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Publicado em: 21/11/2003
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Os doutores e o futuro

Estatísticas mostram que a comunidade acadêmica nacional produz cada vez mais e melhor, e a cada ano novos doutores são formados nas melhores universidades do país. O mercado de trabalho, entretanto, é motivo de angústia para esses profissionais.

Para discutir o papel dos doutores na sociedade brasileira, alunos de pós-graduação do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ promoveram, em 17 e 18 de novembro, o II Simpósio de Formação Acadêmica no Brasil, cujo tema central foi “O Doutor e o Brasil, no que um pode ajudar o outro?”.

Pequena empresa tecnológica pode ser ligação entre ciência e indústria

Na manhã do dia 18, a mesa-redonda “Onde pode atuar um doutor? mercado!” reuniu o coordenador do Núcleo de Biotecnologia e Biomimética, Radovan Borojevic, a diretora de Farmanguinhos, Núbia Boechat, e o professor de biofísica e fisiologia da UFRJ Antonio Paes de Carvalho, fundador e diretor da empresa de biotecnologia de produtos naturais Extracta, que atuou como mediador da mesa.

 

A maior parte dos doutores formados – 85% - prossegue carreira em instituições acadêmicas. Mas a atividade acadêmica não é – ou não deveria ser – o único caminho. Para Antonio Paes de Carvalho, faltam ao Brasil pequenas empresas tecnológicas que façam a ligação entre instituições científicas e a indústria. Ele explica que, nos países ricos, as grandes indústrias terceirizam as pesquisas para empresas menores, que empregam mão-de-obra oriunda das universidades, e colocam os produtos resultantes no mercado. “Nos Estados Unidos, as pequenas empresas tecnológicas são responsáveis por 80% da inovação do país”, exemplifica. “Se isso não for implantado no Brasil, daqui a 20 ou 30 anos continuaremos na mesma situação desfavorável. Sem as pequenas empresas tecnológicas, não seremos inventivos e nem inovadores, e ficaremos apenas publicando papers.

 

Segundo Paes de Carvalho, a produção econômica precisa da educação superior. “A ciência acontece através da tecnologia. A universidade não se tornaria vassala do sistema produtivo. Os dois setores não são inimigos. Essa é a grande realidade de qualquer economia”, diz. Paes de Carvalho aproveitou para dar dicas aos cientistas que estejam pensando em abrir uma empresa: “Além do sócio-técnico, que é o cientista, é preciso ter um sócio-gerente para lidar com o mercado e um sócio-capitalista para investir, porque se não houver capitalização não haverá bala na agulha.”

 

Paes Carvalho é um exemplo positivo de pesquisador que se tornou empresário. Sua empresa, a Extracta, é terceirizada pela indústria farmacêutica para fazer bioprospecção em biomas brasileiros e desenvolve análises em laboratórios instalados no pólo tecnológico Bio-Rio e na Universidade Federal do Pará. “Não somos donos da natureza brasileira, mas do que fazemos depois”, explica. Segundo Paes de Carvalho, 22% das espécies vegetais do planeta só existem no Brasil. “Estima-se que a biodiversidade brasileira valha mais do que US$ 2 trilhões por ano, mas isso não é um ativo, é um passivo que precisa ser desenvolvido para que chegue ao potencial pleno”, afirma.

 

O processo todo para se chegar a um medicamento custa, segundo o professor, cerca de US$ 800 milhões. Só a identificação de moléculas candidatas custa de US$ 3 a 4 milhões. Segundo Paes Carvalho, o Brasil é o único país do mundo onde não se pode patentear moléculas da natureza. “A Extracta patenteia no exterior”, completou.

 

Segundo ele, existem hoje cerca de 150 empresas de biotecnologia no Brasil, todas funcionando com capital privado. Ele sugere que os interessados em criar suas próprias firmas procurem a Fundação Bio-Rio ou a Associação Brasileira de Empresas de Biotecnologia para receber orientação.

 

Para o professor Radovan Borojevic, cuja atividade científica vem beneficiando pacientes cardíacos, é falso imaginar que todo doutor precisa se tornar gerador de conhecimento. “Ele pode se tornar um aplicador competente em instituições diversas. Esse perfil profissional também necessita de formação de alto nível e contato contínuo com acadêmicos. A sociedade brasileira precisa dos recursos humanos de alta qualificação que a universidade tem”, diz.

 

Segundo Núbia Boechat, Farmanguinhos, o instituto de tecnologia público em fármacos da Fiocruz, é um bom exemplo de como se estrutura o mercado de trabalho para doutores para apresentar o campo de trabalho num laboratório público. Ela destacou que há doutores em todo o processo de pesquisa, produção e comercialização dos medicamentos.

Integração pesquisa, ensino e sociedade: um desafio para o Brasil

Outro tema debatido no dia 18 foi “A integração pesquisa-ensino-sociedade”. Mediada pelo diretor-científico da FAPERJ, Jerson Lima, a mesa-redonda teve participação do professor Sérgio H. Ferreira, da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, da professora Jacqueline Leta, do Departamento de Bioquímica da UFRJ, do presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, e do advogado José Carlos Vaz e Dias, da Associação Brasileira de Propriedade Industrial (ABPI).

Sérgio Ferreira diferenciou os perfis do cientista e do inventor. O primeiro beneficia a educação, mas não necessariamente o país, e não cria obrigatoriamente uma tecnologia inovadora. O segundo inventa algo inovador, patenteia e beneficia o país com seu conhecimento dirigido.

 

Para ele, existe um preconceito de que a indústria não faz pesquisa de ponta. “Nos EUA, a indústria financia pesquisa básica, aplicada e desenvolvimento, e o governo dá benefícios nos impostos, entre outros. A transferência de conhecimento da universidade para a indústria não se dá por moto próprio. É preciso trabalhar conjuntamente a pesquisa nos pólos tecnológicos e nas indústrias”, afirma. Segundo o professor, existem dificuldades de relacionamento entre cientistas e diretores ou profissionais de marketing.

 

Eduardo Eugênio Gouveia Vieira disse que existe desconhecimento das duas partes: academia e indústria. “Uma não sabe como pode ser útil e a outra não percebe que pode melhorar com a parceria da universidade. É preciso descobrir interseções de interesses”, afirma.

 

A questão das patentes foi abordada por José Carlos Vaz e Dias, advogado da ABPI. Ele aconselhou enfaticamente que, antes de divulgar uma inovação, o cientista procure um advogado. “É preciso saber jogar nas regras do jogo. Proteja a sua patente”, recomendou. O advogado sugeriu que os cientistas procurem empresas dispostas a investir nas inovações e financiar as patentes no Brasil e no exterior.

 

 

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