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Publicado em: 12/02/2010
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Pesquisa conta história do carnaval por meio de seus personagens

Danielle Kiffer

 Gospel Rio blogspot

       
      O uso da fantasia de bate-bola, segundo Felipe Ferreira,
      cresce a cada ano, virando expressão da cultura popular

O carnaval brasileiro é uma das festas populares de maior expressão mundial. Mas as fantasias e costumes dos foliões podem ter um significado que vai além da alegria. Trazem uma história que reflete a situação do país e da sociedade e suas mudanças ao longo do tempo. Com base em três personagens marcantes, o professor Luiz Felipe Ferreira, do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), analisa períodos diversos da folia carnavalesca: o índio de cordão, do final do século XIX; o malandro, que surgiu no início do século XX e marca o começo do fortalecimento das escolas de samba; e o bate-bola ou Clóvis, que representa o carnaval contemporâneo e sua evolução. Seu trabalho contou com o apoio do programa de Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa, da FAPERJ.

De acordo com Felipe Ferreira, o índio de cordão é um símbolo do carnaval da virada do século XIX para o XX, quando a imagem romântica e idealizada do índio heróico e puro era identificada com um nascente nacionalismo. "Na época, essa era uma fantasia bastante comum nas ruas do Rio. Havia cordões – os blocos da época – usando essa fantasia", conta o pesquisador. Analisando a vestimenta, geralmente composta por um saiote e uma coroa de penas, é possível perceber que a imagem reproduzida está bem longe da realidade da figura do índio brasileiro. "A roupa é uma construção do imaginário, das ideias do que o índio representa", afirma. 

Marcando outra época importante do carnaval brasileiro, surge o malandro, como um reflexo do movimento de valorização da cultura negra nos Estados Unidos, na década de 1920. "Nessa época, a cultura negra ganha prestígio mundial. Os negros americanos começam a se impor como grupo, recriando seu próprio conceito de elegância, com camisas berrantes, ternos brancos com calças e paletós maiores do que o normal. Isso acontece justamente na época em que o samba começa a se fortalecer no Brasil. Alguns sambistas brasileiros incorporam essa atitude como uma forma nova de se vestir", detalha. A partir daí, a imagem do malandro vai se espalhar e virar o símbolo das escolas de samba e irá se impor, nas décadas de 1930 a 1940 como importante expressão popular do Brasil, sendo inclusive exportado para o mundo inteiro. 

Divulgação/ICCA 

   

O cantor americano (à esq.) Cab Calloway
 e João da Baiana: semelhança entre
 vestimentas acentua influência da época

Uma personalidade que ilustra bem o malandro desta época é o cantor e compositor Cartola. "Como a maioria dos sambistas, Cartola era um típico malandro, que ganhava seu dinheiro fazendo bicos e compondo sambas. Mais tarde, ele conheceu Noel Rosa, e se tornaram grandes amigos. Noel Rosa subia o morro quase diariamente e passava horas ao lado do amigo. Ele adquiriu a poesia do morro, que fala do cotidiano. Cartola adquiriu a sofisticação e enriqueceu as palavras e expressões que utilizava em suas letras. Noel Rosa apresentou a poesia cotidiana e seu valor para seus amigos intelectuais, que passaram a valorizar mais aquela forma de canção. E Cartola, como o grande gênio que sempre foi, extrapola tudo ao longo de sua vivência e cria as grandes obras-primas que conhecemos", conta Felipe Ferreira.

Na atualidade, os bate-bolas, ou Clóvis, são os personagens que persistem. "Eles são inspirados no palhaço, incorporando atitudes agressivas, de assustar as pessoas, herdadas do carnaval europeu. Este é o objetivo da bola, que faz um estrondoso barulho quando bate no chão", explica. Quem pensa que as bolas sempre foram de plástico, se engana. Segundo Felipe Ferreira, desde seu surgimento na Europa, este acessório era fabricado com bexiga de boi ou de porco, cheia de ar e deixada secar até ficar resistente. "Acredito que a predominância de bate-bolas na Zona Oeste do Rio deve ter sido por conta do grande número de matadouros da região".

Com o tempo, esta fantasia passa a despertar o interesse de jovens, que formarão grupos rivais. Tudo isto detonará uma disputa física entre grupos de diferentes interesses, que evoluirá para uma disputa visual e de performances. “Eles começarão a se organizar, a formar grupos, a planejar suas roupas. Criam características diferentes e isto enriquece muito a fantasia. A cada ano, isto vai crescendo de maneira fenomenal, virando uma expressão da cultura popular, que reflete este processo”, destaca.

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