Vilma Homero
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Um dispositivo no centro indica, pela luz que acende, qual dos quatro alvos deve ser atingido |
A ideia do grupo é evitar a repetição de incidentes graves, como o episódio recente em que um policial confundiu uma furadeira com um fuzil e atirou, matando o homem que a portava. Ou, como no caso mais antigo, de outro policial militar que numa abordagem a um automóvel, na Tijuca, em que se encontravam uma mulher e duas crianças, acabou matando uma delas. Ambos foram casos de grande repercussão. "São situações perfeitamente evitáveis com treinamento constante e eficiente", diz Ribeiro. O pesquisador acrescenta ainda que, no Bope, isso já acontece. "Tecnicamente, o grau de letalidade é baixo para o número de operações que executam", diz.
Segundo os pesquisadores, em situações como essas, acessamos certos bancos de dados de nossa memória, para identificar se há ou não risco para então tomarmos uma decisão. "No caso de um policial, ele precisa acessar, de forma ainda mais rápida e eficiente, seu repertório de memória e recuperar dados para tomar decisão em maior nível de segurança", explica a psicóloga Bruna Velasques, doutoranda do Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora, da UFRJ, e do Instituto de Neurociências Aplicadas (INA).
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Treino de precisão de tiro: as duas silhuetas simulam uma situação em que há um refém |
Além da experiência no Bope, o grupo do professor Ribeiro, juntamente com grupo do major Clayton Amaral têm realizado outros estudos interessantes. Num deles, por exemplo, foi empregado o metilfenidato (ritalina), droga utilizada para manutenção da vigília, que aumenta o estado de atenção/concentração. O objetivo, nesse caso, era o de aumentar os níveis de vigília por um período maior de tempo. "Fizemos um estudo comportamental e eletrofisiológico (eletroencefalografia – EEG) com militares do exército. Testamos as funções cognitivas, a capacidade de memória e a tomada de decisão. Observamos que a substância realmente melhora a performance, com melhor capacidade cognitiva e precisão no desempenho. O que é uma das propostas da neurociência", explicam Bruna e Ribeiro. Na continuidade do projeto, os pesquisadores pretendem repetir a experiência, que avaliaram como bastante satisfatória, com outras substâncias, entre elas o modafinil.
A pedido do tenente-coronel Pinheiro-Neto, também foi feita uma experiência para verificar o quanto o preto característico dos uniformes da corporação era mais ou menos visível durante as operações. "Testamos o preto e outras cores diferentes para ver qual delas se camuflava melhor no ambiente e qual ficava mais fácil de identificar a distância. Porque a cor do uniforme também é uma forma de proteger o policial. O preto, além de provocar maior sensação de calor, também faz maior contraste com o cenário de cimento e tijolo, cores frequentes nas favelas", diz Ribeiro. O preto ficou entre as cores mais visíveis de se localizar ao longe.
"Há um campo enorme para o trabalho conjunto entre um instituto de pesquisa e as instituições do estado. No caso da segurança, por mais elevado que seja o nível de treinamento dos policiais, mesmo no Bope onde já existe uma excelência, sempre há um campo enorme de aprimoramento e projetos que podem ser estendidos à rotina de outros batalhões", falam os pesquisadores. Além de ver algumas das rotinas gradualmente incorporadas ao treino no Bope, eles estão na perspectiva de trabalhar com outras unidades da polícia. "Queremos contribuir com o conhecimento científico e com a tecnologia. Com certeza, temos muito a oferecer na questão da segurança."
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