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Publicado em: 27/01/2010
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Tecnologia criada por estudante da Coppe ganha prêmio internacional

Vinicius Zepeda

Fotos: Divulgação/Coppe/UFRJ 

       
    Nova tecnologia criada por aluno da Coppe/UFRJ trará maior
    eficiência e rapidez na transmissão de dados entre celulares 
Nascido em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, e criado na favela da Grota – comunidade de baixa renda do subúrbio do Rio mais conhecida pelo baixo índice de desenvolvimento humano e o trágico assassinato do jornalista Tim Lopes por traficantes em 2002 –, Wallace Alves Martins é exemplo de como o estudo e uma boa orientação dos pais podem fazer pessoas romperem barreiras sociais e almejar um futuro melhor. Filho de pai serralheiro e mãe dona de casa, Wallace Martins atualmente cursa doutorado em engenharia no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). Em 2009, quando ainda cursava o mestrado, recebeu em Glasgow, Escócia, o prêmio Texas Instruments Student Paper Award durante a Conferência Europeia de Processamento de Sinais, a segunda maior do mundo nesta área. Dos 550 artigos apresentados na ocasião, apenas três, incluindo o dele, foram premiados. Seu trabalho, desenvolvido com apoio do programa Bolsa Nota 10 da FAPERJ, consiste numa nova tecnologia que possibilitará maior eficiência e velocidade na transmissão de dados em terminais de comunicação como celulares, por exemplo.

 

Segundo Wallace, que continua a desenvolver no doutorado o tema premiado, seu trabalho foi comprovar, por meio de simulação computacional, uma teoria levantada por cientistas da Malásia nos anos 2000, mas não testada até então. Segundo os cientistas, a tecnologia OFDM, que deverá ser empregada futuramente em transmissões de dados por celular e já é utilizada para TV digital e outros sistemas de internet banda larga sem fio, apresenta uma série de vantagens em relação às empregadas atualmente para este tipo de comunicação. Porém, ao transmitir dados, utiliza-se um tipo de informação que serve apenas para facilitar sua transmissão entre o aparelho emissor e o receptor e que depois é desprezada. “Estas informações ocupam um espaço que poderia ser utilizado para o envio de uma quantidade maior de dados na banda de transmissão. Para otimizar este tráfego de informações, desenvolvi, sob a orientação do professor Paulo Sérgio Ramirez Diniz, que continua a me orientar no doutorado, quatro metodologias que reduzem em até 50% o número de informações redundantes. Isso já havia sido sugerido pelos pesquisadores malásios mas não havia ainda sido posto em prática”, explica Wallace Martins.

 

A descoberta do engenheiro eletrônico Wallace vem sendo testada e aperfeiçoada por meio de modelos matemáticos que reproduzem em um programa de computador o comportamento específico desse tipo de transmissão. “Nosso objetivo é que, num futuro próximo, esta nova tecnologia possa ser utilizada para o envio de vídeos com maior resolução e imagem de qualidade similar à da TV digital. Além disso, usuários de sites como o You Tube, por exemplo, precisarão de bem menos tempo para receber um vídeo completo na tela de seu computador. “Este aumento de velocidade permitirá que o usuário avance e acesse qualquer parte do vídeo, do início ao fim, de forma bem mais rápida que a atual”, complementa.

 

O futuro doutor em engenharia elétrica destaca que o futuro da transmissão de dados sem fio aponta para a necessidade de novas tecnologias que suportem mais informações como voz, vídeos, textos e dados em geral. “A tecnologia de 3 geração (3G), implantada recentemente no Brasil, permitiu o acesso à internet banda larga pelo celular e melhorou a qualidade de músicas e imagens recebidas pelo aparelho. Provavelmente, em 2011, o mundo vai operar com o padrão LTE, que terá como novidade dados e voz, via VoIP, numa única rede. Daí a necessidade de maior velocidade e qualidade no envio e recebimento de informações”, complementa.

 

Uma trajetória de sucesso e determinação

 

       

   Para Martins, as pessoas não devem
   colocar limites naquilo que desejam
    

Wallace Martins recorda que, desde criança, sempre foi incentivado por seus pais a estudar bastante. Sua alfabetização foi feita numa escola no alto do morro, no Complexo do Alemão, onde fica a favela da Grota, onde mora. “Minha mãe não terminou o primeiro grau. Meu pai chegou a concluir o segundo grau, fez cursos técnicos em eletrônica, trabalhou na serralheria e hoje é caminhoneiro e estuda Autocad, um programa de computador utilizado por profissionais de engenharia e arquitetura, por conta própria”, recorda. “Quando era criança e adolescente e ia brincar na rua, meus pais não tiravam o olho de mim, tinha que brincar perto da vista deles. Hoje, vejo que este forte cuidado fez com que eu evitasse me envolver com más companhias, como infelizmente muitos colegas meus. Além disso, nas férias, ajudava meu pai na serralheria  e ele sempre me falava da importância de estudar. Por conta disso, tudo que estava ao alcance deles em termos de estudo eles me proporcionaram: curso de informática, curso técnico em contabilidade no Senac, cursinho pré-vestibular, entre outros. Só faltou o inglês porque eles não tinham noção da importância”, conta.

 

Quando concluiu o segundo grau em contabilidade, sonhava em seguir a carreira militar. Na época, seu pai tinha perdido a serralheria e virado caminhoneiro, o que fez o nível de vida da família cair bastante. “Tive que vender o computador na época para pagar o cursinho pré-vestibular para o IME-ITA (Instituto Militar de Engenharia e Instituto Tecnológico da Aeronáutica). No começo dos simulados, ficou entre os últimos colocados de 180 pessoas. Com esforço, chegou ao fim do ano entre os 20 primeiros e entrou na turma especial, mas não passou. “Sem perspectivas, fiz prova para o bolsão no curso e passei com bolsa de 100%. Isso foi em 2001. Em 2002, fiz a prova para cursar engenharia na UFRJ e passei para o segundo semestre. Até o quarto período estudava na UFRJ e trabalhava como monitor de matemática e física de cursos de pré-vestibular”, explica.

 

Mas foi no quarto período, quando conheceu o professor Paulo Diniz, que sua trajetória começou a ser desenhada. “Ele me chamou para ser aluno de iniciação científica em seu laboratório e eu larguei as aulas que dava no pré-vestibular. Ele foi determinante na minha carreira, pois sempre me incentivava e passava trabalhos remunerados extras para me ajudar. Até que, no quinto período, me passou um trabalho grande que precisava do computador. Como eu não tinha mais, ele me presenteou com seu laptop antigo”, recorda.

 

Em 2007, quando se formou, Wallace Martins teve a melhor média de todos os 63 alunos de engenharia da época e foi orador da turma. Já no mestrado, foi convidado a passar três meses como pesquisador visitante na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos. “Mas meu inglês era bem fraco e, então, o professor Diniz, meu orientador, me matriculou num curso intensivo de quatro meses. Assim, pude viajar e passar por esta experiência”, complementa. O futuro doutor em engenharia sonha em seguir a carreira acadêmica e se mostra entusiasmado com o prêmio, que numa futura prova de títulos deve ajudá-lo bastante.  Ele lamenta não conhecer casos parecidos com o seu na Grota e sonha em auxiliar as pessoas da comunidade a acreditarem mais em si mesmas. “Acho que não devemos colocar limites naquilo que desejamos para nossas vidas. Graças ao estudo tenho conseguido realizar muitas coisas, inclusive conhecer outros lugares, como os Estados Unidos, Europa, África do Sul e Taiwan, em congressos que participei”, conclui.

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