participantes das
        oficinas em um dos jogos do Teatro do Oprimido

Estamos acostumados a ver fabulosas histórias de super-heróis na ficção. Entretanto, a capacidade de superação de limites na vida real também pode ser bem surpreendente. Entre tantos casos que podemos encontrar no dia-a-dia, pode-se destacar um grupo de 15 mulheres que tiveram câncer de mama e precisaram passar, ou ainda passarão, por intervenções cirúrgicas para retirada parcial ou total do seio. Elas participam do projeto “Oficinas de Promoção da Saúde para Mulheres com Câncer de Mama, em Atendimento no Instituto Fernandes Figueira (IFF), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na Perspectiva do Empoderamento”, que visa estimular a autoestima e a redescoberta de potencialidades individuais e coletivas das mulheres com esse tipo de câncer, submetidas à mastectomia. Coordenado pela pedagoga Rosane Carvalho Lopes, do IFF/Fiocruz, com apoio das educadoras Pâmela Peregrino da Cruz e Raquel Alexandre Pinho dos Santos, ambas mestrandas da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), o projeto promove encontros com metodologias específicas e ainda resultará na elaboração de um livro a partir do conhecimento construído. A pesquisa contou com recursos do edital de Apoio à Produção de Material Didático para Atividades de Ensino e/ou Pesquisa, da FAPERJ.

O programa, elaborado por Rosane, Pâmela e Raquel, começou em abril deste ano e é composto por sete oficinas, cada uma delas regida por uma temática diferente, como a relação da mulher consigo mesma, sua relação com amigos e familiares, a abordagem da sexualidade, entre outras. “A ideia para o trabalho surgiu justamente pela percepção de que as mulheres que eu via no ambulatório do IFF/Fiocruz, além do atendimento médico, precisavam de apoio para lidar com todas as perdas que acarretam um câncer de mama. Então, pensei em escrever um livro educativo dedicado a elas, utilizando a temática do empoderamento, tema de meu doutorado na PUC-Rio. Mas, para elaborar o material, precisaria de alguma vivência com as pacientes, ouvir o que elas tinham a dizer e, ao mesmo tempo, oportunizar a troca de experiências entre elas para o fortalecimento mútuo. Foi aí que surgiram as oficinas”, explica Rosane. Ela acrescenta que todos os temas abordados na programação das oficinas foram pensados para compor livro.

As oficinas acontecem duas vezes por mês e duram cerca de três horas. No início do encontro, as pacientes são estimuladas a falar sobre a oficina anterior e sobre o que sentiram a respeito do tema abordado. Inicialmente, tudo acontece como uma conversa informal, mas no decorrer da oficina, elas são estimuladas a se comunicar por meio de atividades lúdicas e músicas, organizadas de acordo com a técnica do Teatro do Oprimido, prática cênico-pedagógica criada e desenvolvida pelo dramaturgo Augusto Boal nos anos 1970. “O uso da técnica nas oficinas foi muito bom para elas soltarem o corpo e liberarem as tensões do cotidiano. As participantes chegam um pouco agitadas, muitas vezes como se fossem passar por um atendimento médico. Depois das atividades, elas já estão sorrindo, conversando mais abertamente”, conta Pâmela.

Um dos jogos realizados, e que faz parte do Teatro do Oprimido, é o hipnotismo colombiano. Trata-se de um jogo que consiste na formação de duplas, em que uma das pessoas hipnotiza, utilizando movimentos da mão, e a outra é a hipnotizada, que precisa seguir com o corpo os movimentos criados pela parceira. Depois trocam-se os papéis. “Desta forma, elas trabalham a subjetividade, a sensibilidade, usando o corpo como forma de linguagem na relação com o outro e se fortalecendo”, enfatiza Rosane. Depois da dinâmica em grupo, as participantes são estimuladas a falar sobre assuntos específicos, como a sexualidade, por exemplo. “Para falarmos de um tema tão delicado como a própria sexualidade, sobretudo da mulher mastectomizada, realizamos alguns jogos e, ao final, lemos juntas o depoimento de uma mulher, que tinha passado pela cirurgia e falava sobre sua vida sexual, as dificuldades que enfrentou e como superou os problemas e se adequou à nova realidade. Depois disso, todas se sentiram à vontade para falar sobre si mesmas e sobre suas próprias experiências”, lembra Raquel.

 
     

Durante as oficinas, as mulheres usaram o corpo como forma
de linguagem, para se conhecer melhor e fortalecer autoestima  

Para Rosane, esses encontros com o mesmo grupo de mulheres possibilitaram o surgimento de uma relação de confiança e amizade. “Algumas já se tornaram amigas, vão embora juntas, chegam mais cedo para conversar e, muitas vezes, nem querem ir embora. Aqui elas têm possibilidade de se redescobrir e buscar em seu inconsciente toda a força que têm, fortalecer sua autoestima e construir novos conhecimentos na interação social do grupo. Muitas têm necessidade de falar, contar sua própria história e nos mostrar o quanto são vitoriosas”, diz. Todo esse processo gerou belos registros, como a poesia que as pacientes escreveram coletivamente, e depoimentos emocionantes.

“Quando comecei a fazer quimioterapia, meu cabelo caiu. Eu não quis usar peruca. Estava triste, deprimida. Foi quando meu neto chegou em casa com o cabelo raspado. Ele tinha um cabelo bonito, sabe? Eu perguntei o que ele tinha feito. E me respondeu: 'Vó, agora estamos iguais.' Olha só que coisa bonita! Fiquei muito emocionada. Quando ia pensar que um jovem de 14 anos me apoiaria assim?” Este é um dos emocionantes relatos das pacientes do IFF/Fiocruz, colhido durante as oficinas.

O próximo passo para Rosane, Pâmela e Raquel será começar a escrever o livro. “As atividades já estão no meio do cronograma e já temos muito material para elaborar nossa publicação. Acredito que, assim, outras mulheres que vierem a passar pelo problema tenham um apoio maior para sua estabilização emocional e fortalecimento pessoal”, finaliza a pedagoga.

De acordo com dados oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS), só em 2005 foram registrados 502 mil óbitos por câncer de mama em mulheres do mundo inteiro. Não é à toa, este é o tipo de câncer mais temido entre as mulheres. A estimativa para o Brasil é de que até o final de 2010 surjam 49 mil novos casos, 11 mil só no Rio de Janeiro. No IFF/Fiocruz, no período compreendido entre 2003 a 2008, foram realizados no ambulatório de mastologia 21.700 atendimentos.

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