O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Gordura saturada: a vilã da obesidade
Publicado em: 29/12/2009
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Gordura saturada: a vilã da obesidade

Elena Mandarim

 Divulgação/Uerj

           

              A doutoranda Mariana Catta-Preta e a orientadora
              e nutricionista Marcia Águila (à dir.)
 

Mesmo para quem tem pouco tempo na atribulada rotina do dia-a-dia das grandes cidades, já não é tão difícil ter uma alimentação saudável. Cada vez mais os restaurantes, e até os fast-food, estão oferecendo cardápios mais light. As estatísticas, contudo, continuam a indicar um número crescente de pessoas obesas na população. Uma epidemia que revela um quadro bem preocupante. Pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Marcia Águila afirma que o sobrepeso não é apenas uma questão estética, mas uma face da "síndrome metabólica", estado clínico que aumenta muito o risco das doenças cardiovasculares, uma das causas mais frequentes de mortalidade no mundo. Seu trabalho não só confirma estudos já feitos, mas demonstra, em animais de laboratório, o importante papel da qualidade das gorduras ingeridas para o sobrepeso: as saturadas levam a um aumento três vezes maior da massa corporal.

A nutricionista, contemplada pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, coordena pesquisa realizada no Laboratório de Morfologia e Morfometria Cardiovascular do Instituto de Biologia  Roberto Alcântara Gomes da Uerj sobre as consequências da relação entre as dietas com alto teor de lipídios (hiperlipídicas) e o acúmulo de gordura no fígado. O projeto, que inclui o trabalho de doutoramento da aluna Mariana Catta-Preta no Programa de Biologia Humana e Experimental, conta ainda com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O estudo visa investigar como os diferentes tipos estruturais de lipídios conhecidos atuam no acúmulo de gordura corpórea e visceral. Para isso, na metodologia usada, camundongos foram distribuídos em grupos, recebendo a mesma quantidade de alimento: um grupo controle recebeu dieta padrão (para roedores), com 10% de lipídios, e quatro grupos receberam diferentes dietas hiperlipídicas ("banha de porco", "óleo de oliva", "óleo de canola" e "óleo de girassol") que continham 50% de lipídios, simulando projeção do consumo real da população ocidental.

Para Márcia, o camundongo da cepa escolhida para os testes (C57BL/6) é um excelente modelo experimental. Ela explica que esses animais desenvolvem, tal como os humanos, obesidade, hipertensão (aumento da pressão arterial), dislipidemia (alteração nos níveis dos lipídeos) e resistência à insulina, que pode levar ao diabetes tipo 2, ou seja, reproduzem a síndrome metabólica.

Gordura: novos conceitos

No passado, acreditava-se que o tecido adiposo (camada de gordura abaixo da pele) era inerte, com função apenas de armazenamento do excedente de energia. Hoje, porém, já se sabe que ele é um órgão ativo. Suas células, os adipócitos, sintetizam e liberam uma variedade de adipocinas (produtos segregados pelo tecido adiposo, como a leptina, hormônio que induz à saciedade) e diversos hormônios. Essas substâncias atuam na regulação de áreas responsáveis por atividades comportamentais, metabólicas, cardiovasculares, reprodutivas e imunológicas.

A pesquisadora explica que o sobrepeso, em uma pessoa, indica que os órgãos internos estão envoltos em gordura, inclusive o próprio tecido adiposo. A gordura visceral libera substâncias (citocinas) que atuam como um corpo estranho. Inicia-se, assim, o processo inflamatório no tecido, o que desregula ou diminui suas funções orgânicas.

O aumento de peso é regulado pelo equilíbrio entre ingestão de alimentos e gasto calórico (específico para cada pessoa, dependendo da intensidade das suas atividades diárias). De acordo com uma dieta básica de 2.000kcal, uma pessoa gasta, em média, 80% só na manutenção das funções vitais (metabolismo basal, como, por exemplo, respirar, manter a temperatura corporal, circulação etc.). Essa energia é proveniente da alimentação. O excesso ingerido, portanto, é armazenado no tecido adiposo.

De acordo com Márcia, o consumo elevado de lipídios (gordura) é um dos principais responsáveis pelo desequilíbrio energético, que provoca a obesidade. O lipídeo é o alimento mais energético (9kcal/g) entre os macronutrientes (lipídios, carboidratos e proteínas). "Pelos resultados da pesquisa, a novidade é que a qualidade do lipídio é mais importante do que a quantidade ingerida", diz a pesquisadora.


Gorduras insaturadas: proteção cardiovascular

      Divulgação/Uerj
          

   No alto, quantidade de gordura abdominal em teste feito
   com camundongos: a partir da esq., grupo controle com
   dieta padrão; com dieta de gordura saturada; e com dieta 
   de gordura insaturada. Acima, comparação de adipócitos     
           


Ela explica que os animais que consumiram gorduras poliinsaturadas (óleo de girassol e óleo de canola) e monoinsaturadas (óleo de oliva) apresentaram um aumento de 6%, somente na massa corporal, quando comparados ao grupo controle. Já os animais que receberam gorduras saturadas ("banha de porco") apresentam uma percentual quase três vezes maior: o aumento foi de 17% no peso na mesma comparação.

Além dos lipídios insaturados não apresentarem muita influência no ganho de massa corporal, ainda atuam como proteção cardiovascular. A nutricionista revela que já coordenou outros estudos sobre o consumo desse tipo de lipídio, e as respostas obtidas indicaram a diminuição da pressão arterial e a proteção das estruturas cardíacas e hepáticas, diminuindo e revertendo os processos inflamatórios dos tecidos, desencadeado pelo sobrepeso. Na dieta humana, são encontrados principalmente nos óleos vegetais, como o azeite extra virgem, mas também em alguns alimentos, como milho, amendoim, peixes etc.

Entretanto, a atual pesquisa confirma aquilo que outros estudos já haviam demonstrado: que as gorduras saturadas são extremamente prejudiciais à saúde. Mas foi além ao indicar que elas são as grandes vilãs do acúmulo de gordura corpórea e, portanto, responsáveis pelo desencadeamento dos processos inflamatórios. A gordura causa o enrijecimento de estruturas celulares (membrana plasmática) e, consequentemente, provoca diminuição da taxa metabólica basal.

As gorduras saturadas estão presentes em muitos alimentos do consumo popular, como doces, salgadinhos, chocolates, sorvetes, frituras, carnes vermelhas, biscoitos industrializados, fast-food etc. A população em geral se alimenta mal, qualitativamente, e ainda ingere mais calorias do que precisa, quantitativamente. A nutricionista lembra que a recomendação é que uma pessoa consuma, em gorduras, no máximo 30% da sua dieta, e que, preferencialmente, faça escolhas pelos tipos de lipídios saudáveis, evitando as gorduras saturadas.

Márcia reforça que o grande vilão para a obesidade é o excesso na alimentação, somado ao sedentarismo e ao estresse. Se a população obesa não para de crescer, um tratamento relativamente simples pode ajudar a reverter essa tendência. "Um paciente com síndrome metabólica, independente do grau, pode reverter seu quadro clínico com perda de peso e exercício físico regular", assegura a nutricionista. Resta saber se os consumidores estão prontos para trocar de dieta e diminuir as horas no sofá da sala.

Confira nos links a seguir mais informações sobre a pesquisa: www.lmmc.uerj.br e www.bhex.uerj.br.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes