Elena Mandarim
Divulgação/UFRJ |
Carmen Moura (D) observa a doutoranda Gabriela Monteiro
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Ainda não se sabe exatamente qual a função da NB, mas, segundo a coordenadora, sabe-se que, além de amplamente expressa no organismo humano, ela vem sendo apontada como fator importante nos mecanismos de ingestão alimentar e no controle do peso corporal. Entretanto, os dados apresentados pelas pesquisas até o momento são discrepantes, e foi a necessidade de informações mais precisas sobre a dinâmica da NB que motivou a realização desse estudo. "Os artigos que achamos trazem resultados antagônicos, e, por isso, sentimos necessidade de entender melhor a ação desse peptídeo no organismo", diz Carmen. "Com dados mais precisos e, portanto, mais confiáveis, podemos direcionar novos estudos que visem à prevenção da obesidade", complementa.
Sendo assim, o objetivo principal do projeto, que inclui o trabalho de doutoramento da aluna Gabriela Silva Monteiro de Paula, é buscar conhecer a ação da NB no organismo. Para isso, na metodologia usada, camundongos fêmeas normais e com deleção do receptor de NB foram mantidas em dieta normal ou dieta hiperlípidica – com alto teor de gordura para induzir a obesidade. O peso corporal e a quantidade de alimento ingerido foram mensurados três vezes por semana e após três meses de experimento, todos os animais foram sacrificados. Carmen explica que a deleção do receptor simula a inibição da proteína, logo, o método permite avaliar o desempenho do metabolismo energético na presença e na ausência da NB.
Resultados preliminares
Segundo a pesquisadora, o resultado mais significativo sugere que a ausência da NB diminui o acúmulo de gordura, sem inibição da fome. "Os animais com deleção do receptor, mantidos em dieta hiperlipídica, apresentaram ganho de apenas 19% no peso corporal, enquanto que os animais normais, mantidos nas mesmas condições, tiveram ganho de 55%, quase três vezes mais", conta Carmen.
Divulgação/UFRJ |
Animais normais (alto) engordaram quase três |
Os animais com deleção do receptor também se mostraram resistentes a outras alterações metabólicas, causadas pelo consumo exacerbado de gorduras. Comparando os grupos mantidos em dieta hiperlipídica, Carmen conta que apenas os animais normais tiveram intolerância à glicose, situação precursora da diabetes. Além disso, apresentaram maior concentração de leptina – hormônio produzido pela gordura, que em níveis normais promove a saciedade, mas em níveis elevados induz sua própria resistência, gerando um efeito inverso.
Para Carmen, outro resultado relevante é que a enzima hepática alfa-GPDm, cuja principal atividade está ligada ao gasto energético, se manteve em níveis normais nos animais com deleção do receptor mantidos em dieta hiperlipídica, enquanto nos animais normais, sob a mesma dieta, sua dosagem se apresentou diminuída. "Esse resultado sugere que, de alguma maneira, a ação da NB interfere no gasto energético, o que pode ser uma explicação para a resistência à obesidade dos animais com deleção do receptor", explica a coordenadora. Esses resultados, mesmo que preliminares, darão subsídios para direcionar novos estudos. "Agora, por exemplo, estamos buscando uma metodologia para elucidar em quais parâmetros a NB está relacionada ao gasto energético, a fim de buscar respostas para os resultados obtidos", adianta.
Hoje, a obesidade já é considerada uma epidemia mundial, origem de diversas alterações metabólicas – como hipertensão e diabetes – que aumentam o risco das complicações cardiovasculares, principal causa de morte no mundo. Logo, entender todos os mecanismos fisiológicos relacionados à obesidade dá recursos para avanços farmacêuticos e terapêuticos que visem sua prevenção. "Quem sabe, num futuro próximo, teremos conhecimento suficiente para produzir um composto inibidor de NB, que diminua o acúmulo de gordura", idealiza. Enquanto o sonho de se tornar "magro de ruim" não vira realidade, o melhor é manter a rotina de equilíbrio alimentar aliado à prática de exercícios físicos.
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