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Publicado em: 27/01/2010
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Cientistas criam novas linhagens de ratos para estudar ansiedade


Débora Motta

                                                                               Divulgação

   
   Rato durante experimento no labirinto em cruz elevado: reações
   de medo são gravadas e analisadas por cientistas da PUC-Rio
A ansiedade é um sentimento normal, que precede situações que envolvem mudança e riscos. No entanto, as pressões do mundo contemporâneo, como o desemprego e a incerteza profissional, contribuem para aumentar a incidência dos chamados transtornos de ansiedade – entre eles, o transtorno de ansiedade generalizado. Cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) desenvolveram, com apoio da FAPERJ, duas novas linhagens de ratos que estão sendo utilizadas como modelos experimentais que simulam esse transtorno em humanos.

Um dos objetivos dos experimentos realizados com ratos é desvendar os circuitos neurais responsáveis pela ansiedade no cérebro humano. "No Laboratório de Neurociência Comportamental (Lanec), desenvolvemos experimentos com modelos animais para mapear os circuitos neurais envolvidos não só no transtorno de ansiedade generalizado como também no transtorno do pânico", diz o professor J. Landeira Fernandez, do Núcleo de Neuropsicologia Clínica e Experimental (NNCE - http://www.nnce.org/ ), vinculado ao Departamento de Psicologia da universidade.

Ele constatou que as reações de ansiedade que os ratos apresentam aos estímulos contextuais, associados a choques elétricos, podem ser transmitidas através da herança genética. Após anos de pesquisa na PUC-Rio, o professor Landeira e sua equipe produziram, através de cruzamentos de ratos naturalmente mais ou menos ansiosos a esses estímulos contextuais, duas linhagens da cepa Wistar: uma geneticamente mais ansiosa e outra menos ansiosa. "Fizemos cruzamentos entre ratos e ratas mais ou menos reativos para verificar até que ponto essas características emocionais podem ser transmitidas para seus descendentes. Na terceira geração, eles já apresentavam características distintas. Agora, já estamos na oitava geração dos animais cruzados."

As duas linhagens de roedores foram batizadas de Cariocas com Alto Congelamento (CAC) e Cariocas com Baixo Congelamento (CBC). "Denominamos congelamento ou freezing a reação de imobilidade que os animais apresentam a esses estímulos contextuais previamente associados a choques elétricos", diz o professor. "As linhagens diferenciadas geneticamente permitem simular de forma mais verdadeira como o transtorno de ansiedade generalizado se expressa em seres humanos", completa ele, lembrando que a pesquisa já rendeu publicações relevantes no Brain Research e no Behavioural Brain Research.

As duas linhagens são criadas e mantidas no Lanec. Quando completam cerca de três meses de idade, são submetidas a diversos tipos de experimentos, que incluem a destruição ou estimulação elétrica das áreas neurais. A ideia é investigar como essas áreas estão organizadas e qual a sua real participação na origem do medo e da ansiedade. "Depois que realizamos a operação nos ratos, procuramos estimular reações de medo no animal com testes específicos, tais como o labirinto em cruz elevado, em que os ratos têm que andar por um caminho aberto, sem proteção lateral. Essas reações são gravadas e analisadas posteriormente, de forma detalhada", conta o pesquisador.

Divulgação 
    
 Professor J. Landeira: objetivo do estudo é
 desvendar os circuitos neurais da ansiedade 
Entre as áreas do cérebro pesquisadas, estão a substância cinzenta periaquidutal, o hipocampo dorsal e a amígdala, que se comunicam entre si e são responsáveis pela origem do medo e da ansiedade. "O cérebro, seja de seres humanos ou de animais superiores, como no caso dos mamíferos, é composto por neurônios que se conectam entre si, formando circuitos neurais. A forma como estes circuitos se comunicam produz toda nossa subjetividade e certamente dá uma assinatura individual às reações de defesa que animais apresentam aos estímulos do perigo", explica.

Entender o mecanismo que regula a ansiedade nos circuitos neurais representa um passo importante para desenvolver tratamentos mais eficazes para essas patologias. "Estas linhagens podem contribuir também para compreender melhor os mecanismos de ação de intervenções farmacológicas e psicológicas utilizadas para o tratamento desses transtornos", afirma o professor. "Muitas pessoas acreditam que não é possível testar intervenções psicoterapêuticas em modelos animais. Isso não é verdade. O procedimento de extinção, descoberto em experimentos com cães pelo fisiologista russo Pavlov, representa um dos principais procedimentos clínicos empregados para o tratamento de diversos transtornos de ansiedade", destaca.

Diversos experimentos com animais indicam que o córtex cerebral, região responsável por funções cognitivas, não participa da aquisição dessas reações de ansiedade, mas é fundamental para a sua extinção. Estes dados sugerem a importância dos processos cognitivos nos tratamentos psicológicos da ansiedade. "Calcado nestes resultados, estamos atualmente investigando se as linhagens de ratos CAC e CBC apresentam diferenças em relação à extinção das reações de ansiedade", afirma o professor.

O fato de se poder criar linhagens com uma maior reação de ansiedade não indica que essa emoção esteja completamente sob controle de variáveis genéticas. "Sabe-se, há algum tempo, que a forma pela qual reagimos a situações de perigo depende da interação entre aspectos inatos e aprendidos. Mais ainda, as interações com o meio ambiente durante os primeiros dias, no caso de ratos, ou meses, no caso de humanos, são fundamentais para um desenvolvimento emocional adequado", explica.

Baseado nesse conhecimento, o professor e equipe estão dando início a uma série de experimentos em que os descendentes da linhagem naturalmente mais ansiosa – CAC – serão estimulados diariamente, desde o nascimento até o sétimo dia de idade. "Acreditamos que esse procedimento poderá aliviar as reações de ansiedade que os animais deveriam apresentar durante a idade adulta. Estamos planejando também trocar os filhotes das mães das linhagens CAC e CBC. Através deste procedimento, conhecido como criação cruzada (cross foster), os filhotes das mães CAC serão criados pelas mães CBC e vice-versa. O procedimento permite separar a contribuição de fatores inatos e aprendidos na origem da ansiedade", conta.

Entre os pesquisadores que compartilham esse tipo de trabalho com o professor Landeira, estão os seus orientandos no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-Rio, Vitor de Castro Gomes, Bruno Galvão, Luciene Rocinholi, Érica de Lana Meirelles e Waseem Hassan. As linhagens vêm sendo também empregadas em estudos pela professora Patricia Franca Gardino e sua aluna de doutorado Gisele Pereira Dias, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), assim como pelo professor Antonio Pedro de Mello Cruz e seu aluno de doutorado Marcelo de Faria Salviano, do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Comportamento do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB).

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